A poética dos fragmentos: a escrita como A fonte da autoestima em Toni Morrison

Alexandra Lima da Silva

A palavra escrita foi a fonte de realização para Toni Morrison. A partir de fragmentos e com muita imaginação, Toni Morrison construiu outras narrativas para mulheres negras historicamente silenciadas e sub-representadas nas artes, na literatura e nos livros de história. Toni Morrison também sentiu na pele as dores do racismo, do sexismo e das opressões de gênero, raça e classe nos Estados Unidos.

O livro A fonte da autoestima é uma oportunidade para compreender os desafios e a importância das obras literárias como um caminho para construir outras narrativas, e romper silêncios, apesar da confissão de nutrir “uma dependência, sólida e contínua, da história, em parte por buscar informações, mas sobretudo, por buscar precisamente aquelas lacunas, aqueles apagamentos, aquela censura”. É nos interstícios da história registrada que frequentemente encontro o ‘nada’ ou o ‘não obstante’ ou a informação ‘indistinta’, ‘incompleta’, ‘desacreditada’ ou ‘enterrada’ que me interessa”.

De forma honesta e franca, Toni Morrison nos brinda com os bastidores do processo de construção de obras-primas como O olho mais azul.  Inspirada em suas recordações de infância, o primeiro livro de Toni Morrison explorou um universo que ela conhecia bem: os desejos e angústias de “jovens negras e vulneráveis”, as quais estavam completamente ausentes dos textos de história e de literatura. Como historiadora de formação, tendo a concordar com Toni Morrison quando ela afirma que:

“Por mais que a análise histórica tenha mudado (e mudou enormemente) e se tornado mais abrangente nos últimos quarenta anos, os silêncios sobre certas populações (minorias), quando finalmente articulados, ainda são entendidos como relatos suplementares de uma experiência marginal; um registro suplementar, dissociado da história oficial; uma nota de rodapé expandida, por assim dizer, que é interessante, mas de pouca centralidade no passado da nação”.

A fonte da escrita em Toni Morrison é o silêncio, habitado por imaginação e experiência. Foi a lembrança de uma menina negra que desejava ter olhos azuis o pedaço que deu início ao primeiro romance da escritora. Já o aclamado Amada nasceu do encontro da autora com um recorte de jornal, um fragmento a respeito de uma escravizada de nome Margaret Garner. E Toni Morrison foi também uma colecionadora de pedaços:

“Os pedaços (e apenas os pedaços) são o que começa o processo criativo para mim. E o processo pelo qual junto esses pedaços até que eles formem uma parte é criação. Memória, então, não importa quão diminuto seja o pedaço lembrado, exige meu respeito, minha atenção, minha confiança”.

O livro A fonte da autoestima traz ensaios, discursos e reflexões, nos quais, de forma sincera, a autora nos convida a ter consciência do lugar que ocupamos no mundo, de modo que sejamos seres humanos humanitários. Somos, afinal, os habitantes morais da galáxia. “Por que macular essa obrigação magnífica depois de labutar tanto no ventre para assumí-la”?.


Imagem de destaque: Cia das Ltras / Divulgação https://zp-pdl.com/emergency-payday-loans.php zp-pdl.com www.zp-pdl.com

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