Não é sobre o lugar na janelinha
Jacqueline Caixeta
Um episódio chamou a atenção de todos semana passada. A criança fez birra querendo sentar na janelinha do avião, a pessoa que ocupava o lugar não cedeu e pronto, o barraco foi armado.
Criança pequena faz birra, certo, nada de diferente nisso. A criança na primeira infância ainda não sabe fazer o uso da linguagem oral com argumentos e raciocínio lógico para fazer valer suas vontades e, na maioria das vezes, como ganha no grito, lógico que vai abrir o berreiro pra conseguir o que quer sempre. Até aí, tudo normal. Seus pais, com uma educação sólida e firme em valores e limites, vai lhe ensinando que não é chorando que se conquista tudo, que todos têm direitos e deveres, que sua vontade vai sempre esbarrar na vontade do outro, enfim, a educação vai acontecendo e, a medida que a criança cresce ela vai aprendendo. Educar uma criança exige paciência e muita responsabilidade, não é para amadores. Saber colocar limites e conversar de maneira clara, dosando afetividade com firmeza, quando as decisões exigem isso, é tarefa árdua para adultos de verdade, não pais que querem brincar de casinha tendo filhos.
O escândalo é dentro do esperado para uma criança que ainda está aprendendo tais questões, e o que ela precisa é de pais equilibrados e saudáveis emocionalmente para lhes garantir segurança e confiança em seus atos e superar seus momentos de crises de birras.
A reação da moça dona da janelinha me remete a alguém calmo e equilibrado emocionalmente, pois não “pegou a isca”, não “pegou pilha” , como dizem os adolescentes. Ela simplesmente se posicionou e continuou fazendo a Monalisa, na maior calma. Mesmo sendo exposta, não entrou numa discussão, preferiu, quem sabe, judicializar a situação.
A pessoa que filmou e jogou na rede, esta sim, é foco de minha análise e me faz convidar para uma reflexão.
A intenção dela era de que todos tomassem as dores da pobre criança e crucificassem a moça, como, infelizmente, muitas vezes acontece quando se joga algo na internet. O público começa um julgamento e o linchamento virtual acontece sem dó e nem piedade. As pessoas começam a serem donas das verdades e, numa visão única, expõem suas opiniões, sem nem querer saber quem está certo ou errado.
Quantas vezes isso acontece com nós educadores? Quantas vezes somos expostos em redes sociais? Quantas vezes as pessoas, por questões particulares, expõem as outras numa maldade cruel, e, quando se assusta, a pessoa exposta já foi julgada e condenada à revelia, sem direito à defesa, sem sequer saber o motivo pelo qual está sendo atacada. Quando alguém leva em público uma situação com o intuito de julgar e condenar o outro, corre o risco de um linchamento social. Neste caso específico, não encontrou adeptos, encontrou pessoas que não concordaram com ela. Quando isso acontece, ótimo, mas e quando isso não acontece? Quando a maioria cai de pau, sem nem saber do que se trata de fato? Como será que fica a pessoas que foi exposta? Como será que se sente?
Estamos em um mundo em que algumas pessoas pensam ser as donas das verdades e, considerando suas verdades únicas, massacram, pisam, humilham, expõem o outro sem o mínimo de bom senso, sem o mínimo de ética e respeito.
Internet não é terra sem dono. As pessoas não podem continuar a usar como ferramenta para expor o outro à situações ridículas, fragilizando, colocando em risco a moral da outra pessoa. Chega, basta, não cabe mais este tipo de situação. Volto a repetir, a pessoa que postou tentando condenar a outra, deu um tiro no pé, mas, nem sempre é assim. Sair publicando falas ofensivas que levam a diminuir a imagem do outro, é muito cruel.
É preciso mais ética e bom senso nas relações. Afinal de contas, como bem dizia minha avó: respeito é bom e todo mundo gosta. Ninguém gosta de ser desrespeitado e exposto.
Por mais moças da janelinha e por menos, bem menos, pessoas que se acham no direito de expor as outras.
Com afeto
Jacqueline Caixeta
Espetacular. Sim, precisamos dar um basta nestas terras sem dono, Basta de palco para os invasivos e julgadores dono da razão.