Vigilância e consumo na sociedade da classificação

Convidada para a terceira conferência do Pensar a Educação, Pensar o Brasil, Andrea Versuti propôs na última quinta feira, 24, a discussão “Reflexões pós-panópticas sobre vigilância e consumo na sociedade da classificação”. A conferência fez parte do Seminário Anual “Mídias, Educação e Espaço Público” que tem como objetivo discutir a relação entre educação e mídias.

Andrea iniciou sua fala contextualizando a discussão que parte do artigo de mesmo nome da conferencia e de autoria da própria Andrea e do professor Prof. Dr. Marco Aurélio Rodrigues da Cunha e Cruz, (UNOESC – SC). O artigo está presente no livro Privacidade e proteção de dados pessoais na sociedade digital, organizado por Regina Linden Ruaro, José Luis Piñar Mañas e Carlos Alberto Molinaro.

A professora explicou que se antes na concepção de um modelo panóptico, predominava a centralidade do olhar e uma vigilância estável e imóvel representada por grandes corporações. No modelo pós-panóptico esse olhar está pulverizado entre os sujeitos. A sensação não é mais de vigilancia e medo, mas de acolhimento e liberdade de escolhas individuais. Aqui, a subjetividade dos sujeitos está constantemente em construção e reconstrução e os sujeitos sentem a necessidade constante de afirmação e discurso.

Neste sentido, a provocação proposta pela conferencista está centrada na noção de servidão voluntária, conceitos presentes na obra de Bauman e Rodotá, onde as barreiras entre público e privado são dissolvidas e a entrega de dados e informações pessoais não se apresentam como um problema para os indivíduos que se sentem em rede e comunidade. Na fala da Andrea, essa pulverização do modelo pós-panóptico é um projeto de mercado, o que está em jogo são relações de consumo controladas por empresas que detém cada vez mais os dados de milhões de pessoas em rede através de algoritmos, big data, além do controle de todos para todos.

A internet e as redes sociais estariam, desta forma, configuradas como grandes shopping centers, onde o consumo faz a mediação entre os sujeitos determinando a diferenciação de uns pelos outros e a integração através da construção de identidades e pertencimentos. Entretanto, essas relações permeadas pela noção de consumo, dificultaria, segundo Bauman a construção de lastro, ou seja, de perenidade na relações entre pessoas.

Por sua vez, a sofisticação das relações de consumo entre os sujeitos, aliada a constante transformação de símbolos, identidades, pertencimentos e diferenciações, cria uma sociedade de classificação extremamente complexa e desafiadora para educadores. Especialmente por classificar os sujeitos, criando segmentos disponíveis ou não para os processos sociais que envolvem consumo, mas também, participação social e debate público. Esse desafio se apresenta, por exemplo, no envolvimento com os alunos, e com a comunidade escolar, mas também na constante disputa de narrativas de uma sociedade confessional onde os sujeitos estão constantemente falando de si.

Para Andrea Versuti a escola precisa defender o seu tempo, o tempo do aprendizado, do conhecimento e a lentificação dos processos de comunicação e formação docente. Em sua fala, a luta e a resistência frente ao pensamento homogeneizador é condição para a formação docente frente ao pensamento homogeneizador de classificação, de aceleração, sem rastro e sem perenidade de relações. Como nos colocamos em movimento para promover fissuras no pensamento homogeneizador?

Andrea Versuti encerrou sua fala com algumas propostas para lidar com a tecnologia dentro da escola e com a ideia da transmídia como força de criação e ligação entre sujeitos para além das classificações disponíveis pelo consumo, mas através de seus desdobramentos e do engajamento contra hegemonicos.

Vanessa Macedo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *