Renata Julia da Costa*
A Escola Básica vem sendo desafiada a promover uma educação de qualidade que tenha reflexo no desempenho acadêmico de seus estudantes, atendendo expectativas e demandas sociais da educação contemporânea. Para isso, a formação de professores é relevante, à medida que precisa apontar para um trabalho docente capaz de lidar com os desafios colocados pela complexa realidade atual. Não se considera que o trabalho docente seja o único responsável pela qualidade educacional, mas sabe-se que sem o professor, não se promove educação de qualidade. Neste contexto, este texto traz reflexões sobre a formação docente, destacadamente a formação inicial, e aponta algumas tensões e possibilidades de articulação entre a Universidade e a Escola Básica.
Conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) “a formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena […]” (BRASIL, 1996, art. 62). Portanto, a graduação constitui a formação inicial do professor ensino fundamental.
Nas licenciaturas, privilegia-se o conhecimento específico da disciplina que o professor irá lecionar em detrimento das demais questões relacionadas ao trabalho docente com os estudantes, em suas diferentes fases da vida. Em geral, a formação inicial favorece o domínio técnico do conhecimento por parte do docente em sua disciplina, o que não garante a compreensão de aspectos da educação em geral, como relação professor-aluno, planejamento, currículo e avaliação. No Brasil, nas grades curriculares dos cursos de licenciatura, observa-se maior investimento de carga horária em disciplinas referentes aos conteúdos específicos do curso e, em contrapartida, menor dedicação às disciplinas referentes à didática e à pedagogia (SILVA, 2002).
Ao prever uma articulação no ensino para os estudantes de 6 a 14/15 anos, a LDB (BRASIL, 1996) busca superar a dicotomia entre primário e ginásio, nomeando esse nível da educação básica como um todo: ensino fundamental (ZAIDAN, 2003). Ainda assim, a universidade oferece cursos diferentes para o professor dos anos iniciais e para aquele que atuará nos anos finais (ZAIDAN, 2003).
Essa ruptura e as demais limitações da formação inicial abordadas neste texto têm impacto no trabalho docente e provocam um desafio para os gestores educacionais. Há que se reconhecer que todos os contextos de formação docente têm, em si mesmos, suas próprias limitações, o que torna possível compreender que, de maneira alguma, a formação inicial se responsabilizaria, exclusiva e isoladamente, pela integralidade da formação docente, especialmente ao considerar que tal formação também acontece no cotidiano do trabalho do professor. Mesmo com essa ressalva, são pecebidas lacunas nos cursos de licenciatura.
Pesquisas e publicações acadêmicas produzidas no Brasil a partir dos anos 1980 demonstraram para a universidade os dilemas enfrentados pelos cursos de licenciatura (PEREIRA, 2006). A academia tem conhecimento da necessidade de avanços, especialmente da articulação da universidade com o mundo do trabalho docente e da relevância das disciplinas pedagógicas para os estudantes de licenciatura.
Com esses argumentos, este texto aponta para a necessidade de aproximação entre universidade e Escola Básica, como uma estratégia de aproximar os estudos teóricos da realidade das escolas públicas. Tal aproximação, além de favorecer a formação inicial dos docentes e, com ela, as redes públicas de ensino, tem a possibilidade de motivar a produção de pesquisas e de conhecimento na Universidade. Nesse cenário, nos cabe a reflexão: Como realizar a necessária articulação entre Universidade e a Escola Básica, de forma a promover melhores condições de trabalho docente e melhores resultados educacionais na escola pública?
Referências
BRASIL. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: 02 nov. 2016.
PEREIRA, Júlio Emílio D. Formação de Professores: pesquisas, representações e poder. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
SILVA, Analise de J. da. Relações entre formadores, professores e adolescentes: de objetos no labirinto a sujeitos da educação. 2002. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2002. 288 p.
ZAIDAN, Samira. Reformas educacionais e formação de professores no Brasil. In: OLIVEIRA, Dalila A. Reformas Educacionais na América Latina e os trabalhadores docentes. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. p. 143 – 148.
* Renata Julia da Costa é professora da Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte. Atuou com formação de professores e na gestão pedagógica e, atualmente, atua no Programa Família-Escola na Regional Pampulha. Pedagoga – Universidade do Estado de Minas Gerais, pós-graduada em Gestão de Projetos Educacionais – Centro Universitário UNA e mestre em Gestão e Avaliação da Educação Pública – Universidade Federal de Juiz de Fora.
E-mail: renatajulia@gmail.com