O tema da independência do Brasil tem se tornado mais atual em virtude do seu bicentenário que se aproxima (2022). Natural que, por essa razão, pesquisadores e professores de diferentes áreas se voltem para questionar determinadas perspectivas que o tempo, os sujeitos, a história, as instituições forjaram a seu respeito. O importante objetivo é repensar as histórias e memórias do acontecimento que marca o nascimento oficial da história nacional.
As iniciativas não são apenas no sentido de elaborar reflexões acadêmicas, elas são comemorativas, são de múltiplos sentidos e estão espalhadas em diversas ações e espaços no país. Por exemplo, Câmara dos Deputados, descrevendo-se como a “guardiã da memória do país”, criou em 2019 uma comissão e tem realizado uma série de eventos, como sessões solenes, exposições, concursos e lançamento de publicações, para “lembrar fatos importantes que antecederam a data”.
O Senado também criou a “Comissão Especial Curadora do Bicentenário” para organizar as comemorações dos 200 anos da Independência do Brasil, com edição de livros, realização de seminários e exposições, e também já fez parcerias com a Biblioteca Oliveira Lima, da Universidade Católica da América, em Washington, EUA. A Presidência da República até criou em 2019 a “Comissão Interministerial Brasil 200 Anos”, mas ainda não apresentou qualquer planejamento, como aponta o jornal Folha de São Paulo.
Somada a essas, há um conjunto de outras iniciativas que são relevantes e evidenciam a popularidade desta prática de celebração das grandes efemérides nacionais. A Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU), por exemplo, criou o projeto “2022: A Nação que queremos no Bicentenário da Independência” visando promover “transformações essenciais a serem feitas até a próxima década”.
Os Correios projetaram uma Emissão Postal Comemorativa, intitulada “Série 200 anos da Independência do Brasil: Bicentenário do Retorno de José Bonifácio ao Brasil”. No respectivo selo é mostrado o retrato do Patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrada e Silva, descrito como “personagem decisivo e protagonista inesquecível da nossa história”. A Biblioteca Brasiliana Guitta e José Mindlin (da Universidade de São Paulo) criou o “Prêmio 3 vezes 22 de teses e dissertações: Bicentenário da Independência do Brasil”. A Biblioteca Nacional promoveu um programa com exposições e cursos (lives ao vivo) com o objetivo de mostrar seu acervo, temas, personagens em torno da Independência.
Importante considerar a relevância de tais iniciativas ao longo do tempo, sobretudo porque sabemos que, atualmente, a memória acerca da independência está capilarizada no senso comum, como um marco da identidade cívica brasileira, para o qual há até um feriado específico. Mas essa memória não existiu desde sempre.
E a província da Parahyba do Norte (como se chamava o estado da Paraíba antigamente) não esteve de fora neste cenário histórico e cultural. Sabe-se do seu pioneirismo em relação aos projetos de emancipação nacional, quando o estado participou dos movimentos contra o domínio português, cujo objetivo era a separação entre Brasil e Portugal. Em 1817, quando se iniciou em Pernambuco uma revolta política, logo aderimos ao movimento, tendo como consequência imediata a proclamação da República da Paraíba, movimento que se inclui na relação do contexto das manifestações que desembocam na Independência do Brasil. Entretanto, o que se pretende destacar aqui é a sua participação também em iniciativas posteriores de reafirmação da independência, suas memórias e história.
Nos Relatórios do Governo do Estado da Paraíba é possível perceber a forma pela qual as autoridades paraibanas se posicionaram frente às comemorações do centenário da Independência nacional, em 1922: “Uma das solenidades com que a 7 vae o Brasil comemorar o centenário da sua independência política é a grande exposição de produtos nacionais a realizar-se no Rio de Janeiro. Para que a Parahyba figure dignamente nesse certame não tenho poupado esforços. Da verba de cem contos que, para festejar a nossa maior efeméride, consignastes no orçamento deste anno, destinei metade a despesas do centenário no Estado, remetendo a outra metade ao governo federal como quota a que se obrigara a Parahyba para a construção do Palácio das Indústrias no Rio de Janeiro”.
Como se vê, havia um envolvimento com a celebração daquilo que a Paraíba denominou “a nossa maior efeméride”. E, de fato, com dedicado orçamento público para tal, a referida Exposição Internacional do Centenário da Independência aconteceu (no Rio de Janeiro, então capital brasileira) e contou com a nossa presença.
Curioso é que a repercussão de tal exposição reverberou de diferentes formas e por longos anos. Não só no sentido de afirmar o acontecimento da emancipação política de 1822, a partir de sua celebração, mas como um selo de qualidade publicitária pelas premiações que promoveu:
As medalhas empenhadas em destacar a qualidade das “coisas” expostas, poderiam ser de bronze, prata e ouro. Por aqui, ganhamos algumas delas.
Quanto esforço e criatividade empenhados na construção das memórias, não?! E como pode ser assombroso o vazio do esquecimento!
Um brinde com o premiado vinho de cajú Parahybano!