Alienação docente – exclusivo

 Tiago Tristão Artero

Pensar a prática docente exige reflexão acerca da concepção de ser humano. Dimensão intrínseca àquele que conduz a ação pedagógica.

Além dos conteúdos da área de atuação que é o foco da temática da aula, em uma perspectiva multidisciplinar, ou seja, separada por disciplina, é primordial considerar de que maneira o educador acredita que o educando aprende.

Para tanto, não é preciso ser especialista em neurociência para ter domínio dos tipos de memória e atenção, bem como do funcionamento do cérebro de forma detalhada; nem mesmo ser um exímio filósofo que observe com destreza de um ponto de vista crítico a sociedade e as relações contextualizadas; o bom senso ainda diz que não é condição fundamental dominar completamente os pilares nos quais a ciência se assenta e as prerrogativas cartesianas de pesquisa. Porém, como desprezar tais dimensões?

Fatidicamente, faz diferença o(a) professor(a) saber se as competências e capacidades advém de elementos inatos?

Há distinção entre o(a) professor(a) que percebe o aluno em uma perspectiva interacionista ou behaviorista?

Qual base epistemológica rege o conhecimento daquele que programa, elabora e executa a ação educativa?

Estariam estes pressupostos baseados em conceitos positivistas? Seria o educador alguém que mensura e descreve seu aluno e todo o processo educativo? Utiliza-se da observação externa para identificar o contexto a partir das explicações dos fatos ocorridos em sala de aula e no ambiente escolar?

Assentam-se as práticas do(a) professor(a) em conceitos fenomenológicos? Diferentemente do positivismo que analisa o fato, busca-se compreender por que determinado fenômeno ocorre.

Manifesta a dialética na atuação docente? Parte do sincretismo para uma síntese decorrente da reflexão proveniente do pensamento dialético? Explica o mundo ao nosso redor a partir de uma visão que prima a matéria e o concreto em detrimento do idealismo?

Indica conceitos estruturalistas nos momentos advindos dos processos pedagógicos? Percebe, assim como Nietzsche ou Foucault as múltiplas percepções de poder, classe e cultura?

Utiliza-se da hermenêutica para perceber o processo interpretativo, não somente da linguagem escrita, mas nas outras formas de linguagem, sobretudo citados pela semiótica? Procura compreender determinada mensagem a partir do processo interpretativo?

Valoriza o ensino propedêutico no contexto escolar, pensando na futura formação, sobretudo no ensino superior?

Mais do que perceber o conhecimento e a aprendizagem como possibilidades de única expressão, cabe utilizar-se de um olhar multidimensional que contribua para a compreensão de um pensamento complexo. Para resolver essa questão, contribui Morin (2006) ao dizer que “os modos simplificadores de conhecimento mutilam mais do que exprimem as realidades ou os fenômenos de que tratam, e torna-se evidente que eles produzem mais cegueira do que elucidação”.

No entanto, não seriam os questionamentos levantados anteriormente aspectos primordiais para uma reflexão sobre a atuação/formação dos(as) educadores(as)?

Poderiam os(as) professores(as) serem privados deste tipo de reflexão e atuarem na carreira docente sem um conhecimento de causa que permita analisar a própria prática?

A percepção analítica promovida pela visão científica não exclui a necessária consideração dos elementos ético-normativos das áreas humanas. A atuação pedagógica que não considera a existência de dimensões diretivas e não-diretivas, ou ainda, de concepções de ensino críticas ou acríticas, está fadada à alienação promovida por objetivos estritamente voltados para a formação de uma mão-de-obra que não reflete e que não supera paradigmas, como nos lembra em várias obras, o professor Saviani, ao analisar a escola como aparelho ideológico.

Longe de imaginar que a atuação pedagógica se dá puramente dentro de uma concepção, é preciso fazer com que os(as) professores(as) aproximem-se das características presentes nas abordagens que estão colocando em prática. Respeitar a atuação do(a) professor(a) – em sua manifestação tecnicista, construtivista, histórico-crítica, libertadora, tradicional, libertária, ou alguma outra que se queira categorizar – é razoável, desde que ele(a) saiba dentro de qual contexto está inserido e sob quais pressupostos atua.

É válido pensar que uma sociedade irá se desenvolver (diferente de “inchar” devido às relações humanas e os processos econômicos necessários para manter o sistema atual) a partir da evolução de seu componente principal: o ser humano.

Buscar combater a alienação pode não ser um objetivo de quem está no topo da pirâmide do poder, mas deve ser uma batalha travada pelos(as) professores(as) diariamente.

O que ocorre é que nas formações docentes, geralmente, não se fala de concepção de ser humano e não se fala de tendência pedagógica. Para completar o processo de alienação, nem mesmo se fala de aprofundar conteúdos específicos de determinada área, que permitiriam ao ser humano ter contato com o que foi acumulado no decorrer dos séculos. Há, infelizmente, primazia no falso conceito de que os alunos precisam “aprender a buscar o conhecimento”, como se um referido aluno, com poucas oportunidades de desenvolver o saber erudito, fosse interessar-se por conhecimentos específicos, dos quais nem mesmo teve contato.

Dessa forma, a ciência contribui para a humanidade à medida que amplia a visão de seus sujeitos sociais. Saber tudo de um pouco não resolve a necessidade obter uma visão multidimensional que permita não olhar somente o grão de areia, mas a praia toda e, quem sabe, o mar.

Para encerrar, a certeza de que professores(as) alienados formarão alunos e cidadãos alienados é um fato que se consuma cada vez mais, potencializado com a sensação de que não é preciso memorizar/aprender, já que o conhecimento está disponível sempre. Então: diga isso para um violinista que terá que pesquisar cada nota entoada em uma orquestra de desafinados.

http://www.otc-certified-store.com/respiratory-tract-medicine-usa.html https://zp-pdl.com/apply-for-payday-loan-online.php https://zp-pdl.com http://www.otc-certified-store.com/eye-care-medicine-usa.html

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *