A 4ª Geração Integralista e o advento da tecnologia: o uso da internet para divulgação e doutrinamento – exclusivo

Renata Duarte Simões

Está agendada para setembro de 2014, na sede Nacional de Campinas, a realização do “X Congresso Nacional Integralista e Linearista” organizado pela Sociedade de Estudos do Nacionalismo Espiritualista (SENE) e pelo Movimento Integralista e Linearista Brasileiro/MIL-B, com programação que engloba abertura solene; entrega de diplomas, medalhas e condecorações; palestras sobre os livros  do integralismo; homenagens a integralistas de destaque; elaboração de agenda de encontros para 2015; reunião dos coordenadores; e coquetel de encerramento. O evento está sendo divulgado pelas redes sociais e pelo site do MIL-B, que convida o visitante para a sessão solene de abertura.

Passadas várias décadas de fundação do integralismo brasileiro, cabe questionar: por que um evento com o propósito de congregar militantes de uma ideologia tão pouco divulgada na grande mídia, com um ar tão antigo e, aparentemente, com tanta poeira do tempo se alojando sobre seus livros, consegue atrair simpatizantes e arregimentar novos adeptos?

A Ação Integralista Brasileira (AIB) foi um movimento de massas que emergiu no Brasil na década de 1930 e logo alcançou grande visibilidade. O surgimento desse fenômeno político e social estava estreitamente relacionado com o contexto histórico do período em que, no país, iniciava-se um processo de modernização e urbanização e as lutas sociais eram intensas.

O tempo passado não levou ao esquecimento o integralismo, que continua presente no cenário político brasileiro, buscando reafirmar a antiga ideologia e reabilitar suas principais lideranças. O discurso foi adaptado às novas questões da atualidade, modernizaram-se os meios de veiculação da ideologia, mas a essência doutrinária permanece basicamente a mesma de décadas atrás.

Os integrantes do integralismo na atualidade se autodenominam “neointegralistas” e são assim reconhecidos, também, pelos pesquisadores que se dedicam a estudar o movimento.  Os “neointegralistas” ou a “4ª Geração” do movimento se destacam das gerações anteriores pelo uso das novas tecnologias de comunicação e pelo esforço dedicado ao aprimoramento e aprofundamento no estudo doutrinário. É essa nova geração que confere, cotidianamente, uma feição mais moderna ao movimento, mas buscando manter a sua essência, a fidelidade doutrinária ao eterno Chefe Plínio Salgado. 

A preocupação central do integralismo era, e ainda é, nos dias atuais, a conservação da ordem, da hierarquia e da autoridade. O novo integralismo é composto por diversas correntes que se multiplicam de norte a sul do País, concentrando-se em maior número no sul e no sudeste, que buscam legitimar a autorreferência de herdeiros do movimento.

A persistência em dar continuidade ao integralismo, projeto avivado após a morte de Plínio Salgado, em 1975, e a tentativa de recriar a AIB que, oficialmente, tinha cessado sua atividade partidária em 1973, ganharam contornos mais nítidos por intermédio da reorganização dos Centros Culturais, a partir dos anos 1980, incumbidos de promover encontros e cursos. Esses grupos, empenhados em reorganizar o integralismo, buscam, desde então, reunir militantes sob o lema “Deus, Pátria e Família” e incorporam o papel de dar continuidade às atividades do movimento e de perpetuar a memória integralista.

Além da criação dos Centros Culturais, dentre os quais se destacou o Centro Cultural Plínio Salgado (CCPS), localizado em São Gonçalo/RJ, e da Casa Plínio Salgado, fundada em São Paulo em 1981, passaram a circular periódicos impressos ou virtuais – Idade Nova, Informativo CEDI, Avante, Quarta Humanidade e Ofensiva –, iniciativa estimulada pelo jornal Alerta, o primeiro periódico a ser publicado em meados dos anos 1990, e o boletim do CCPS.

Em novembro de 1998, criou-se o “Sigma – periódicos reunidos”, reflexo da intenção do jornal Idade Nova de reunir os movimentos e congregar os periódicos integralistas. Entre os periódicos distribuídos pelo Sigma estavam: A Marcha, de Fortaleza (CE); O Sigma, de Nova Friburgo (RJ); o Alerta, de São Gonçalo (RJ); A Batalha, de Porto Alegre (RS); o Avante, de Niterói (RJ); e o Idade Nova (RJ).

Com a chegada do século XXI, os editores do Idade Nova propuseram a adoção de um novo estilo para o jornal, que buscaria elaborar uma imagem de atualidade, com a revisão e mesmo negação do holocausto. No mais, o novo estilo do jornal também significaria um novo estilo de nacionalismo, interpretado pelos editores como “um nacionalismo mais sadio”.

A virada do século revelou, contudo, os conflitos internos que permeiam esse movimento, cujos grupos, que buscaram suas raízes no passado para construir a unidade, estão em constantes disputas e discordâncias sobre a interpretação da doutrina, o que foi evidenciado pela formação de duas frentes após a realização do 1º Congresso Integralista para o século XXI, em dezembro de 2004, na sede da UDN (União Democrática Nacional), na capital paulista. De um lado, formou-se a Frente Integralista Brasileira (FIB), que defende a interpretação fiel da doutrina, seguindo, de forma inquestionável, as diretrizes apontadas pelo Chefe Plínio Salgado no Manifesto de 1932; e, de outro, o Movimento Integralista e Linearista Brasileiro/MIL-B, cujos seguidores consideram que a doutrina deve ser lida à luz de um novo contexto, o do século XXI. Esses grupos, utilizando as possibilidades da internet e por meio das redes sociais, reivindicam para si o reconhecimento de continuadores na história integralista.

A tentativa de manter vivo o integralismo encontrou, a partir de década 1990, as novas tecnologias da informação como base de resistência. O advento tecnológico tornou a inserção do integralismo na internet bastante atrativa e permitiu que as diferentes facções reestruturassem as suas estratégias políticas. Os conteúdos expostos pelas mídias desses grupos evidenciam os elementos ideológicos que defendem para divulgação de suas ideias e valores segregadores e reacionários, que resultam, muitas vezes, em ações violentas.

O uso da internet, pelos sites, blogs, facebooks, e de outros recursos, são formas de divulgação que “modernizam” a maneira de fazer chegar aos interessados o projeto de Estado Integral, elaborado por Plínio Salgado, ainda nos anos 1930. Os novos suportes de informação integralistas não proporcionaram, todavia, o abandono dos canais impressos que, em conjunto com os sites, tornaram-se os principais meios de divulgação, formação e arregimentação de novos membros.

A maioria dos novos grupos políticos herdeiros da ideologia de extrema direita e autoritarista propagada pelos “camisas-verdes” nos anos 1930 está articulada na denominada Frente Integralista Brasileira (FIB), que foi fundada em 2004 e é a mais expressiva organização integralista contemporânea. O portal da FIB traz informações sobre o conselho diretivo do grupo, sobre os núcleos filiados à FIB espalhados pelo Brasil, documentos diretivos do movimento, textos doutrinários, biografias de dirigentes da 1ª geração do movimento e do Chefe Nacional, imagens, agenda de encontros e congressos, informações sobre contato, entre outros.

A frase título da página inicial do site expressa a pretensão de vencer e a confiança dos militantes no futuro do integralismo: “A vitória já é nossa”. Em destaque, o link “Filie-se” conduz o visitante à “pré-filiação nacional” que, segundo informações expostas, “é o caminho mais rápido e fácil para você se tornar um membro da Frente Integralista Brasileira”. Abaixo desse link, outro, de mesmas proporções, indica como contribuir financeiramente para a conquista de “metas, projetos e desafios” traçados pelo movimento. A FIB realiza reuniões entre seus ativistas por via de chats, no site oficial ou “sede virtual”, disponibilizando grande quantidade de artigos para os seus visitantes.

Outros sites, como o site do Movimento Integralista e Linearista Brasileiro/MIL-B, grupo fundado oficialmente em 2006, com sede localizada em Campinas e com núcleos nas cidades do Rio de Janeiro e Juiz de Fora, além de filiação, videoaulas e fóruns de discussão, também apresentam artigos e uniformes a venda, com o compromisso de investimento do fundo em sua própria militância.

Em 2009, o Instituto Plínio Salgado, instituição organizada recentemente pelos integralistas contemporâneos como parte integrante de um Programa da Secretaria de Expansão e Organização da Diretoria Administrativa da FIB, visando divulgar a história contemporânea do movimento, ofereceu cursos de formação doutrinária com base no modelo Ead (Educação à Distância), inovação possibilitada pelo advento tecnológico.

É possível afirmar que as atividades e encontros realizados pelos “neointegralistas”, com o objetivo de preparar e mobilizar os seus adeptos, encontraram espaço de divulgação e realização na internet, possibilitando a aproximação de militantes que compartilham dos mesmos preceitos ideológicos. Outros grupos defensores de tendências políticas ditas radicais vêm se favorecendo das novas tecnologias de comunicação para difusão de ideias e para suplantação das distâncias. Esse fenômeno precisa ser analisado e coibido, sobretudo, pelo caráter antidemocrático e excludente da ação desses grupos que se articulam em torno de valores segregadores.

 

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