Anísio Teixeira: um breve convite

Regina Aparecida Correa

Quem foi Anísio Teixeira? Esta é uma pergunta que ouço frequentemente de colegas, professores ou não, e até mesmo de outros sujeitos em alguns eventos científicos ao discutir meu trabalho de conclusão do curso de Pedagogia, cuja investigação estava voltada a esse intelectual.

Episódios como estes me fazem pensar por que Anísio Teixeira, um dos maiores educadores do século XX, que merece atenção acadêmica por sua produção intelectual e pela atuação nos cargos públicos que assumiu no decorrer da vida, não se tornou tão conhecido e admirado como tantos outros intelectuais brasileiros.

Pensando nisso, resolvi escrever este texto que é, na verdade, um convite aos leitores a conhecerem um pouco as ações e a vida deste educador, bem como toda a sua representatividade para a educação brasileira.

Nascido em Caetité, na Bahia, em 1900, filho do coronel Deocleciano Pires Teixeira, e Ana Spínola Teixeira, Anísio Spínola Teixeira frequentou desde cedo os colégios jesuítas, o que fez com que, influenciado pelo catolicismo, sentisse o desejo de entrar para a Companhia de Jesus. Não obtendo o consentimento de seu pai que queria vê-lo como um influente político, foi enviado ao Rio de Janeiro, onde ingressou na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro.

Já bacharel em Direito, Anísio retorna à Bahia em 1924 para pleitear uma vaga de promotor público junto ao governador Góes Calmon, quando recebe o convite para assumir o cargo de Inspetor Geral do Ensino da Bahia. É neste momento que inicia suas leituras sobre a educação, realizando posteriormente viagens à Europa e aos Estados Unidos a fim de estudar e conhecer os sistemas escolares de outros países.

À frente da Diretoria da Instrução Pública do Distrito Federal, Anísio Teixeira tornou-se, em 1932, ao lado de Fernando de Azevedo e Lourenço Filho, signatário do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Este manifesto apresentava um projeto de reconstrução educacional, destacando o problema da educação como o mais grave entre os problemas brasileiros.

No Distrito Federal, entre diversas ações, criou a Universidade do Distrito Federal, transformou a antiga Escola Normal em Instituto de Educação e ampliou o número de matrículas.

Foi o Primeiro-Secretário Executivo da UNESCO, atuando como Conselheiro de Ensino Superior; Secretário de Educação e Saúde da Bahia, onde construiu o Centro Popular de Educação Carneiro Ribeiro, conhecido como Escola-Parque, uma experiência de educação integral que se tornou um modelo para a criação dos futuros CIACs (Centros Integrados de Atendimento à Criança) e CIEPs (Centros Integrados de Educação Pública).

Anísio Teixeira teve forte participação nas discussões acerca da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei nº 4.024/61; assumiu a Secretaria Geral da Campanha de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, transformada por ele em órgão – CAPES, e foi diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos – INEP.

Durante a direção do INEP, que em 2001 recebeu seu nome em homenagem ao trabalho desempenhado – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – criou o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE) e os Centros Regionais de Pesquisas Educacionais em Belo Horizonte, Salvador, Recife, Porto Alegre e São Paulo. O objetivo destes centros era realizar estudos sociológicos, antropológicos e históricos sobre a sociedade brasileira.

Anísio Teixeira foi ainda um dos maiores idealizadores da Universidade de Brasília, sucedendo a Darcy Ribeiro na reitoria da universidade em 1963, e comprometendo-se com a pesquisa e a formação de professores.

As ações empreendidas durante sua trajetória foram marcadas pela luta em prol de uma escola de qualidade, laica, gratuita e obrigatória, que atendesse igualmente a elite e o povo.

No entanto, suas ações não agradavam a todos, e em março de 1971, seu corpo foi encontrado no fosso de um elevador no prédio onde morava Aurélio Buarque de Holanda, no Rio de Janeiro, após três dias de desaparecimento. Embora a versão oficial tenha sido a de um acidente, para a família há fortes indícios de que ele tenha sido morto pela repressão, considerando as perseguições sofridas durante sua atuação no INEP, com diversas tentativas de destituí-lo desse cargo, assim como da reitoria da UnB.

Em 2012, foi constituída a Comissão Anísio Teixeira de Memória e Verdade da Universidade de Brasília, cujo objetivo era promover a memória e garantir o acesso à informação acerca dos direitos humanos violados entre 1964 e 1988 pertinentes à UnB. Contudo, por meio dos documentos analisados não foi possível concluir se Anísio Teixeira foi morto em decorrência de um acidente no elevador, assim como não foi possível concluir que tenha sido morto pela repressão.

A trajetória, assim como a atualidade das obras de Anísio Teixeira, revelam o caráter visionário deste intelectual, certamente um dos maiores do século XX, que merece ser lido e discutido dentro e fora da academia.

Mestranda em Educação pela Universidade Federal de Ouro Preto e Técnica em Assuntos Educacionais da Universidade Federal de Alfenas.

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