A Educação Física na escola já é legítima?

Aroldo Luis Ibiapino Cantanhede

 

A Educação Física, ao longo de sua trajetória nas escolas nacionais, tem sido marcada por controvérsias. Desde o “descobrimento” da terra brasilis – onde os índios já praticavam a sua Educação Física ao lutar, dançar, caçar, etc. até a atualidade cibernética, digital. Ela ainda perpassou os “anos de chumbo”, quando foi usada para legitimar o status quo dos poderes vigentes à época. Na contemporaneidade, ainda se apresenta muitas vezes às avessas, capenga, problemática, desprovida de sua real importância didático-pedagógica no cenário educacional.

 Ainda na atualidade, o discurso da Educação Física (forte e retumbante) aponta para contextos sobre a saúde-imagem e o sempre carro-chefe, o esporte. Isso é tão intenso que as escassas matérias televisivas que retratam a Educação Física mostram-na como um vetor de desenvolvimento esportivo, da busca por atletas, na contribuição social do esporte como formador de atletas e no combate ao sedentarismo. Por essa ótica disforme, tornar-se atleta e tornar-se saudável é obrigatório ao objetivo da Educação Física.

Mas, afinal, qual é o real objetivo da Educação Física na escola? Qual o real motivo para que ela possa ser uma disciplina obrigatória na Educação Básica? Ela está lá por conta do esporte, da saúde, ou da educação?

A Educação Física, de modo interdisciplinar, estuda e dissemina uma forma de cultura que foi criada pelo homem desde o seu surgimento neste planeta. Fazer o educando compreender essa cultura denominada Cultura Corporal aliada ao Movimento e suas ramificações deveria ser a missão primordial da Educação Física.

Com uma disciplina assim ficaria fácil ter o pleno entendimento de que o futebol aos domingos, às 11 da manhã, com o sol a pino, não é uma forma de fazer “a família ir para o estádio”, mas sim outro horário entre muitos outros para vender pay-per-view, ter mais patrocinadores e ganhar mais dinheiro. Pense um pouco, um jogo na quarta-feira, às 22 horas, é ou não é uma discrepância? É essa visão crítica que a Educação Física deve levar à sala de aula (sim, não é só na quadra que há Educação Física), uma visão na qual o educando desenvolva sua compreensão filosófica do mens sana in corpore sano, mas também saiba entender a Indústria Cultural Frankfurtiana ao relacionar o espetáculo-consumidor (futebol e espectador) com o criador da demanda do espetáculo (emissora televisiva) e o resultado dessa interação (consumo).

Quando se fala em lutas e artes marciais na atualidade o que vem a sua cabeça? Possivelmente violência, combates entre duas pessoas em um ringue de oito lados, filmes de ação com o protagonista desferindo socos e chutes. É óbvio que essas são características das lutas e artes marciais, mas em qual momento você pensou na questão midiática de uma luta de Mixed Martial Arts? Patrocinadores, cotas televisivas, dopping, drogas, agressividade e violência etc. Todos esses aspectos são parte integrante da Educação Física, da Cultura Corporal de Movimento e devem ser estudados, buscando o desenvolvimento do educando.

O esporte, amplamente vendido em “caixinhas” fast food pela mídia e que temos consumido todas as quartas e domingos (e todos os outros dias também) perpassa por meio dessa cultura estudada pela Educação Física, mas não é o seu objetivo final, e sim um dos seus inúmeros objetos de estudo.

A escola, infelizmente, por conta da falta dessa legitimação tem mostrado que a aula de Educação Física é excelente para os ensaios da quadrilha de festa junina. E é mesmo, afinal é uma festa em que a cultura popular se mescla com a dança, culinária e com os afazeres próprios do campo, dessa forma, um prato cheio para a Educação Física. No entanto, a disciplina não se resume apenas a eventos especiais, ela é uma formadora de pessoas em suas mais diversas nuances. Por isso é vital (e já passou da hora) que saiamos do fundo em direção à entrada da caverna em busca da luz, como no mito. Será doloroso, mas necessário.

Em um país onde a leitura crítica da realidade acaba sendo eclipsada pelo que os poderosos querem que seja a verdade absoluta, faz-se necessário (cada vez mais) que se desenvolva uma Educação Física pensante e que faça pensar. Só assim teremos uma disciplina legítima na escola contribuindo para a resistência, contrária ao modelo atual de educação (que ainda em muitos casos é freirianamente bancária) e incentivadora de um olhar mais amplo do mundo pelo aluno.

Sempre é válido afirmar que precisamos, sim, de espaço físico, de tecnologias educacionais (sim, a Educação Física faz uso de tecnologias), de professores da disciplina em todas as séries, de uma formação inicial holística, mas se não houver uma mudança de pensamento dos que já militam na disciplina, nada será suficiente para as transformações necessárias.

É hora de um “Uní-vos”, de mudanças de paradigmas que impedem a legitimidade da Educação Física na escola, e você, professor, está convidado a participar dessa mudança, agora, já!

 


 

*Licenciado em Educação Física

Discente do Programa de Pós-Graduação em Educação

Universidade Federal de São João Del Rei – PPEDU-UFSJ

 

 

Foto de destaque: João Neto/Fotojump

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