As memórias de Hélio Benício sobre Grupo Escolar João Pinheiro de Ituitaba, Minas Gerais – Ana Ferreira e Betânia Ribeiro

As memórias de Hélio Benício sobre Grupo Escolar João Pinheiro de Ituitaba, Minas Gerais

Ana Emília Cordeiro Souto Ferreira

Betânia de Oliveira Laterza Ribeiro

O cenário escolar em Ituiutaba no início do século XX se inseria no movimento de reformas educacionais formalizadas a fim de erradicar o analfabetismo. Estados e municípios não contavam com orçamento suficiente para suprir a demanda por escolarização. Mas foi nesse contexto — e por causa de alguns princípios e questões político-sociais — que se configurou a universalização das primeiras letras, que constitui a questão prioritária nas preocupações do governo com a educação. Também nesse cenário começa a história do Grupo Escolar João Pinheiro escrita até este momento — enfocando seu significado no contexto histórico-educacional de Ituiutaba; e para isso o trabalho de Hélio Benício de Paiva foi central: possibilitou analisar o fazer pedagógico dessa escola, as práticas dos sujeitos que a compõem, as relações que ocorrem em seu interior, os conteúdos como instrumento de formação das séries iniciais e da educação infantil na formação da criança, as condutas e os ensinamentos como instrumentos de formação de dada sociedade. Também permitiu constatar que o grupo escolar se fez presente no contexto das famílias influentes, tradicionais e de poder aquisitivo alto — poucos alunos eram de classe social menos favorecida. Permeavam o currículo as transformações da escola primária. O currículo estruturava-se e desdobrava-se com base em padrões “estabelecidos culturalmente” como necessários para cumprir a finalidade social — civilizadora — que a classe hegemônica exigia da escola. Daí a inclusão de novos conteúdos e a exigência de atividades extracurriculares. A escola que emerge desse contexto tem função eminentemente formativa.

A história da introdução do grupo escolar em Ituiutaba — então Villa Platina — vincula-se à ação política de Tobias da Costa Junqueira, que exerceu o cargo de prefeito (agente executivo, à época), em 1905. Uma vez ciente dos assuntos a serem tratados em seu mandato, apontou o analfabetismo com um problema que devia ser atacados com urgência.

Das intenções de Tobias e seus sócios, surgiu o Colégio Santo Antônio, cujas atividades começaram sob a direção de Pedro Moscoso Salazar da Veiga. A princípio, abriu-se à escolarização de meninos e meninas; depois restringiu a matrícula àqueles. A metodologia presente era já diferenciada, pois o uso de palmatórias e castigos físicos não compunha mais as práticas disciplinares. Em um clima mais empático com os alunos, o currículo era voltado para uma formação dos princípios da moral cívica, humana e cultural. Escola tinha bancos coletivos com tábua inclinada, onde se apoiavam livros e cadernos. Lecionava-se de manhã para o primário; os demais níveis, à tarde.

Em 1905, a associação formada para construir o prédio do colégio o doou ao estado para ser instalado o Grupo Escolar de Villa Platina, inaugurado em 1910. Cada proprietário participou com uma cota na instalação do grupo escolar; a prefeitura fez as reformas indispensáveis e gastou quase nove mil contos de réis — mais que um terço de seu orçamento.

Após assumir o cargo de agente executivo, Fernando Alexandre se empenhou com Tobias e os demais na instalação de um grupo escolar no prédio do Colégio Santo Antônio. Como Tobias era sócio majoritário da associação proprietária, a cessão do prédio ao estado pressupunha a outorga dele. As fontes mostram que os contatos para a cessão ocorreram mediante cartas: 1ª) a proposição de Fernando Andrade, 2ª) a réplica de Tobias, 3ª) a tréplica endereçada ao “Coronel Tobias” em 5 de junho de 1908. Tobias estava de acordo com pedido, mas condicionava a cessão do imóvel à nomeação do professor Benedito Chagas Leite para diretor.

Hélio Benício de Paiva, filho do desembargador José Benício de Paiva e de Dhália Brigagão de Paiva, nasceu em São Sebastião do Paraíso, sul de Minas, em 7 de outubro de 1916, e veio para Ituiutaba em 9 de maior de 1943. Casou-se com Zaira Mamede Benício de Paiva, com quem teve sete filhos: José Benício, Virgílio, Dhália Maria, Virginia Isbela, André Luiz, Weber Antônio e Lueli. Formado pela Faculdade de Direito da Universidade de Minas Gerais, em 1942, foi inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em 20 de abril de 1943, sob o n. 2.320, seção de Minas Gerais, com uma brilhante carreira. Foi sócio efetivo da Sociedade Brasileira de Criminologia, conforme comunicação do presidente, Roberto Lyra, em 29 de agosto de 1985. Também foi Membro do Instituto Penal y Penitenciário Hispano-luso-americano, com sede na Universidade de Madri, segundo comunicação em 25 de abril de 1955, do presidente Juano Del Rosal. Professor da Cadeira de Direito Comercial da Faculdade de Direito de Uberlândia e da Cadeira de Instituições de Direito Privado da Escola da Administração de Empresa de Ituiutaba, foi eleito “Advogado do ano”, pela OAB/seção de Minas Gerais, em 1991. Publicou vários trabalhos jurídicos: “Que é uma faculdade de Direito”? — 1° Prêmio, em 1940, pelo Centro de Estudos Jurídicos, com sede em Belo Horizonte, MG; “É a profissão de advogado uma necessidade em todos os regimes políticos e econômicos” — 1° Prêmio da OAB/seção de Minas Gerais, em outubro de 1941; “Encíclica Rerum novarum e a atualidade de Leão XIII” — Prêmio da Faculdade de Direito de Minas Gerais, em 1942.

Ana Emília Cordeiro Souto Ferreira é doutora em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Analista educacional da Superintendência Regional de Ensino/Secretaria de Estado de Educação em Ituiutaba, MG. Professora da Secretaria Municipal de Educação, Esporte e Lazer de Ituiutaba.

Betânia de Oliveira Laterza Ribeiro é professora do curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal (FACIP/UFU) e do Programa Pós-Gaduação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia (UFU)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *