Educação em BH: novo Prefeito, velhas soluções!

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Ficou patente nos debates ocorridos durante a campanha para as eleições para a Prefeitura de Belo Horizonte, ocorridas neste ano, a pobreza das propostas de quase todos os candidatos para o enfrentamento dos problemas da educação em BH, notadamente a falta de vagas na educação infantil, a desigualdade injustificável da qualidade da educação infantil ofertada pela Rede Municipal e pela Rede Conveniada e  entre as carreiras das professoras da educação infantil e aquelas do ensino fundamental.

A escolha da profa. Angela Dalben, docente aposentada da Faculdade de Educação da UFMG e  profunda conhecedora da rede municipal, para a Secretaria de Educação pelo candidato vitorioso, Alexandre Kalil,  nos fez vislumbrar a possibilidade não apenas  de que as ideias fossem melhores mas que, sobretudo, as propostas fossem diferentes daquelas abraçadas e praticadas pela gestão anterior da capital, comandada pelo empresário Márcio Lacerda.

No entanto, em entrevista concedida ao jornal Hoje em Dia no dia 26 de dezembro, o vice-Prefeito eleito, Paulo Lamac, ex-petista e também ex-aliado do Prefeito Márcio Lacerda,  parece ir em direção contrária ao que a população e os profissionais da educação esperam.

Na entrevista, a temática da educação apareceu diretamente em quatro perguntas formuladas pela repórter Tatiana Moraes, como se pode conferir abaixo:

Qual será o futuro das Umeis?

Temos o desafio de superar a falta de vagas na educação infantil. Seja na construção de novas Umeis, seja com convênios.
E o ensino fundamental?

No ensino fundamental enfrentamos de uma forma muito transparente a realidade do estudante que não tem as condições mínimas de enfrentar a vida. Isso demanda o aprendizado na escola. E a gente tem, lamentavelmente, oriundos da nossa rede que saem sem condições mínimas de leitura e de enfrentar parâmetros mínimos de cobrança que a sociedade apresenta para quem tem diploma. O diploma não pode ser simplesmente entendido como uma questão de cidadania. Assim, ele acaba sendo uma condenação. Entendemos que a diplomação de pessoas que não têm condições concretas de responder aquilo que se espera daquele grau de informação é um desserviço.

E o que fazer?

É necessário criar alternativas dentro da escola fundamental para que os alunos da nossa rede possam, de fato, concluir os estudos com o aprendizado dos fundamentos básicos que caracterizam o estudante concluinte do ensino fundamental. Parece óbvio, mas não é.

Há alguma proposta concreta de valorização do professor?

Um processo de formação contínua, com reciclagem, novos cursos para os profissionais de forma que eles estejam sempre atualizados. Não apenas no conteúdo, mas na forma de lidar com as novas gerações. O jovem de hoje não é o mesmo de 20 anos atrás. A discussão dos modelos pedagógicos, especialmente no ensino fundamental, também é um desafio.

Em que pese o desconto que sempre temos que dar ao processo de edição de toda e qualquer entrevista, edição essa que não raramente desfigura o pensamento do entrevistado, sobrevive na fala do vice-Prefeito eleito  uma pobreza muito grande quanto à questão da educação no município.

O problema das UMEIS não é, definitivamente, apenas e tão somente que faltam vagas na educação infantil no município. É a existência de uma rede muito desigual em que a população mais pobre, a que é mais atendida pelas instituições conveniadas, recebem um atendimento de qualidade muito inferior à rede própria da prefeitura.  É, também, a existência de uma parceria com uma empresa privada de construção civil para construir e administrar UMEIS que impede a autonomia das escolas, privatiza o público e cerceia o trabalho pedagógico das profissionais que nelas trabalham.

Do mesmo modo, o enfrentamento do problema da qualidade do ensino fundamental exige muito mais do que o vice-Prefeito parece conhecer de educação. A reflexão dele é tão rasteira e sem conteúdo que não merece comentário.

No que se refere aos profissionais da educação, a entrevista indica, também, um caminho antigo e mais do que trilhado e reforçado por seus antecessores. Para valorizar os profissionais da educação ele defende “um processo de formação contínua, com reciclagem, novos cursos para os profissionais de forma que eles estejam sempre atualizados”. E nem uma  palavra sobre as questões cruciais: carreiras e salários. Diante da existência ilegal de duas carreiras – uma para educação infantil e outra para o ensino fundamental – e da corrosão do salário dos(as) professores, falar de mais formação parece até uma agressão. Mas o Vice-Prefeito não está sozinho nisso, infelizmente: a mesma proposta de valorização dos profissionais da educação que se faz de Norte a Sul do país: mais e melhor formação! O problema desse tipo de proposta, como já se disse, é que não enfrenta as questões estruturais da educação e, inclusive, da precária formação do professorado.

Oxalá  a Secretária de Educação, ao assumir, tenha autonomia política e administrativa, porque intelectual sabemos que tem,  para esquecer esses pensamentos rasteiros e repisados do vice-Prefeito e buscar enfrentar, de fato e de frente, os grandes problemas da educação no município.

 

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