Os entraves para a democracia no Brasil

Conferência com o professor Miguel Arroyo na última quinta feira, 27, destacou as tradições autoritárias que afetam a construção de uma educação democrática no Brasil.

Como pensar o Brasil atual e pensar a Educação? É tempo de reafirmar as tradições democráticas ou autoritárias do Poder e do Estado? Que possibilidades de educação e humanização temos em tempos de vidas ameaçadas? Estes questionamentos moveram a conferência Educação no Brasil – Tradições Autoritárias? Com o professor Miguel Gonzalez Arroyo na ultima quinta feira, dia 27, na Faculdade de Educação da UFMG. A conferência fechou a programação do 1º semestre de 2019 do Seminário Educação no Brasil: tradições democráticas, promovido pelo projeto Pensar a Educação, Pensar o Brasil.

O pesquisador buscou refletir sobre o papel atribuído à educação na construção de um ambiente democrático e lembrou que muito se fala sobre democracia, mas é urgente uma narrativa que exponha como nossa educação e história são marcadas por tradições autoritárias. Miguel lembra que a democratização do acesso à educação não é garantia de que teremos uma sociedade democrática, principalmente por que as elites que regem política e economicamente a sociedade impõem barreiras para que grupos externos a essa elite cheguem ao poder. “Nossa educação não conseguiu ser tão democrática quanto sonhou ser porque as tradições autoritárias se impuseram” relatou. Para ele, falar de educação é falar de justiça. Não apenas isso, a educação precisa falar de justiça, e principalmente as injustiças sociais. Afinal de contas, é preciso pensar se vivemos um ambiente tradicionalmente democrático interrompido por fases autoritárias, ou vivemos numa lógica autoritária e buscamos atravessá-la por lutas por condições mais democráticas.

Para Miguel Arroyo é importante reconhecer as tradições autoritárias que marcam nossa sociedade. Um importante ponto para pensar nisso é como se nega historicamente a humanidade de povos originários, indígenas, camponeses e quilombolas. Para ele essa é uma das tradições políticas mais autoritárias e que toca mais ativamente a educação. Tal comportamento vem desde a colônia e faz com que esses indivíduos sejam excluídos da participação cultural, política e pedagógica da sociedade.

O acesso, a apropriação e a expropriação da terra são também fundamentais para se pensar os entraves autoritários presentes na sociedade brasileira. Desde a colonização das Américas, quando os portugueses e espanhóis tomaram o território dos nativos, a leitura dos direitos sociais se ligou também à posse. Têm acesso à educação, ao poder, à humanidade aqueles que têm terra, posses, capital. Os demais não são gente, não tem alma, não tem lugar na vida pública.

Outro padrão autoritário que nos acompanha é o caráter racista, sexista e classista de trabalho. Para Arroyo é importante reconhecer o trabalho como matriz formadora humanizadora e como o movimento operário reafirma o papel pedagógico do trabalho. Mas acima de tudo é fundamental reconhecer o princípio desumanizante do trabalho, que coisifica os trabalhadores.

Citando Boaventura de Sousa Santos, o professor Arroyo ainda apontou como em nome da educação e do processo civilizatório ocorreram “culturisídios” em nossa sociedade. Ele questiona quais culturas são legitimadas nas bases e diretrizes civilizatórias que estabelecem os processos educativos.

Por fim, o professor comentou sobre a cultura da violência que criminaliza certos grupos sociais. Para Arroyo esse é mais um das tradições autoritárias que afetam as possibilidades democráticas e que deveria mobilizar a educação. Ele lembra como a violência do Estado continua mantendo longe do poder, e da real democracia, negros, mulheres, indígenas e outros grupos marginalizados.

Para Miguel Arroyo, essas tradições autoritárias precisam ser alvo de atenção da pedagogia. “A pedagogia não pode dizer ‘Minha obrigação é acompanhar os processos de humanização, dos humanizáveis’. E o resto? A pedagogia séria, e esse é o nosso caso, assume a responsabilidade de criticar as estruturas e os padrões de poder que limitam esses percursos humanizadores” afirma.

Na ocasião, o projeto Pensar a Educação, pensar o Brasil realizou uma homenagem ao professor Miguel Arroyo por sua inestimável contribuição para a Educação Democrática e para o pensamento brasileiro. Representantes da universidade, do movimento sindical docente e políticos estiveram presentes na cerimônia que destacou a importância de Miguel Arroyo nas vivências e lutas pela educação e pela justiça social. A professora Claudia Mayorga, pro-reitora de Extensão da UFMG, fez referência à importância do professor Miguel Arroyo no cenário nacional, onde carregou o nome da UFMG. Já a diretora da Faculdade de Educação da UFMG, a professora Daisy Cunha destacou sua vivência com o professor na própria Faculdade de Educação, ainda como estudante e mais tarde como professora.

A deputada Estadual de Minas Gerais, Beatriz Cerqueira e o Vereador de Belo Horizonte Arnaldo Godoy destacou o trabalho do professor Arroyo nos processos de luta por políticas públicas e em defesa dos docentes e discentes de Belo Horizonte e do Estado de Minas Gerais. Ainda esteve presente o professor Diego Horta, membro da direção Estadual do Sindi-UTE Minas que destacou as conquistas do sindicato ao lado da universidade e pesquisadores como o professor Miguel Arroyo.

Ainda em homenagem à vida e obra do professor Arroyo, a professora Shirley Miranda comentou sobre sua importância para o pensamento da educação, considerando os sujeitos, seus tempos, suas culturas e possibilidades.

Confira a homenagem e a conferência “Educação no Brasil – Tradições Autoritárias? na integra:

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