LUTO: DO SUBSTANTIVO, AO VERBO!

Tenho vivido tantos lutos na educação… 

Sinto-me enlutada todas às vezes que percebo que um professor não quer nada além de cumprir seus horários e deveres pedagógicos. Nada além de fazer o óbvio e, algumas vezes, ainda questiona se isso é ou não sua função. Sempre que percebo que um professor se dispõe apenas em dar sua aula, sem se importar que o que ensinou foi aprendido, sem se questionar se o seu aluno quer mais, ou quem sabe, se ele precisa de mais, me sinto de luto. Ah, a docência, às vezes me desencanta. Meus ideais na educação são de transformação, liberdade, desafios e inquietações e, quando me deparo com alguém querendo apenas fazer o “feijão com arroz” (alguns, se pelo menos fizesse bem feito o feijão com arroz, tava bom demais) sem levar seus alunos ao desejo de querer mais, visto meu preto de luto e enlutada e entristeço. Professor não pode querer pouco.

Sinto-me enlutada sempre que escuto de adolescentes se é obrigado a ir em um trabalho de campo. Ah, que pena, que pena quando percebo que eles não conseguem enxergar além do óbvio. Não conseguem pensar fora dos muros da escola. Não conseguem perceber que o conhecimento está, também, fora dos livros e das falas de seus professores e que, sair em campo, é sair em busca de um saber mais dialético, desafiador, libertador. Ah, que pena… Será que nós, escola, não estamos conseguindo fazer com que enxerguem isso? Será que nossas grades e matrizes, estão conseguindo estragar tudo, a ponto deles não perceberem o quanto aprender com outras possibilidades e oportunidades, pode ser bem mais rico e interessante?

Me sinto enlutada todas às vezes que preciso explicar aos pais que a escola tem regras, planejamento, projeto político pedagógico e um regimento interno, que não é a “casa da mãe Joana” que cada um que chega quer ditar suas normas e dar seus palpites. Que pedagogia é ciência e estudamos muito para estarmos onde estamos e fazer como fazemos, não trabalhamos com “achismos” e tampouco com opiniões alheias só para satisfazer o ego de um ou outro. Fico em luto quando um pai questiona uma ação pedagógica sem nem sequer saber por onde anda o conhecimento teórico em que baseamos nossas ações. Ah, quanta falta de senso desses pais que acham que entendem e desrespeitam escolas e professores questionando coisas que não têm a menor competência para questionar.

Fico enlutada todas às vezes que a educação infantil é agredida com livros didáticos e, o que é pior, por pessoas que sabem exatamente que ali, naquele canteiro da infância, cabe tudo, menos livros e fazem isso apenas por modismo ou para concorrer com a escola próxima. Adotam livros para satisfazerem pais que nada entendem de educação e acham que escola boa é escola que tem muita atividade de registros formais  para a criança. Que perda de tempo, como conseguem roubar da infância tanta liberdade, espontaneidade e criatividade ao querer que eles se prendem em livros. Dói, dói muito saber que o tal “mercado da educação” consegue fazer isso com nossas crianças.

Me sinto enlutada por tantas incompetências que poderia ficar escrevendo horas e horas e, claro, vocês cansaram de ler.

Meu luto é enorme e minha luta é gigantesca!

Assim, vou transformando o substantivo em verbo e passo a lutar por todos os meus lutos.

Luto, luto com todas as minhas forças contra todos os meus lutos e tenho apenas uma arma: a palavra. E com a palavra, venho sempre por aqui e acolá, escrevo minhas sandices na ânsia que muitos possam ler, refletir, discutir, questionar, duvidar, se incomodar e, enfim, por fim, ir pra luta comigo. Sair do luto e ir para a luta não diz apenas de transformar um substantivo em verbo, diz de uma coragem absurda, movida por um desejo louco de fazer melhor. 

Há tantos anos atuando na educação, ainda tenho meus medos, mas minhas coragens são valentes, atrevidas e ousadas. Falo de  tudo  que me incomoda, de tudo o que me faz ficar de luto e busco, na minha escrita, cansativa, muitas vezes, incompreendida, tantas outras, mas sempre carregada de sonhos que incomodam e tentam tirar as pessoas dos lugares-comuns, a minha arma nessa eterna luta. 

Educação não é lugar de gente que não quer se mexer, se refazer, se descobrir e se reconstruir. Educação é espaço e tempo para transformação, para podermos nos desafiar e incomodar. Minhas armas (palavras), muitas vezes podem ferir, outras, acalentam. Uso a escrita como arma na constante luta por uma educação que faça mais sentido, que promova mudanças e que contribua para um mundo melhor.

Com afeto,

Jacqueline Caixeta

3 comentários em “LUTO: DO SUBSTANTIVO, AO VERBO!”

  1. Jacqueline Azevedo Sá Domingos

    Amei seu texto chará. Gostaria de ler mais. Concordo com seu luto que também é o meu e mesmo com tudo felicito você é a mim e a quantos mais faz da educação um trabalho digno. Feliz dia do trabalhador! 1/5/25 ,
    Jacqueline Domingos

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