Aprendendo com a ansiedade e a depressão dos nossos filhos

Marcelo Silva de Souza Ribeiro

Este escrito vem a mim na condição de pai, de psicólogo, de pesquisador, de professor e de supervisor de estágio. Contudo, falar de e para os pais¹ que vivem situações onde seus filhos expressam ansiedade e depressão não são características que me tragam maior credibilidade. Não me julgo, assim, mais autorizado a abordar o tema ou tendo mais verdades sobre o assunto do que qualquer outro pai que não seja pesquisador, psicólogo…

Tendo esclarecido esse começo de conversa, quero frisar que meu foco será a condição dos pais, pelo menos algumas vivências encadeadas desses na relação com seus filhos em situação de depressão e ou ansiedade. E uma dessas vivências, pelo menos uma que considero importante, sobretudo em momentos que os pais se deparam mais explicitamente com o sofrimento emocional dos filhos, é aquele velho pensamento: “Onde foi que eu errei?”. Tal pensamento muitas vezes vem acompanhado de culpa, como se os pais tivessem o poder de antever, adivinhar e controlar todos os acontecimentos, inclusive os porvires dos filhos. É importante fazer a distinção entre culpa e responsabilidade, esta última é outra coisa. Os pais são realmente responsáveis por seus filhos, naquele sentido de assumir obrigação de responder pelas ações, mas a culpa é querer, no fundo, ter um poder de ter feito algo que não lhes cabe, além de não ajudar em nada.

Uma outra vivência encadeada a essa da culpa tem a ver com a condição mesma de ser pai/mãe/cuidador. Essa condição lança o sujeito sempre para um horizonte de inesperados, inusitados, imprevistos e imponderáveis, como a questão da ansiedade ou depressão dos filhos, ou seja, por mais que os pais busquem formações e informações para se constituírem como bons e bem preparados pais, parece haver sempre algo que escapa. A própria experiência da condição de ser pai na relação com os filhos contribuirápara a produção de respostas às demandas inesperadas, ao imponderável…

Isso significa que a valorizaçãoda relação pais e filhos é uma abertura para aprender a ser pai/mãe/cuidador, de modo que a própria relação com os filhos é formativa, mas não quer dizer que os pais não devam buscar ajuda, ler, trocar experiências. O importante, portanto, é não cair na ilusão de que sempre os pais vão ter respostas para tudo. Para muitas das respostas, talvez as mais cruciais, os pais terão que produzir na própria relação com seus filhos.

Dito essas palavras, quero finalizar dizendo que me coloco também na posição de testemunha, seja como pai, professor, psicólogo… testemunhando a minha própria formação (de ser pai, professor, psicólogo…) na relação com meus filhos (em certa medida isso cabe também para as relações com os alunos). Dou-me conta que as vezes não consigo produzir respostas dialogantes e isso me demanda aprender a ser alguém melhor. Penso que ser pai é um aprendizado permanente e que a gente aprende mais na relação mesma com os nossos filhos. A ansiedade e ou a depressão dos nossos filhos pode nos ensinar a ser pais melhores.

¹Usarei a palavra “pais”, mas não estou restringido ao pai, mas fazendo referência a todas e todos que assumem, de alguma forma, a condição de cuidadores com um outro que está num lugar de “filho”.


Imagem de destaque: Andrik Langfield / Unsplash

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