A Pedagogia da Faca

– a propósito da morte do jornalista Paulo Henrique Amorim-

Matheus da Cruz e Zica

Nessa quarta-feira, dez de julho de 2019, o jornalismo brasileiro acordou menos afiado.

Um pequeno vídeo com duração de alguns segundos se repetia incessantemente na grande rede. Em pequena sequência de imagens se via Paulo Henrique Amorim sorrindo, afiando uma faca – evidentemente propagandeando seu canal de grande sucesso no Youtube: o Conversa Afiada. Apesar do riso, o brilho e o tinir do aço do cutelo ao mesmo tempo refletiam com seu clarão a mensagem inequívoca da ameaça.

Sua gargalhada era de fato castradora, seu deboche era cortante, e seus aparos tinham alvo certo: sua faca discursiva sempre procurou deixar em frangalhos o silêncio da grande mídia vendida (por ele chamada de PIG, Partido da Imprensa Golpista)em relação às atitudes de abuso de poder, de conivência com o acúmulo de renda nesse país historicamente desigual, de limitação da liberdade de expressão, e de entrega das riquezas nacionais.

A pedagogia de PHA era a pedagogia da faca. A faca do discurso cortante. De estilo um tanto aristocrático no modo de se vestir, em sua bilbioteca imponente – de onde gravava a maioria de seus vídeos –, talvez achasse um disparate essa relação que proponho entre sua pedagogia e a de outro adepto dessa pedagogia. Referimos-nos a Belchior, sendo ele de estilo muito mais próximo do “povão”, que em 1976 exaltava em sua canção intitulada A Palo Seco: “E eu quero é que esse canto torto, feito faca, corte a carne de vocês!”.Outro adepto da pedagogia da faca no campo da boa MPB é Milton Nascimento, conforme eternizou em sua célebre canção: “Faca Amolada”.

Um grande legado o dessa pedagogia: o ensinamento do discurso forte, atrevido, afiado contra os poderosos. Uma herança de coragem não só para a imprensa brasileira, mas para todos aqueles que semana a semana ansiavam por assistir um novo vídeo afiado. Com suas lâminas também se defendeu como pôde dos inúmeros processos e da perseguição que sofria nos últimos anos de seus adversários, partidários dos golpes de ontem e de hoje, até chegar ao cúmulo de seu afastamento do programa Domingo Espetacular no mês passado.

Infeliz e sombria coincidência: foi sepultado na mesma semana em que jazeram nossas aposentadorias. As botas do arbítrio soam um pouco mais alto agora.

Mas em nosso favor podemos dizer hojeque Glenn honra sua luta por um jornalismo de gume afiado, em atitude de prontidão pela defesa dos interesses do povo. É a ironia de um americano ser hoje o maior patriota brasileiro.


Imagem de destaque: Reprodução/Facebook

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