Por que conhecer e aprender?

Editorial do Jornal Pensar a Educação em Pauta nº198

Vivemos hoje em uma sociedade na qual o conhecimento científico é de grande importância.  A sua produção e divulgação movimentam milhões de pessoas no mundo todo e nossas vidas são continuamente impactadas pela sua aplicação nas mais variadas dimensões de nossa existência. Há, por isso, quem diga que vivemos numa “sociedade do conhecimento”. Conhecimento este que foi transformado em uma das principais mercadorias a circular pelo planeta.

Mas essa incidência do conhecimento científico sobre nossa vida cotidiana nem sempre foi assim reconhecida. No Brasil, há algum tempo, quando no final da década de 1930, foram criadas as Faculdades de Filosofia para ser o lócus de produção do conhecimento em torno do qual deveriam gravitar as universidades, se dizia que essas Faculdades deveriam cultivar e produzir um “saber desinteressado”. Era isso que as diferenciaria das outras faculdades, como Direito, Medicina e Engenharia, que se dedicavam aos “saberes aplicados”.

Nas décadas seguintes, a crítica a isso fez emergir a ideia de que não existe saber neutro ou desinteressado, e que importava cada vez mais, conhecer para desenvolver o país. Todas as áreas do conhecimento foram, assim, convocadas para o esforço de produzir conhecimentos para a modernização do país. Para dar sustentação e institucionalidade a esse esforço, a PósGraduação foi criana e as Universidades foram reformadas na década de 1960..

No entanto, o esforço para se produzir um “saber interessado” e sua transformação em mercadoria tem como consequência a alienação, ou seja, o produtor do conhecimento não se reconhecer no produto de sua própria ação. Talvez esse seja um dos motivos pelo crescente sentimento entre alunos, professores e pesquisadores de que estão a produzir mais e mais relatórios, textos, artigos e livros afim de construir e/ou  sustentar suas posições acadêmicas ao invés de se dedicarem à produção e divulgação de conhecimentos novos.

Esse quadro, evidentemente, não sintetiza o conjunto das variáveis envolvidas nessa questão. Mas já é o suficiente para nos perguntarmos sobre as implicações dos sujeitos com a produção e a divulgação de conhecimentos. Há que se retornar à ideia original de que a produção do conhecimento depende do engajamento dos sujeitos na produção de sentidos para sua própria vida, e não apenas para a vida dos outros. E há que se perguntar pelas condições que permitem (ou permitiriam) o exercício desse poder criador.

Se tal assertiva diz algo sobre a produção do conhecimento, ela não é alheia, também, à sua transmissão no interior das instituições escolares. Da educação infantil à pósgraduação, os saberes, científicos ou não, estão no centro das relações entre os sujeitos. As relações com o saber são fundamentais para sustentar o engajamento dos sujeitos nas ações de ensino e de aprendizagem. É necessário se perguntar, também, em que medida ensinar e aprender tem feito sentido na vida de professores(as) e estudantes

As universidades e as escolas básicas são lugares de produção e transmissão de conhecimentos. Nelas, como na vida como um todo, conhecer e aprender são dimensões que estão interligadas e só se sustentam e se realizam pelo engajamento dos sujeitos. Sem esse engajamento, para o qual pesquisadores(as), professores(as) e alunos(as) são convocados, o  pesquisar, o ensinar e o aprender perde o sentido e vira alienação. E nada pior para nossas sociedades que nossas escolas e universidades sejam alienadas e alienantes!


Imagem: @TAYLORCKT1

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