Eleições nas escolas municipais, clima escolar e tensões: para onde voltam os professores e professoras após o pleito? 

Paulo Henrique de Souza 

“No meu entender, democracia não é ausência de divergências mediante sua anulação. É a convivência das divergências sem que se chegue ao confronto”

Mario Sérgio Cortella

O ambiente escolar, um espaço naturalmente plural, reflete intensamente as políticas propostas que emergem em períodos eleitorais. As escolas tornam-se palcos de debates, embates e, em alguns casos, polarizações que atravessam a sociedade. Durante o pleito, professores, gestores, famílias e estudantes muitas vezes se deparam com a difícil tarefa de equilibrar a liberdade de expressão com o respeito às diferentes posições ideológicas, enquanto buscam preservar um clima escolar saudável. Essa situação pode gerar desgastes emocionais e profissionais para os docentes, especialmente quando são pressionados a adotar posturas neutras ou se tornam alvo de críticas por suas posições pessoais.

A convivência escolar é um microcosmo da sociedade, onde ressentimentos, calúnias, erros de interpretação e julgamentos precipitados, muitas vezes, se manifestam, especialmente em períodos marcados por polarizações. 

Para ensinar crianças e adolescentes a adotarem comportamentos éticos e democráticos, é essencial que a escola promova práticas educativas fundamentadas em valores como empatia, respeito mútuo e diálogo. O primeiro passo é criar um ambiente onde a escuta ativa seja valorizada, permitindo que os estudantes aprendam a considerar diferentes perspectivas antes de emitir julgamentos ou reagir a situações de conflito. 

Por meio de atividades pedagógicas, como debates estruturados, rodas de conversa e projetos interdisciplinares, é possível demonstrar a importância de orientações divergentes sem desqualificar quem as expressa. Além disso, o exemplo dos educadores é vital: professores/as e gestores/as devem modelar comportamentos éticos, resolvendo conflitos de forma transparente e respeitosa, mostrando como lidar com erros ou mal-entendidos de maneira construtiva. Trabalhar com narrativas que estimulam o pensamento crítico, como literatura, estudos históricos e dilemas morais, também ajuda a desenvolver nos alunos a habilidade de reflexão sobre o impacto de suas ações no coletivo.

A educação para a cidadania deve ser contínua, integrando conceitos de justiça, responsabilidade e cooperação. Incentivar práticas democráticas no cotidiano escolar, como assembleias estudantis e processos de decisão compartilhados, ensina na prática que o respeito às regras e aos direitos dos outros é a base de uma sociedade justa. Assim, as crianças e os adolescentes não apenas aprendem a lidar com as diferenças de forma ética, mas também se tornam agentes de transformação, contribuindo para uma convivência mais harmoniosa e inclusiva dentro e fora da escola.

Após as eleições, o desafio para os professores e professoras é retomar a normalidade no ambiente escolar, reconstruindo um espaço de diálogo respeitoso e foco no processo educacional. No entanto, as cicatrizes do período eleitoral podem permanecer, manifestando-se em desconfianças mútuas, afastamento entre colegas e até mesmo no comportamento dos alunos. 

Cabe aos educadores atuar como mediadores do clima escolar, promovendo atividades que enfatizem a empatia, a escuta ativa e a valorização da diversidade de ideias. Esse retorno exige que os professores recuperem seu papel como formadores de cidadãos críticos, conscientes e comprometidos com os valores democráticos, reafirmando a escola como um território de construção coletiva e não de segregação ideológica.

Depois da eleição os professores e professoras vão voltar para escola ou vão pedir transferência? Será que essa é a essência ou somente aparência? 

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