A esparrela etnocêntrica

Dalvit Greiner

Nesse processo de globalização no qual vivemos, culpamos tudo e todos pelo fato de não satisfazerem nossas ideologias dos tempos de adolescentes. Como Cazuza, ainda queremos uma ideologia prá viver. E assim, abaixo o imperialismo, gringos go home!, esquecemos que, apesar de maioria ter conduzido o Pato Donald Trump ao poder lá, nos EUA ainda tem gente boa. É claro que os malvados chegaram ao poder e fazem de tudo para lá permanecer. Mas, ora, todo mundo que chega ao poder pretende permanecer lá até a morte. É assim em qualquer lugar do mundo. Não é a mosca azul do poder: é o imperativo da política.

Ainda bem que a Grécia inventou, a Europa reinventou e os americanos fazem tanta questão da Democracia. Assim, se o cara não estiver bem a gente dá-lhe um “pé-na-bunda” e vamos em frente. Já o Brasil, que não respeita tanto assim a Democracia, ela só dá certo quando a elite vence. Caso contrário, a gente cria um monte de pós-verdade, solta na televisão e toma o poder: democraticamente, segundo nosso atual Usurpador Michel Temer.

A gente não gosta dos americanos, mas gostamos de Democracia. Vamos e convenhamos, a Democracia é muito chique. E os estadunidenses gostam tanto da Democracia que fazem filmes louvando-a e fazem guerra obrigando os outros a ser tão democráticos quanto eles. De cá, da nossa democracia, não condenamos o método, nem o objetivo. Acreditamos que se a coisa é boa porque não obrigar todo mundo a fazê-lo? Nós que somos assim tão democráticos, porque não fazer o resto do mundo provar desses prazeres? E tome guerra para implantar Democracia. E tome pós-verdade (mentira!).

E assim olhamos os outros: com uma vontade danada de torna-los iguais a nós, acreditando que assim melhoraremos a convivência. Não toleramos a mínima diferença, seja ela de local de nascimento, de preferência sexual, do jeito de andar, de cor da pele (ainda não entendemos que a raça humana é uma só), do jeito de olhar ou pentear o cabelo, de colocar percing ou tatuagem, de ouvir funk ou Mozart, do jeito de se comportar diante do outros e todos os etcéteras possíveis. Fazemos isso constantemente. Inconscientemente? Não creio. Nós, adultos, temos um péssimo hábito de julgar ao invés de viver e deixar viver. E sempre julgamos pela falta. Como Ulisses julgando os ciclopes apontando-lhes o que lhes faltava, desde um segundo olhar sobre as coisas até a Democracia, aquele modelo grego. No olhar de Ulisses, os gregos tinham tudo o que os ciclopes e bárbaros não tinham e mais um pouco.

Então, olhamos ao nosso redor e começamos a constatar tudo aquilo que acreditamos faltar aos outros. Medidos pelas nossas réguas e nossos parâmetros não compreendemos os outros. Ao contrário, condenamos os outros pelo único motivo de não serem como nós. Da falta chegamos à conclusão de que são incapazes, incompetentes, e o que é pior: maus, bandidos, terroristas, pobres, gays, mulheres, negros, e… Todos e tudo vira acusação e condenação. Quando os adultos olham os adolescentes e jovens, que são muito mais diferentes, então…

E são mesmo. São incapazes de ser o que nós somos, segundo nossos critérios. Aqueles capazes de ser como nós são tristes. Em geral criamos para nós um passado de via-crucis até chegar ao calvário que é a vida adulta: profissão, cônjuges, filhos e fluoxetina. E, apesar da dor, acreditamos que só assim adolescentes e jovens também chegarão. É o conceito grego de brotos – conhecer pela dor e com a dor. Eliminamos qualquer possibilidade de conhecimento e crescimento que não seja de outra forma. Desejamos insistentemente que o outro padeça o que padecemos, passe pelas mesmas dificuldades para então atingir a glória, o nirvana, o paraíso. Ledo engano! O que fazemos é o mesmo que o Exército estadunidense faz desrespeitando culturas milenares para impor a Democracia através de sua pretensa revolução, impedindo um protagonismo local, carinhosamente chamado pela ONU de autodeterminação dos povos.

Ou seja: ao invés de investirmos na construção da autonomia das novas gerações, queremos obrigar-lhes a uma receita que deu errado. Daí caímos na esparrela etnocêntrica: a de classificar alguém como bom quando ele está igualzinho a nós.

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