[Eleições UFMG 2017] Por uma política para as Licenciaturas!

CADEIRA DO REITOR 01

Por Luciano Mendes de Faria Filho

A maior parte dos coordenadores de Colegiados responsáveis pelos 17 cursos de licenciatura oferecidos pela UFMG está correndo contra o tempo para adaptar seus respectivos cursos às Diretrizes estabelecidas pela Resolução 02/2015 do CNE. Publicada em 01 de julho de 2015, a Resolução estabelece o prazo de 2 anos para que os cursos de licenciatura em funcionamento no país se adaptem às diretrizes ali estabelecidas .

Se as reformas preocupam os coordenadores e demais envolvidos na discussão das licenciaturas, não menos preocupante, para o conjunto da universidade, é a ausência de uma política da universidade para a formação de professores.  A licenciatura, além de gozar de menor prestígio acadêmico é, de certa forma, abandonada pela própria universidade. E isso não é de hoje!

Em recente pesquisa sobre a história e a memória da formação docente na UFMG pudemos ver que, mesmo na Faculdade de Filosofia, criada em 1939 tendo como uma de suas funções precípuas a formação de professores, e incorporada à UMG em 1948, jamais a formação de professores ocupou o primeiro plano das preocupações de seus docentes.  A mesma pesquisa mostrou, por meio da análise do Boletim da UFMG entre 1974 e 1996, que as licenciaturas foram um tema “esquecido” nas páginas do informativo.

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Há que se considerar, por um lado, que há um problema estrutural na presença da formação de professores nas universidades públicas brasileiras, qual seja, o de articular, numa mesma instituição, num mesmo departamento, a pesquisa de ponta e a formação docente.  Fazer pesquisa de ponta, publicar, buscar e administrar recursos financeiros, orientar na pós-graduação, dentre outros, exige tempos e subjetividades que, não raramente, concorrem com aqueles necessários a uma boa formação docente, sem contar que aquelas atividades transferem ao pesquisador/professor universitário muito mais prestígio e poder do que estas.

Além da dimensão acima, outra, de fundo político cultural, é de grande importância: a forma estereotipada e preconceituosa como boa parte dos docentes e dos próprios discentes de nossas universidades concebem a escola pública e aqueles que escolhem se formar para nelas trabalhar. Há um preconceito arraigado na comunidade acadêmica de que aqueles e aquelas que escolhem a licenciatura e, portanto, a docência na escola básica o fazem por não terem condições (ou vocação!) para cursar o bacharelado.

No caso da UFMG e de boa parte de nossas grandes universidades, o problema é agravado pela dificuldade ou, mesmo, recusa das instituições em estabelecer uma política clara de valorização das licenciaturas. Pode-se argumentar, em nosso caso, que também não temos políticas claras de pesquisa e pós-graduação por exemplo. No entanto, como essas são atividades de grande prestígio, os professores se movimentam em direção a elas e, apesar da falta de política, elas funcionam com grande regularidade (mas não sem perda de potência). O mesmo não ocorre com a formação de professores, é evidente.

O desafio do próximo reitorado será, portanto, o de enfrentar um problema que tem sido sistematicamente negligenciado pelos nossos sucessivos dirigentes e buscar responder a uma  questão que poderia ser assim formulada: como valorizar as licenciaturas e tornar a formação de professores uma atividade mais reconhecida no interior da universidade? Certamente não é uma tarefa fácil, mas nem por isso deveria continuar negligenciada.

A elaboração de uma política da UFMG para as licenciaturas, que contemple tanto os princípios quanto as estratégias, ações e metas, é de fundamental importância. E a elaboração de tal política não apenas contaria com o apoio de todos(as) aqueles(as) que lidam com o tema na universidade, mas também poderia incorporar várias ideias e iniciativas já tentadas ou discutidas na UFMG. O investimento no Fórum das Licenciaturas e do Colegiado Especial, ou mesmo a sua reformulação, assim como o estabelecimento de incentivos às/aos docentes que atuam (ou venham atuar) na formação de professores para a escola básica ou, ainda, a consideração da especificidade da carga horária e do número de alunos por professor nos estágios em licenciatura, são algumas das propostas há muito discutidas na Universidade.

Há muitas outras propostas, algumas muito mais ousadas do que as ideias acima elencadas, mas que somente poderão de fato ganhar corpo e avançar se tiverem o efetivo respaldo institucional de um reitorado que considere e priorize a formação de professores como uma estratégia fundamental de fortalecimento da escola básica. Se tal não for feito, continuaremos desenvolvendo, seja no âmbito da extensão ou da pesquisa, várias iniciativas isoladas com a educação básica, mas continuaremos concebendo a formação inicial de professores como um problema da Faculdade de Educação e, quando muito, de alguns poucos abnegados que, nos vários departamentos da universidade, ainda acreditam que as licenciaturas e seus alunos não são a face “b” da UFMG de qualidade, inclusiva e diversa que queremos construir.

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Colabore com a discussão deste e de outros assuntos que você considera importante serem abordados nas Eleições UFMG 2017 enviando seu texto para o e-mail eleicaoufmg2017@gmail.com

 

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