As percepções de um adulto que estuda as infâncias

Sabrina Moreira

No senso comum o Pedagogo é reconhecido como o profissional que atua nas salas de aula das instituições de Educação Infantil. Mas o mercado de trabalho do pedagogo é bem abrangente, podendo desempenhar funções em diferentes áreas de instituições públicas e privadas. E escolher a Educação Infantil extrapola a sala de aula. É o que o professor Rogério Correia da Faculdade de Educação nos contou durante uma conversa feita remotamente.

Para não dizer que ele foi pro óbvio, Rogério Correia, passou por diversas áreas. Atualmente, o pesquisador estuda a Educação Infantil e Infância. Formou em Pedagogia pela Faculdade de Educação da UFMG,  fez mestrado em Educação, onde pesquisou sobre televisão e infância, e no doutorado estudou as crianças Xacriabás. Atuou por 14 anos na rede municipal de educação de Belo Horizonte, onde lecionou aulas para ensino fundamental e educação infantil, teve passagem na Educação de Jovens e Adultos, mas sempre atuou na formação de professores. Participou também no Projeto de Implementação das Escolas Indígenas de Minas Gerais.

Ainda na graduação, onde participava de um Programa de Treinamento – PET da CAPES pesquisando produção de vídeos e a relação TV e escola,  foi convidado para lecionar em uma formação de professores de creche no Projeto Acontecer, organizado pelo movimento de luta por creches, em parcerias com colegas ofertava aulas na área de jogos e brincadeiras. Nesse momento ocorreu seu primeiro contato além da graduação com a educação infantil.

Em meio a isolamento social, evitando os encontro presenciais, conversamos remotamente com professor Rogério Correia. Ele fala sobre as infâncias de forma eloquente, mostrando seu vasto conhecimento sobre o tema.

Nessas três décadas de estudos e vivências sobre Educação Infantil e Infância, o pesquisador afirma que as infâncias são múltiplas. Esse período se conceitua em representações simbólicas. O Docente afirma que para entender o que é criança é necessário perguntar para uma criança o que é ser criança e entender as representações existentes. De maneira geral, as conceituações de infância é, muitas vezes, baseada em símbolos criados por adultos sobre a fase. De forma geral, as expressões giram em torno de proteção, liberdade, sociedade, família, afeto e brincadeiras.

“Criança também é um sujeito de voz” afirma Rogério. Nessa perspectiva, as crianças são consideradas seres sociais mergulhados desde cedo em uma rede social já constituída e que, por meio do desenvolvimento da comunicação e da linguagem, constroem modos peculiares de compreensão do real. As interações com diferentes indivíduos e espaços são fatores importantes dessa formação.

O estudioso levantou a relevância da escola para investigação das interações das crianças entre si e com os adultos, esse ambiente abre para a possibilidade para a percepção da vida social e das experiências individuais e coletivas. É importante salientar, que o espaço/tempo da escola de educação infantil se caracteriza como um momento no qual as crianças podem se encontrar com seus iguais além da sala de aula, expandindo para todos da instituição, abrindo possibilidade para vivência com diferentes idades. Em toda sua fala, percebe-se a importância que o pesquisador atribui para as experiências cotidianas.

As infâncias se modificam e reproduzem em seus variados tempos e espaços de acordo com as práticas sociais, declarou o pedagogo.  Ao passo que a criança vai se introduzindo no cotidiano, começa a entender as regras, normas, costumes e contextos, também começa agir sobre a natureza, cultura e história. Dessa forma, a infância é de suma importância para a sociedade. A vida dos adultos e das crianças se somam, afinal vivenciam e compartilham as circunstâncias, práticas e atividades sociais. O pesquisador expôs a particularidade que cada ambiente traz, por isso as múltiplas vivências proporciona à criança diferentes percepções.

Rogério traz a importância da família no dia a dia a criança. É junto com os familiares que a criança experimenta e dá início aos processos de desenvolvimento. A escola possibilita a expansão das noções prévias colaborando para o desenvolvimento do seu saber global. O ofício da escola é diferente do papel da família no que tange a formação da criança, entretanto uma e outra apresentam partes importantes para a formação da criança. É importante assegurar a relação escola e família em beneficio o desenvolvimento do aluno.

Esse relacionamento família e escola, no atual cenário de isolamento social, é bem evidenciado. Para o professor é análogo ao filme Sinais de  M. Night Shyamalan, onde os extraterrestre e humanos tem seus primeiros contatos e isso é algo novo para ambos os lados. Essa vivência das crianças apenas com seu círculo familiar é algo novo para todas as partes, tanto para a escola que nunca esteve nesse papel de distância, para as famílias que precisam mediar a educação em casa e para as crianças, que tem seu convívio restrito. Rogério afirma que  a forma de lidar com esse momento pode trazer novas experiências e aprendizados e salienta a importância da criatividade da família em propor brincadeiras e novas formas de ocupar o tempo.

O pesquisador se debruça a entender a educação infantil em suas diferentes facetas. Para tal, há um tempo participa do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Educação Infantil e Infância – NEPEI, um grupo que reúne mais de 10 pesquisadores em torno do estudos interdisciplinar das diversas áreas do conhecimento humano a fim de entender as infâncias e as crianças em seus inúmeros contextos, a família, as instituições formais e não-formas de educação, espaços culturais e de lazer.

O Núcleo atua em diferentes frentes, na pesquisa, na graduação em pedagogia, através do PIBID e por meio de outras atividades e disciplinas e na pós-graduação na linha de educação infantil. Oferece cursos de especialização e aperfeiçoamento. Participa do Fórum Mineiro de Educação infantil e o Conselho Municipal de Educação. O Grupo também responde a demandas específicas, como a avaliação do livro didático em que Rogério Correia já participou duas vezes. Além de publicações na área de educação infantil e infância.


Este conteúdo é fruto de uma parceria do projeto Pensar a Educação, Pensar o Brasil com a diretoria da Faculdade de Educação da UFMG para valorizar a produção de conhecimento da Faculdade, sendo no ensino, na pesquisa ou extensão.


Imagem de destaque: César Ogata / SECOMSP

 

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