195 anos da Independência; 90 anos da UFMG; 10 anos do Pensar a Educação no ar: Comemorar e Refletir

Editorial do numero 173 do Jornal Pensar a Educação em Pauta

O mês de setembro, o seu início mais especificamente, é um momento importante para o Projeto Pensar a Educação Pensar o Brasil – 1822/2022, para a UFMG e para o país. É tempo de comemorar e de refletir.

No dia 07 de setembro comemoramos 195 anos de nossa independência do domínio português.  Não resta dúvida que, simbolicamente, é um momento importante de rememorar, de comemorar e, sobretudo, de refletir. Se, por um lado, a ruptura dos laços com Portugal cria as condições para a construção do Estado e da Nação, por outro lado, ela inaugura também um modo de fazer política marcado pelas negociações pelo alto e em que os interesses da maioria da população são solenemente desconsiderados por nossas elites.

Tendo, em primeiro lugar, defendido os seus interesses e mantido as estruturas coloniais, dentre as quais se destaca a escravidão, nossas elites passam a reclamar do “povo” e da impossibilidade de se estabelecer, aqui, um projeto nacional baseado em tantos desclassificados. Alijada do poder e das decisões, a maioria da população é vista mais como um empecilho do que como uma possibilidade para postar o Brasil no mundo civilizado. A invenção de um país sem que o povo estivesse no centro dos acontecimentos faz de nossa independência um evento quase anedótico de nossa história.

Estas questões certamente voltam quando, nesse momento, o grupo que tomou de assalto os destinos da República, se orgulha de utilizar de sua falta de legitimidade e popularidade para agir, mais uma vez, contra os interesses da população e da própria nação brasileiras. É bastante sintomático que, na semana que antecede o 07 de setembro, praticamente não se falou sobre o tema. O que foi salientado na imprensa foi a viagem do Presidente e de sua comitiva para vender, literal e simbolicamente, o país à China. O entreguismo do governo golpista ameaça fortemente a pouca independência que conquistamos em várias áreas e põe em risco a própria soberania nacional ou daquilo que resta de nossa soberania em tempos de globalização predatória.

Na mesma data em que o país lembra (lembra?) da independência, a UFMG comemora os seus 90 anos de fundação. Ao longo do ano, o reitorado tem brindado a comunidade universitária com vários eventos que evocam as memórias da história daquela que se constitui, hoje, uma das mais importantes universidades do país. Fundada como Universidade de Minas Geais em 1927, a instituição foi federalizada em 1949 e passou a seu chamar Universidade Federal de Minas Gerais em 1966.

A UFMG é, hoje, mais pública, inclusiva e diversa do que era há poucos anos. A instituição, por força de lei ou por meio da criação de mecanismos internos, se abriu mais às várias juventudes que compõem a sociedade brasileira e tem mantido um produtivo diálogo com os movimentos sociais que marcam e fazem a dinâmica social brasileira. Mas, justamente no momento em que faz esse movimento, a Universidade é lançada numa crise sem precedentes pelas ações de destruição do Estado e das políticas públicas estabelecidas pelo governo golpista. Certamente não é coincidência que, justamente quando a universidade se abre à população negra e pobre do país, nossas elites dirigentes passem a considerar o ensino superior público e gratuito uma ameaça às contas públicas. O mesmo governo que perdoa bilhões em dívidas da parte mais rica da população, corta recursos de financiamento da educação e joga as universidades numa penúria nunca antes vista.

Há, certamente, que se perguntar se é possível fazer um país independente sem universidades que produzam ciência e tecnologia de ponta, que formem quadros profissionais de alto nível e que cultivem um ambiente de reflexão aprofundada sobre o próprio país. Certamente que não! Abdicar de nossas universidades é mais um modo, certamente, de abdicar de nossa independência.

Finalmente, lembramos que em setembro comemoramos 10 anos do Programa de Rádio Pensar a Educação na Rádio UFMG Educativa. São quase 400 programas levados ao ar, com entrevistas, reflexões densas e diálogos com a escola básica. Ao longo dos anos, o programa se transformou num experimento de comunicação pública, de divulgação científica em educação e num grande espaço de formação para alunos(as) e professores(as) que dele participam. Por outro lado, as grandes possibilidades experimentadas e/ou cultivadas pela Equipe do Rádio contrastam com a atuação reacionária e destruidora de boa parte da mídia brasileira.

Concentrada nas mãos de poucos e alheia aos interesses da maioria da população, a nossa “grande” mídia atuou de forma decisiva, mais uma vez, na preparação e no estabelecimento do golpe institucional que afastou a Presidenta eleita e colocou em seu lugar uma quadrilha que nada mais faz do que pilhar o patrimônio nacional e os direitos da maioria mais pobre.

Nesse cenário adverso em que vivemos, o nosso Programa de Rádio é pouco mais do que uma gota num mar sem fim. Mas é também uma iniciativa que continuamente abre espaços para a comemoração daquilo que temos de melhor e, ao mesmo tempo, busca refletir sobre o Brasil a partir de um dos temas mais candentes da história nacional, a educação. Esse é o nosso desafio, essa é a nossa proposta e é por isso que, apesar dos tempos sombrios, comemoramos!!!

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195 anos da Independência; 90 anos da UFMG; 10 anos do Pensar a Educação no ar: Comemorar e Refletir

Equipe do Pensar a Educação, Pensar o Brasil na comemoração dos 10 anos de programa na Rádio UFMG Educativa.

O mês de setembro, o seu início mais especificamente, é um momento importante para o Projeto Pensar a Educação Pensar o Brasil – 1822/2022, para a UFMG e para o país. É tempo de comemorar e de refletir.

No dia 07 de setembro comemoramos 195 anos de nossa independência do domínio português.  Não resta dúvida que, simbolicamente, é um momento importante de rememorar, de comemorar e, sobretudo, de refletir. Se, por um lado, a ruptura dos laços com Portugal cria as condições para a construção do Estado e da Nação, por outro lado, ela inaugura também um modo de fazer política marcado pelas negociações pelo alto e em que os interesses da maioria da população são solenemente desconsiderados por nossas elites.

Tendo, em primeiro lugar, defendido os seus interesses e mantido as estruturas coloniais, dentre as quais se destaca a escravidão, nossas elites passam a reclamar do “povo” e da impossibilidade de se estabelecer, aqui, um projeto nacional baseado em tantos desclassificados. Alijada do poder e das decisões, a maioria da população é vista mais como um empecilho do que como uma possibilidade para postar o Brasil no mundo civilizado. A invenção de um país sem que o povo estivesse no centro dos acontecimentos faz de nossa independência um evento quase anedótico de nossa história.

Estas questões certamente voltam quando, nesse momento, o grupo que tomou de assalto os destinos da República, se orgulha de utilizar de sua falta de legitimidade e popularidade para agir, mais uma vez, contra os interesses da população e da própria nação brasileiras. É bastante sintomático que, na semana que antecede o 07 de setembro, praticamente não se falou sobre o tema. O que foi salientado na imprensa foi a viagem do Presidente e de sua comitiva para vender, literal e simbolicamente, o país à China. O entreguismo do governo golpista ameaça fortemente a pouca independência que conquistamos em várias áreas e põe em risco a própria soberania nacional ou daquilo que resta de nossa soberania em tempos de globalização predatória.

Na mesma data em que o país lembra (lembra?) da independência, a UFMG comemora os seus 90 anos de fundação. Ao longo do ano, o reitorado tem brindado a comunidade universitária com vários eventos que evocam as memórias da história daquela que se constitui, hoje, uma das mais importantes universidades do país. Fundada como Universidade de Minas Geais em 1927, a instituição foi federalizada em 1949 e passou a seu chamar Universidade Federal de Minas Gerais em 1966.

A UFMG é, hoje, mais pública, inclusiva e diversa do que era há poucos anos. A instituição, por força de lei ou por meio da criação de mecanismos internos, se abriu mais às várias juventudes que compõem a sociedade brasileira e tem mantido um produtivo diálogo com os movimentos sociais que marcam e fazem a dinâmica social brasileira. Mas, justamente no momento em que faz esse movimento, a Universidade é lançada numa crise sem precedentes pelas ações de destruição do Estado e das políticas públicas estabelecidas pelo governo golpista. Certamente não é coincidência que, justamente quando a universidade se abre à população negra e pobre do país, nossas elites dirigentes passem a considerar o ensino superior público e gratuito uma ameaça às contas públicas. O mesmo governo que perdoa bilhões em dívidas da parte mais rica da população, corta recursos de financiamento da educação e joga as universidades numa penúria nunca antes vista.

Há, certamente, que se perguntar se é possível fazer um país independente sem universidades que produzam ciência e tecnologia de ponta, que formem quadros profissionais de alto nível e que cultivem um ambiente de reflexão aprofundada sobre o próprio país. Certamente que não! Abdicar de nossas universidades é mais um modo, certamente, de abdicar de nossa independência.

Finalmente, lembramos que em setembro comemoramos 10 anos do Programa de Rádio Pensar a Educação na Rádio UFMG Educativa. São quase 400 programas levados ao ar, com entrevistas, reflexões densas e diálogos com a escola básica. Ao longo dos anos, o programa se transformou num experimento de comunicação pública, de divulgação científica em educação e num grande espaço de formação para alunos(as) e professores(as) que dele participam. Por outro lado, as grandes possibilidades experimentadas e/ou cultivadas pela Equipe do Rádio contrastam com a atuação reacionária e destruidora de boa parte da mídia brasileira.

Concentrada nas mãos de poucos e alheia aos interesses da maioria da população, a nossa “grande” mídia atuou de forma decisiva, mais uma vez, na preparação e no estabelecimento do golpe institucional que afastou a Presidenta eleita e colocou em seu lugar uma quadrilha que nada mais faz do que pilhar o patrimônio nacional e os direitos da maioria mais pobre.

Nesse cenário adverso em que vivemos, o nosso Programa de Rádio é pouco mais do que uma gota num mar sem fim. Mas é também uma iniciativa que continuamente abre espaços para a comemoração daquilo que temos de melhor e, ao mesmo tempo, busca refletir sobre o Brasil a partir de um dos temas mais candentes da história nacional, a educação. Esse é o nosso desafio, essa é a nossa proposta e é por isso que, apesar dos tempos sombrios, comemoramos!!!

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