Acabemos com a escola – Tentativa 4

Dalvit Greiner

“Tem dinheiro para a milícia mas não tem para educação”. Este slogan dos tsunamis da educação dos anos passados tem se feito valer neste 2020 de governadores acossados pelo revólver dos militares, praças de baixa patente usados pelo oficialato. Ou seja, a barbárie chegou incentivada pelo presidente da república e alguns governadores, todos inexperientes e incompetentes. E para que se atenda ao revólver nossos governantes vem quebrando o lápis. Para manter uma polícia, massa de manobra, pois não lhe investem em educação – formação em serviço não é algo apenas para professores -, nossos governantes tiram o dinheiro necessário aos outros serviços públicos.

Essa estratégia estúpida aponta uma luta entre a civilização e a barbárie. Na medida em que um governador, ou melhor, uma sociedade, valoriza mais e mais o papel de quem pune do que daquele que educa, vai demonstrando o desespero dessa sociedade em relação à sua manutenção enquanto projeto civilizatório. É o oposto da barbárie que se apresentava antes do surgimento do Estado coletor/distribuidor de riquezas. Esse Estado que se apresenta hoje no Brasil é aquele mesmo Estado coletor que não distribui as riquezas produzidas por seus cidadãos, concentrando-as nas mãos de poucos e distribuindo migalhas a policiais para conter a turba. Turba que é a verdadeira produtora de riquezas, que paga o policial. Portanto, é um Estado que promove a barbárie.

Porém, aqui cabe uma ressalva: nenhum projeto civilizatório busca incluir todos, mas apenas um grupo e a maneira como esse grupo vai se comportar em relação ao outro é sempre violenta. Por isso precisa de militares. Mesmo assim, a palavra civilização – que na verdade nos remete àquele que vive uma vida civil, na civitas, portanto, na cidade – é a possibilidade de uma vida regrada, com normas consensuadas que devem ser aprendidas na escola. Por isso, se quisermos uma civilização, mesmo com todas as contradições que ela apresenta, devemos apostar na escola como a promotora desse modo de viver.

Porém, o que vemos é mais uma tentativa de acabar com a escola. Os ricos – não apenas a burguesia, mas também os seus gerentes, a classe média portadora de conhecimentos – optaram por isolar seus filhos e filhas em escolas no exterior ou até mesmo em centros de excelência por aqui mesmo. Portanto, para eles a escola pública é um excesso, um coisa absolutamente desnecessária, principalmente na medida em que absorve recursos que deveriam “pagar” o que lhes deve o Estado.

Mas, para isso é preciso uma grande sutileza que não vêm tendo nossos governantes. O dinheiro da polícia já é suficientemente alto em relação à educação. A diferença salarial na entrada do serviço público entre um policial, que cursou apenas o ensino médio, e uma professora, que cursou o curso superior, no Estado de Minas Gerais, é de três vezes. Se atentarmos para a quantidade de horas de trabalho, a diferença cai para duas vezes e meia. Segundo dados dos últimos editais o salário de ingresso de um policial em Minas Gerais é de R$ 3.278,74 por trinta horas e ensino médio; para uma professora é de R$ 1.982,54 por vinte e quatro horas e ensino superior. Ou seja, maior investimento menor salário.

Ah, bom! E os riscos? Como assim? Se o público é o mesmo, a periferia das cidades, supõe-se que o risco é o mesmo para ambos os profissionais. Porém, o talento de professoras e professores para o diálogo, para o cuidado, para o ensinar a viver uma vida coletiva e sem violência é muito maior. Portanto, o que nossos atuais governantes tem feito é optar pela barbárie. Por isso e para isso, querem acabar com a escola.


Imagem de destaque: Armandinho

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