“De onde eles vêm”? A Lei de cotas e o romance de Jefferson Tenório

Alexandra Lima da Silva

O aclamado escritor Jefferson Tenório se orgulha por ter ingressado por cotas raciais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no ano de 2008. Ele lutou contra o estigma e os muitos discursos de desqualificação do tipo: “ as cotas colocariam pessoas despreparadas na universidade”, “os cotistas iriam baixar o nível do desempenho acadêmico” ou “que profissionais cotistas não seriam contratados pelo mercado de trabalho, pois seriam profissionais inferiores”. 

Certamente, todas as dores e alegrias de ser a primeira pessoa da própria família a ingressar no ensino superior foram as inspirações para a escrita do romance De onde eles vêm, publicado em outubro de 2024 pela Companhia das Letras. O livro é um tapa na cara da branquitude instituída e uma aula sobre pertencimento e sobre a importância da defesa das políticas públicas para o ingresso e permanência no Ensino Superior. 

De onde eles vêm? De muito longe. Eles são os sonhos das avós lavadeiras, costureiras, operárias. 

Jefferson Tenório tem razão. A entrada de negros e pobres na universidade coloca em Xeque à mediocridade do discurso da meritocracia. O vencedor do prêmio Jabuti pelo livro O avesso da pele prova, com competência e excelência, que lugar de negro é na universidade, é na literatura. Ocupar todos esses espaços é um direito, uma dívida histórica. A educação não pode ser compreendida como privilégio e as cotas não podem ser vistas como “um presente”. São, sim, fruto de muita luta e são uma conquista histórica em um país tão desigual e injusto como o Brasil, erguido com sangue e suor das classes trabalhadoras, de pessoas negras e indígenas. 

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