Eleições na UFMG: alargar a nossa capacidade de fazer política!

90 anos ufmg

Por Luciano Mendes de Faria Filho

Este ano, como vem ocorrendo há algumas décadas, temos eleições para Reitor(a) da UFMG! Como  já tive ocasião de explicitar noutro texto,  nesse ano o pleito ocorre num momento particularmente sensível para a instituição e para a sociedade brasileira: no plano interno, saímos dos movimentos de 2016 (luta contra/a favor do golpe, pela greve/contra a greve, a favor das ocupações/contra as ocupações…) bastante fraturados e com dificuldades de avançarmos na construção de um projeto institucional mais pactuado. No plano externo, o golpe que levou Temer e sua turma ao poder tem como corolário a destruição das instituições públicas, montando um cenário muito pouco favorável às universidades.

Assim, nesse momento, a eleição para Reitor(a) vem testar nossa capacidade de estabelecermos acordos internos e nos unirmos em defesa da UFMG e de um projeto mais inclusivo e mais democrático  e, por isso mesmo, de maior qualidade para a  nossa universidade. Ou seja, a eleição vem exigir que alarguemos nossa capacidade de fazer política e reinventar a instituição. Essa exigência se coloca tanto no que se refere ao processo da disputa quanto na capacidade de elaborarmos políticas acadêmico-científicas à altura da UFMG.

No que se refere ao processo, não podemos aceitar que a disputa pelo cargo mais importante da universidade se transforme numa eleição tal como vemos acontecer para o poder executivo  nas três esferas do Estado brasileiro  (Municipal, Estadual e Federal). É preciso que façamos muito melhor! Essa é uma exigência ética e política da qual não podemos abrir mão sob pena de comprometermos a própria capacidade de a universidade contribuir para a reinvenção política e democrática do país. Se no âmbito da universidade, esse microcosmo altamente qualificado política e tecnicamente, não conseguirmos fazer política de qualidade, como exigir que isso aconteça em outros espaços e âmbitos sociais?

Dessa exigência decorre que é preciso organizar a discussão sobre as candidaturas e suas propostas no espaço público da universidade. Uma exigência da comunidade acadêmica e, mesmo, das candidaturas que as propostas para a próxima gestão sejam explicitadas e divulgadas a tempo de serem debatidas e avaliadas criticamente por todos. Do mesmo modo, compreendendo que o campo acadêmico-científico tem certa autonomia em relação ao campo político partidário, é preciso evitar que os rótulos impingidos às candidaturas acabem por embaçar a discussão acadêmica de alto nível que deve se estabelecer em relação às propostas e as experiências de eventuais candidatos ou candidatas à reitoria.

Outro grande desafio político, aqui, é a discussão da própria forma de escolha dos dirigentes da universidade. Como não fomos capazes de fazer esse debate antes, certamente ele estará presente ao longo do ano de forma latente ou explícita. A atual fórmula (70% de peso para os docentes contra 30% para discentes e TAEs) tem sido sistematicamente questionada por parcela significativa dos três seguimentos. A discussão está posta e não será fácil enfrentá-la no calor dos debates para as eleições.

Noutra acepção, nossa capacidade de fazer política tem que se revelar também na construção de um projeto de administração que dê conta dos grandes desafios da universidade. É preciso, por assim dizer, que as candidaturas demonstrem como vão enfrentar a crise pela qual passa a universidade (crise essa que certamente vai se agravar nos próximos anos) e, ao mesmo tempo, qual o horizonte de expectativa podemos construir a partir da experiência que acumulamos até aqui.

Na construção desse horizonte de expectativas para os próximos anos, aspectos importantes são  tanto arco temporal dentro do qual pensamos e projetamos, quanto o diagnóstico de quais são nossos principais desafios. Seria importante que parássemos de pensar a UFMG para um período de três ou quatro anos apenas. Para isso, é preciso recuperar nossa capacidade de planejar a médio e longo prazos, apensar e, certamente, contra as crises que nos atingem continuamente. Se tal não fizermos, sofreremos mais e amargamente o impacto dos desacertos das políticas já estabelecidas pelo governo golpista, algumas das quais durarão muitos anos.

Quanto aos desafios, certamente que eles são muitos: renovação ocorrida no quadro de professores da universidade e a integração desses docentes à instituição; a necessidade de capacitação dos TAEs; as Licenciaturas; os rumos da Pós Graduação; a internacionalização da pesquisa; a necessidade de articulação interna e manutenção da diversidade institucional; o fortalecimento da extensão e do ensino frente à primazia da pesquisa;  qualificação dos periódicos da universidade; as questões postas pelas políticas e ações de inclusão e de fortalecimento das diversidades; a relação com as outras forças políticas, sociais, culturais e econômicas da sociedade; a recuperação da capacidade de planejamento da universidade; as obras inacabadas; o problema da ocupação do espaço e o trânsito no campus Pampulha; a integração do campus de Montes Claros aos demais câmpus da universidade,  dentre outros.

São estes mesmos os desafios principais? Quais outros existem? Como caracterizá-los? Se entendemos que os diagnósticos antecipam prognósticos, como e a partir de que parâmetros vamos estabelecer as prioridades que nos parecem mais importantes para os próximos anos? E para a próxima década? Como as “chapas” que vão concorrer à eleição para a reitoria pretendem envolver a comunidade acadêmica na produção do diagnóstico sobre a universidade e, do mesmo modo, pretendem mobilizar os distintos seguimentos universitários na operacionalização de suas propostas de gestão?

 

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