A paciência é uma virtude democrática – exclusivo

Dalvit Greiner

Norberto Bobbio (1909-2004) elencou como uma das promessas não cumpridas da Democracia a educação para a Democracia. Ou seja, os regimes democráticos não conseguiram criar uma escola que preparasse a nova geração para a novidade que se instalou no mundo contemporâneo. Claro que Bobbio não falava da necessidade de construir escolas que ensinassem a Democracia, mas de um exercício contínuo de educação – em todos os lugares da sociedade – para uma vida democrática. Mas, não estou falando de procedimentos tais como assembleias, eleições, voto, plebiscitos, etc. que são sustentáculos da Democracia uma vez que procuram ouvir o desejo da maioria. Falo da construção de valores democráticos tais como o voluntariado, o respeito à opinião do outro, o cumprimento dos acordos e por fim a paciência.

Por que paciência? Num regime autoritário – e os democratas muitas vezes o são – a paciência não existe. É preciso atingir o objetivo pré-determinado a qualquer custo no tempo previsto. Agregaram à democracia um ingrediente capitalista que é o controle sobre o tempo. Numa fábrica, cujo objetivo é o lucro imediato não se tem tempo para avaliar cada produto em sua etapa, nem o trabalhador tem direito a manifestar suas crises: não me traga problemas de casa para o trabalho; e em casa, o casal inverte a mesma frase do chefe. Se a produção não sai na hora certa se perdeu tempo e tempo é dinheiro. Numa tirinha de Ernst e Young numa linha de montagem, o primeiro falava ao segundo do seu último dia de trabalho. Iria se aposentar e interpelado sobre o que faria no seu primeiro dia de aposentadoria respondeu: vou lá ao fim da linha ver o que eu fiz todos esses anos. Ou seja, num sistema capitalista o trabalhador é tão alienado em seu trabalho que não tem tempo de ver o que produz. Nem o chefe vai permitir-lhe tamanha perda de tempo.

Muitas vezes na Democracia assumimos o risco de correr demais: perdemos a paciência e acreditamos que o debate se tornou perda de tempo. Não conseguimos equacionar nossa relação entre os objetivos e procedimentos da Democracia com o Tempo necessário à sua execução. Na maioria das vezes vemos o tempo como um inimigo da Democracia, na medida em que os resultados demoram a aparecer. Num regime democrático o que existe entre um desejo e sua realização é o debate: o convencimento de que o meu desejo pode e deve ser estendido a todos. O debate perdeu a sua principal qualidade: educar o falar e o ouvir. Se numa Democracia eu me recuso a ouvir, estou impedindo o outro de se manifestar, de expor sua ideia e assim impacientemente exijo imediatamente a votação. Na Grécia antiga, a oratória era a principal disciplina das academias. A capacidade de argumentar era construída nos debates públicos acerca dos problemas da polis de forma a resolvê-los e, ao mesmo tempo, educar os mais novos para aquele exercício.

É possível iniciar o debate na cidade? Sim, desde que o comecemos agora nas escolas educando e preparando as novas gerações com a paciência do oleiro que sabe o tempo certo para moldar o barro.

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