A educação e o caminho da esperança

Roberto Rafael Dias da Silva

Conforme anunciei em minha última coluna, neste ano priorizarei o compartilhamento de ideias, de experiências e de livros que têm me auxiliado a pensar sobre as demandas educacionais do século XXI. Em meio a preparação desses escritos, ingressamos em um novo conjunto de preocupações vinculadas à pandemia causada pelo coronavírus. Outras preocupações, outros cuidados, novos riscos, novos pensamentos sobre o futuro – tudo isso nos permitindo enxergar as manifestações de nossa vulnerabilidade e abrindo reflexões sobre os caminhos da esperança.

Não se trata de uma reflexão recente, mas a obra que escolhi colocar em debate neste tempo é “O caminho da esperança”, escrita por Stéphane Hessel e Edgar Morin e publicada no Brasil no ano de 2012. Em uma espécie de texto-manifesto, os pensadores franceses advogavam por uma “insurreição das consciências que consolide uma política de civilização fundada no princípio da esperança e na democracia”. Ainda que dirigido ao contexto francês, o livro favorece a elaboração de bons diagnósticos e uma crítica política criativa e esperançosa. Em tempos de pandemia, tal como estamos vivenciando, suas palavras de grande lucidez intelectual nos direcionam a pensar a humanidade desde outras perspectivas.

A mundialização, o desenvolvimento e a ocidentalização são as três faces do fenômeno analisado pelos autores, devido aos impactos para o futuro do planeta. Em termos políticos, defendiam que “a finalidade do bem-estar se degradou ao concentrar-se ele exclusivamente no conforto material; […] o desenvolvimento econômico não trouxe sua contrapartida moral”. Em outras palavras, a busca pelo bem-estar poderia ter fortalecido o individualismo e promovido regressões na esfera da solidariedade. Os extremismos políticos, em tal perspectiva, derivam-se deste jogo de condições.

Sob tais condições, então, Hessel e Morin defendem uma “política do bem-viver”, abarcando políticas de seguridade social, alimentação, educação, economia, cultura, dentre outros aspectos.

O bem-viver pressupõe o desenvolvimento individual no seio das relações comunitárias. Nossas vidas são polarizadas entre uma parte prosaica, que suportamos sem alegria, por pressão ou obrigação, e outra poética, representada por tudo aquilo que nos confere plenitude, fervor e exaltação, parte essa que encontramos no amor, na amizade, nas festas, nas danças, nos jogos. A prosa da vida nos permite sobreviver. Mas viver é fazê-lo poeticamente.

Repensar a relação com as juventudes, com o trabalho e com a cidadania também recebe uma significativa atenção na obra. Em seu prisma, o caminho da esperança passa por uma “economia plural” – mais solidária e plural, com crescimento mais equitativo e sustentável, com maior proteção social e controle das finanças. Justapõe-se a essa forma econômica a preocupação com uma educação mais ampliada que repense o conhecimento humano em seus princípios.

É de importância capital ensinar a enfrentar as incertezas que persistem inevitavelmente em cada vida individual, na vida coletiva e na história das nações, incertezas essas agravadas nós mesmos, por nossas sociedades, pela humanidade.

Em linhas gerais, procurei compartilhar ao longo deste texto a leitura de uma obra que nos traz algumas elaborações lúcidas e esperançosas para nossos dias de confinamento. A política do bem-viver – democrática e regeneradora – defendida por Hessel e Morin nos convidam a pensar a educação de outros modos.


Referência:

HESSEL, Stéphane; MORIN, Edgar. O caminho da esperança. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012.

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