As eleições e os sentidos da educação no espaço público

As eleições e os sentidos da educação no espaço público

Em tempos de eleições, ao espaço público são lançados os mais diversos discursos de reforma do mundo social. Os diagnósticos mais ou menos tenebrosos sobre as diversas dimensões do nosso viver em sociedade sustentam e justificam propostas que, não raras vezes, reformariam o mundo para manter tudo como está!

Dentre os discursos que saturam o espaço público neste momento de eleições o que remete à educação escolar é, sem dúvida, um dos mais eloquentes e onipresentes. Na disputa pelas posições as mais diversas e vindos de todos os recantos do país, os  políticos falam da educação, defendem a educação, promovem a educação. Se a educação é a causa e o remédio de todos os nossos males o que é mesmo a educação?

Importa lembrar, inicialmente, que este “entusiasmo pela educação”, para usar a consagrada expressão de Jorge Nagle, não é novo. Ele  participou da fundação da nossa República e reverbera ao longo de nossa história. Sempre que se quer justificar as nossas imensas desigualdades sócio-econômicas, por exemplo, há alguém para lembrar que ela se assenta na falta de educação dos nossos trabalhadores e que, por isso mesmo, a educação é nossa única saída.

Nessa defesa entusiasmada da importância da educação, os discursos não são, evidentemente,  os mesmos. O que se observa é que há uma disputa pelos sentidos da educação no espaço público. Por debaixo da aparente homogeneidade, os discursos são instáveis, os sentidos são diversos e as racionalidades estão em conflito.   Por isso, não são discursos vazios. A retórica, só aparentemente vazia desses discursos produz representações que justificam e sustentam intervenções  em curso ou que, como sempre,  estão por ser feitas na educação.

É claro que seria querer demais que nossos políticos profissionais lessem  o Jorge Nagle! No entanto, talvez os  milhares de pesquisadores da área de educação pudessem contribuir para tornar o debate político sobre a educação mais esclarecedor. Se, infelizmente, as campanhas dos candidatos, capturadas pelas estratégias do marketing, não podem dizer coisas muito inteligentes  e, muito menos, complexas sobre o tema, resta-nos aumentar o diálogo com a população.

Disputar os sentidos da educação no espaço público é uma tarefa que se impõe a todos aqueles que se interessam pelo futuro  da democracia, pela constituição de um estado laico e pela contribuição da escola aos projetos de um país mais diverso, mais igual, mais desenvolvido e mais democrático. Nesta disputa está em jogo não apenas o reconhecimento das potências da educação escolar, mas também, em alguns casos, da sua impotência.

 Subverter o discurso de que a educação escolar é  a causa e a solução de todos os nosso males, demonstrando sua falácia e sua retórica interessada é uma tarefa que se impõe a todas as pessoas honestas nestes tempos de eleição. Mas, aos pesquisadores e profissionais da educação ela se impõe também para além destes tempos de tensionamento democrático do espaço público. A estes ela se impõe o tempo todo, inclusive como forma de liberar a educação escolar e, por conseguinte,  seus profissionais de uma responsabilidade que eles nunca poderão cumprir.  Resta saber se, como queria W. Benjamin, teremos coragem e disposição para escovar a história a contrapelo.

 

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