A EDUCAÇÃO NAS MANIFESTAÇÕES POR DIREITOS NO BRASIL – Luciano Mendes de Faria Filho

A EDUCAÇÃO NAS MANIFESTAÇÕES POR DIREITOS NO BRASIL

Luciano Mendes de Faria FIlho – Professor da UFMG e Coordenador do Projeto Pensar a Educação Pensar o Brasil 1822-2022

Tenho acompanhado com vivo interesse os debates que aqui se travam sobre as mobilizações populares(?), estudantis(?), dos movimento sociais(?)… nas últimas semanas no país. Penso que nestes momentos de incertezas e perplexidades todas as perguntas são legítimas e necessárias, mesmo aquelas que, segundo pontos de vista particulares, trazem embutidas respostas que contrariam os próprios movimentos. No entanto, como não sabemos “o que são os movimentos”, como saber o que lhes seria contrário?

 Inicialmente, tenho visto um conjunto de análises que têm muita dificuldade de “nomear”, de identificar e, algumas vezes, de adjetivar os “sujeitos” das manifestações. Este não é um problema de menor monta. Vejam: se falamos que é uma manifestação “popular”, nos sentido que o “povo” estaria na rua, a questão seguinte é: o que estamos chamando de povo? Eu, particularmente, tenho visto que a “cara” (quase que literalmente!) dos que estão na rua não são do povo. Há, como já se disse, um recorte geracional e, penso, de ocupação e renda: são, em boa parte, estudantes universitários ou do ensino superior – sobretudo os que parecem “organizar o movimento”. Seriam também das camadas médias, em boa parte?

 A este respeito, chamou muito a minha atenção, no final de semana, duas concentrações: as da Praça Sete e adjacências e a dos moradores de Ribeirão das Neves. Aparentemente (talvez apenas aparentemente) eram dois mundos, apesar das reivindicações se aproximarem: a questão da qualidade do transporte e o seu custo.

 Obviamente o movimento, também como já se disse, é hiper diverso, plural, múltiplo… em sua composição e em suas reivindicações.  É possível,  no entanto, compreender minimamente as origens e as motivações das insatisfações (e dos desejos) que sustentam tais mobilizações? Não estaríamos diante, por exemplo, de fenômenos tão dispares (ou talvez nem tanto) como as “novas insatisfações” produzidas pela recente melhoria de vida de milhões de brasileiros (e brasileiras) e, ao mesmo tempo, com as insatisfações e com o descontentamento das classes médias com os crescentes custos (e não apenas econômicos) de manutenção de seus seculares privilégios?

 Talvez estejamos num momento ímpar em que grupos sociais (classes?) os mais diversos estejam produzindo uma certa noção de “destino comum”, que implicaria, quem sabe, numa certa “solidariedade de destino”  que forneceria as bases para uma tentativa única de resolver os problemas sociais brasileiros no seu conjunto, e não por partes e nem fundamentalmente com “políticas focalizadas”, mesmo que estas sejam, eventualmente, necessárias.

O que tenho sentido é que de uma forma contundente parece que tem muita gente dizendo que é preciso romper com a ideia de que a construção secular de um  dos países mais ricos e mais desiguais do mundo seja um destino ou que seja possível resolver distinguindo entre os “nossos” problemas e os problemas dos “outros”, como tem sido a nossa tradição (não nos esqueçamos dos processos históricos, sociais, culturais… que tornaram o transporte público no Brasil num problema de todos nós, e não apenas daqueles e daquelas que,  desgraçadamente, precisam “tomar o ônibus”;  basta para não esquecermos, verificarmos não apenas o custo e a demora dos ônibus, na própria “arquitetura” dos nosso pontos de ônibus: não seria pela irrelevância das coberturas dos pontos de ônibus na proteção contra o sol e contra a chuva uma das explicações para que elas sejam continuamente objeto da ação dos “vândalos”?).

 Finalmente, neste universo todo, o que nos “toca” sobre a educação? Há uma óbvia dimensão educativa do movimento, sobre a qual muito já sabemos, sobretudo aqueles que passam aqui pela FAE (e esta é, creio, uma das grandes qualidades de nossa cultura acadêmica e institucional). Mas, e da educação escolar, do que se fala? Como se fala? Ao mesmo tempo em que ocorriam as manifestações na cidade, os leitores do Estado de Minas eram brindados com um longo texto de nossa colega Ana Lúcia Gazzola sobre a situação da educação em Minas. Sobre isso, nada se fala ou se falou. Enquanto isso, na mesma televisão que dá uma cobertura “nunca antes vista nesse país” às manifestações, o sistema “S” faz de tudo para convencer à população de que contra o apagão de mão-de-obra, nada melhor do que o sistema assumir de vez a educação profissional, pois é disso que os pobres, os trabalhadores, de fato precisam! 

 Por outro lado, é grande a tentação de propor certos vínculos dos movimentos que hoje invadem as ruas com certo “caldo de cultura” criado por movimentos recentes (ou nem tão recentes assim). Só quem estava dormindo até mais tarde e não viu os professores, os povos indígenas, os sem terra e vários outros movimentos na rua é que pode dizer que o Brasil acordou agora. Penso nas possíveis vinculações das insatisfações manifestas com a educação, por exemplo, com as greves dos professores (notadamente aquela de 2011) e sua capacidade de produzir uma representação muito forte das mazelas da educação mineira e do salário dos professores, a despeito do que dizem os gestores e, mesmo, das estatísticas (e essa contraposição não é pouca coisa!). Essa foi, parece-me, uma grande vitória do movimento grevista, a despeito de sua derrota no plano imediato. Do mesmo modo, fico tentado vincular tais movimentos, ainda no que expressam de insatisfação com a educação (e com afirmação da educação pública de qualidade como um direito de TODOS!), com as recentes mudanças nas condições de oferta e de frequência ao ensino superior (público e privado). Enfim, as tentações são muitas mas a (minha) inteligência é pouca!

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