Corpo na sociedade: empatia e empoderamento – Tiago Tristão Artero

Corpo na sociedade: empatia e empoderamento

Tiago Tristão Artero

O modo com que nós no comportamos possui relação direta com a concepção de corpo, com a forma com que o corpo é tratado, com a arquitetura das cidades e instituições, com a educação que recebemos e os conceitos de corpo transmitidos por meio desta educação (de maneira direta ou indireta), com o vestuário adotado para determinada época ou ambiente, com a modulação da voz utilizada nas relações sociais, com os gestos escolhidos/aprendidos no processo de comunicação, com o contato físico de um ser humano com outro, com a cultura/possibilidades/limitações de cada povo dentre tantos outros fatores fundamentais para o individuo e a sociedade. Estes pontos são tratados por diversos autores e pesquisadores, dentre estes, Wallon, Yann Arthus, Carmen Lúcia, George Vigarello, dentre outros.

Mais do que nunca é urgente que se discuta não somente a concepção de corpo, mas também o que está sendo feito com o corpo do ser humano, do brasileiro, no contexto em que estamos vivendo. É fundamental que se busque entender o comportamento daqueles que se expressam, dos que buscam, utilizam seu corpo como painel/escudo/ponto de resistência, ocupando brechas e lacunas, ações inimagináveis outrora.

É sobre este corpo que “abriga, rejeita, recebe, devolve, silencia ou anuncia a abundância de encontros com a natureza e com a cultura realizados pelos sujeitos”, como bem diz Marcus Aurélio Taborda de Oliveira e Meily Assbú Linhales, que devemos refletir. É sobre o corpo que protesta que deve ser dito.

Yann Arthus mostrou, de maneira esplêndida, sentimentos comuns entre as nações. Mostrou como somos diferentes e semelhantes ao mesmo tempo. Isto nos sugere que a empatia só se alcança quando nos identificamos com o outro. Minimamente, reconhecendo que, mesmo em nações diferentes, fazemos parte de um mesmo povo. Talvez, por isso, a aluna Ana Júlia Ribeiro tenha convocado os políticos e a sociedade para visitar as escolas ocupadas. Certamente, ao adentrar em tais recintos, ver-se-á corpos resistentes, fortalecidos por um ideal que se busca e alimentados por sonhos possíveis. E foi com o corpo que Ana Júlia discursou. Mais do que palavras, o corpo falou, a gestualidade emocionou e as emoções produzidas e manifestadas em seu corpo determinaram uma linguagem impossível de ser expressa somente com palavras. Lembrou a tantos Malala Yousafzai, que também discursou com o corpo, na luta pelas mulheres poderem se humanizar em sua terra, e com o corpo sofreu. Impossível esquecer todos que tiveram seu corpo punido como forma de retaliação ou usaram-no como forma de protesto, a saber A Irmã Dorothy Stang, Gandhi, Luter King, Mandela e tantos outros, anônimos ou não.

Os jovens que ocupam as escolas estão exercendo sua cidadania da maneira mais difícil, por meio da resistência. Urge a discussão, a aceitação e a reflexão sobre o corpo. Este está na política; transita pela arquitetura projetada nas escolas, instituições e por toda a cidade; se relaciona; manifesta sua aparência, sexualidade, raça; sofre assédio, violência e aprisionamento de sentimentos; recolhe-se ou se expande, a partir da educação recebida; é vítima das representações sociais e das convenções, mas também é algoz.

Para pensar, estão sendo usurpadas justamente as disciplinas que poderiam dar empoderamento aos indivíduos na luta contra a discriminação, no engrandecimento cultural, na manifestação desta cultura a partir do corpo e no conhecimento da sociedade e de seu percurso ao longo da história. Para pensar, mais uma vez os corpos estão servindo como obstáculo físico, moral e construindo uma resistência intelectual nunca vista antes por esta geração.

Como visto, “We don’t need no education We don’t need no thought control No dark sarcasm in the classroom”, outras já deixaram sua contribuição, mas é preciso que a herança seja conservada pela própria sociedade, em especial, viabilizando os espaços educativos para tais fins. Somente assim, empatia (entendendo-nos comuns uns aos outros) e empoderamento (assumindo os ganhos advindos das lutas e caminhos percorridos) caminharão lado a lado em direção à evolução social, e não o contrário.

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