A Reunião de Pais: farsa que vira tragédia – exclusivo

Oncotô?

Proncovô?

(Dito em Minas, desde sempre)

Dalvit Greiner

 

24 dias de usurpação de um governo eleito pelo povo.

Reunião de Pais na Escola pública para mim parece uma piada. Deveria ser uma coisa séria. Muito séria, por sinal, mas como ela sempre se repete, trimestralmente, a farsa vai virando tragédia e vice-versa. Todos perdem oportunidades incríveis de melhorar a escola. E quando digo todos, falo da secretária ou secretário de educação até o estudante mais novo da rede de ensino. É uma oportunidade ímpar de diálogo com a Comunidade que a Escola perde, no mínimo, três vezes ao ano.

A convocação – nunca um convite – é feita visando os pais daqueles estudantes que aparentam não ter pais, nunca o contrário. Como é uma convocação, o texto vai tomando um ar de ameaça. Como os professores e professoras vão adiantando as notas (assim mesmo, é nossa educação bancária de volta), os estudantes já sabem que a reação dos pais não será boa. Assim vão sonegando a informação da reunião para os pais. Quando a família, por um acaso fica sabendo da reunião, ela aparece, meio desconfiada de estar na escola no dia errado. Mas, vai lá para conferir.

Então, o que deveria ser um convite para um processo educativo com os pais e/ou responsáveis vira uma ameaça. Aquela educação à distância que a escola poderia promover em relação a família se perde já nesse primeiro contato. Não existe nada menos sedutor na Escola do que uma CONVOCAÇÃO PARA REUNIÃO DE PAIS. Aliás, é um gênero textual que deve ser debatido na escola. A convocação tem uma estética gráfica própria. Em letra bem miudinha, geralmente corpo 12 e fonte Times New Roman, parece que a convocação é feita para não ser lida por ninguém. Nem mesmo pelos alunos. Imagine um pai e/ou responsável que, como eu, tem mais de quarenta, mas que ainda não tem um par de óculos porque, em geral, não precisa ler o tanto que a gente lê. É uma lição de economia de papel e tinta que só acontece nesse momento. Com tanto papel gasto na Escola não custa pensar um papel e uma letra maiores. Por fim, como é uma convocação, deveria vir com algumas marcas do poder público, a marca da escola e do gestor, a prefeitura ou o Estado. Mas, sequer vem com a assinatura de quem convoca. Quem convoca? Ah, é a Escola. Qual escola?

No dia marcado aparecem os pais. Os pais também têm um ritual de chegada. Chegam tímidos, desconfiados como se estivessem chegando num ambiente desconhecido, inóspito. Não reconhecem a Escola em que os filhos e filhas estudam. Estiveram lá no dia da matrícula e só agora foram convocados. Quem chega no horário são os pais daqueles estudantes considerados bonzinhos. Aqueles que, segundo o corpo docente, não precisavam vir. (Ora, mas não foi uma convocação?) E, por incrível que pareça, mais uma vez perde-se uma oportunidade de dialogar com os pais. Algumas escolas expõem os trabalhos dos estudantes. Outras, nem isso. Nada na escola convida ao aprendizado. O pai e/ou responsável quer, então, dar o fora dali o mais rápido possível. Pegar o resultado (é, nossa educação bancária tem resultado, uma espécie de lucro líquido ou prejuízo, nunca empate) e ir embora o mais rápido possível, pois nada nem ninguém o recebe nem o convida a permanecer naquele local.

Nos rituais da Escola a Reunião de Pais é uma obrigação. É um dia letivo no calendário escolar e, portanto, deveria haver aprendizado para todos os envolvidos. Sendo um dia letivo ele deve ter um planejamento pedagógico e uma didática própria que conduzisse a algum conhecimento. No conjunto, o que deveria ser uma aula cujo primeiro objetivo, creio eu, é democratizar a escola transforma-se numa farsa, na medida em que isso se apresenta como um ato democrático da escola. Uma farsa no seu mais puro sentido teatral, uma caricatura da escola que não conduz a nenhuma crítica nem à busca de nenhuma outra proposta. Nem mesmo o elogio necessário do muito que se tem feito pela educação dos meninos e meninas. É uma pequena tragédia. Para ilustrar, um pai, olhando a arquitetura da escola, observou que atrás das portas não dá para fazer um cantinho do castigo. Achou uma pena não ter, mesmo depois de explicar-lhe que não se educa assim mais.

Assim, com nossas reuniões de pais, convocadas para entregar resultados, vamos negligenciando possibilidades de uma escola verdadeiramente democrática. Afinal de contas, neste mundo de todo mundo perdido, a Escola pode e deve ser uma referência: lugar de culto e cultura. Onde eu estou? Para onde vou? Cobramos tanto das famílias e não as acolhemos quando nos vêm? É assim que queremos nos tornar uma Democracia?

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