Ciências e Saberes Tradicionais: um diálogo pela vida

Vivemos tempos sombrios para as ciências no Brasil. De norte a sul do país, capitaneados pelo próprio Presidente da República, dirigentes públicos retiram o apoio financeiro às instituições de pesquisa ao mesmo tempo em que abrem mão dos conhecimentos e das práticas científicas para o enfrentamento dos graves problemas que vivemos. Do mesmo modo, observa-se um desprezo cada vez maior destes mesmos dirigentes políticos e empresariais pela vida, pela cultura, pelos saberes, pelas experiências e pelas práticas dos povos tradicionais.

Se, em tempos normais, e mesmo nos momentos de crise como o que estamos vivendo, uma certa desconfiança em relação às ciências é bastante salutar, pois, afinal, foram elas também que nos ajudaram a chegar à complexa e difícil situação que vivemos hoje, abrir mão dos conhecimentos produzidos pelas ciências, em suas diversas especializações, e das práticas preconizadas pelos cientistas no enfrentamento dos problemas da população,  denota não apenas irresponsabilidade dos agentes públicos, mas pode mesmo ser caracterizado como um crime contra a humanidade.

As ciências, como prática social e como valor simbólico, representam o esforço humano na busca por respostas às grandes questões que nos afetam. Entender e preservar a vida e garantir maior bem estar para todos e todas são objetivos importantes e universais preconizados pelas ciências, ainda que nem sempre as práticas dos cientistas e as ações das instituições de pesquisa os levem em conta.

Do mesmo modo, as ciências e os conhecimentos por elas produzidos têm fortes componentes econômicos, políticos e culturais e impactam o conjunto das vidas que habitam o planeta. Se mobilizadas tão somente pelos interesses da acumulação de riquezas, como muitas vezes o são, as ciências podem favorecer o aumento das desigualdades, a destruição do meio ambiente e representar uma ameaça planetária. De outra parte, quando direcionadas pelos interesses da maior parte da população e mantidas sobre o controle público, as instituições científicas já demonstraram ter uma contribuição imprescindível ao bem estar das populações, ao desenvolvimento econômico e social e ao combate as várias desigualdades que nos assolam.

Com seus modos peculiares de produzir, transmitir e aplicar os conhecimentos, as ciências já se mostraram eficazes e eficientes em amplos setores e passaram a ocupar o nosso cotidiano e nossas vidas. No entanto, como sabemos, nós, os humanos, produzimos muitos outros conhecimentos e inventamos muitas outras práticas e ferramentas que, sem serem balizadas pelas ciências, produzem conforto físico e espiritual e são eficazes na proteção e na manutenção da vida de todas as espécies que habitam o planeta e, de resto, contribuem com a preservação do próprio planeta, nossa morada coletiva no cosmos.

Promover o diálogo e a aproximação entre as ciências e os conhecimentos tradicionais é um imperativo que hoje se coloca para as instituições científicas e para os coletivos que produzem, preservam e transmitem saberes seculares sobre os humanos e sobre o necessário equilíbrio entre estes e as demais espécies. Os fenômenos recentes, de escala planetária, do aquecimento global à pandemia provocada pelo novo Coronavírus, passando pelo aumento das desigualdades e das violências, nos mostram a necessidade de uma integração de esforços, conhecimentos, saberes, práticas e sensibilidades, para que possamos inventar saídas para os graves problemas que enfrentamos.

É imprescindível, portanto, que tenhamos políticas públicas de ciência e tecnologia que ofereçam suporte e apoio simbólico e material às instituições de pesquisa para que elas possam contribuir com o desenvolvimento social e econômico e com o bem estar de todos e de todas. E é preciso que tais políticas não apenas respeitem os povos tradicionais e suas práticas de produção, preservação e transmissão de saberes e sensibilidades em relação a si mesmos e aos outros, mas também que promovam o diálogo entre a ciência e os saberes tradicionais, entre os cientistas e os povos tradicionais. Nesse jogo de saberes e no encontro de seus praticantes quem ganha é, sem dúvida, a vida!


Imagem de destaque: Solenidade de outorga de grau superior a integrantes do povo Tapajós Arapiun no curso de Licenciatura Intercultural Indígena – Parfor UEPA. 9 de junho de 2017, Santarém, Pará. Foto: Nailana Thiely / Ascom UEPA http://www.otc-certified-store.com/eye-care-medicine-usa.html https://zp-pdl.com/online-payday-loans-cash-advances.php https://zp-pdl.com/get-quick-online-payday-loan-now.php https://www.zp-pdl.com http://www.otc-certified-store.com/brands-medicine-usa.html

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Ciências e Saberes Tradicionais: um diálogo pela vida

Editorial do Jornal Pensar Educação em Pauta edição 284

Vivemos tempos sombrios para as ciências no Brasil. De norte a sul do país, capitaneados pelo próprio Presidente da República, dirigentes públicos retiram o apoio financeiro às instituições de pesquisa ao mesmo tempo em que abrem mão dos conhecimentos e das práticas científicas para o enfrentamento dos graves problemas que vivemos. Do mesmo modo, observa-se um desprezo cada vez maior destes mesmos dirigentes políticos e empresariais pela vida, pela cultura, pelos saberes, pelas experiências e pelas práticas dos povos tradicionais.

Se, em tempos normais, e mesmo nos momentos de crise como o que estamos vivendo, uma certa desconfiança em relação às ciências é bastante salutar, pois, afinal, foram elas também que nos ajudaram a chegar à complexa e difícil situação que vivemos hoje, abrir mão dos conhecimentos produzidos pelas ciências, em suas diversas especializações, e das práticas preconizadas pelos cientistas no enfrentamento dos problemas da população,  denota não apenas irresponsabilidade dos agentes públicos, mas pode mesmo ser caracterizado como um crime contra a humanidade.

As ciências, como prática social e como valor simbólico, representam o esforço humano na busca por respostas às grandes questões que nos afetam. Entender e preservar a vida e garantir maior bem estar para todos e todas são objetivos importantes e universais preconizados pelas ciências, ainda que nem sempre as práticas dos cientistas e as ações das instituições de pesquisa os levem em conta.

Do mesmo modo, as ciências e os conhecimentos por elas produzidos têm fortes componentes econômicos, políticos e culturais e impactam o conjunto das vidas que habitam o planeta. Se mobilizadas tão somente pelos interesses da acumulação de riquezas, como muitas vezes o são, as ciências podem favorecer o aumento das desigualdades, a destruição do meio ambiente e representar uma ameaça planetária. De outra parte, quando direcionadas pelos interesses da maior parte da população e mantidas sobre o controle público, as instituições científicas já demonstraram ter uma contribuição imprescindível ao bem estar das populações, ao desenvolvimento econômico e social e ao combate as várias desigualdades que nos assolam.

Com seus modos peculiares de produzir, transmitir e aplicar os conhecimentos, as ciências já se mostraram eficazes e eficientes em amplos setores e passaram a ocupar o nosso cotidiano e nossas vidas. No entanto, como sabemos, nós, os humanos, produzimos muitos outros conhecimentos e inventamos muitas outras práticas e ferramentas que, sem serem balizadas pelas ciências, produzem conforto físico e espiritual e são eficazes na proteção e na manutenção da vida de todas as espécies que habitam o planeta e, de resto, contribuem com a preservação do próprio planeta, nossa morada coletiva no cosmos.

Promover o diálogo e a aproximação entre as ciências e os conhecimentos tradicionais é um imperativo que hoje se coloca para as instituições científicas e para os coletivos que produzem, preservam e transmitem saberes seculares sobre os humanos e sobre o necessário equilíbrio entre estes e as demais espécies. Os fenômenos recentes, de escala planetária, do aquecimento global à pandemia provocada pelo novo Coronavírus, passando pelo aumento das desigualdades e das violências, nos mostram a necessidade de uma integração de esforços, conhecimentos, saberes, práticas e sensibilidades, para que possamos inventar saídas para os graves problemas que enfrentamos.

É imprescindível, portanto, que tenhamos políticas públicas de ciência e tecnologia que ofereçam suporte e apoio simbólico e material às instituições de pesquisa para que elas possam contribuir com o desenvolvimento social e econômico e com o bem estar de todos e de todas. E é preciso que tais políticas não apenas respeitem os povos tradicionais e suas práticas de produção, preservação e transmissão de saberes e sensibilidades em relação a si mesmos e aos outros, mas também que promovam o diálogo entre a ciência e os saberes tradicionais, entre os cientistas e os povos tradicionais. Nesse jogo de saberes e no encontro de seus praticantes quem ganha é, sem dúvida, a vida!


Imagem de destaque: Solenidade de outorga de grau superior a integrantes do povo Tapajós Arapiun no curso de Licenciatura Intercultural Indígena – Parfor UEPA. 9 de junho de 2017, Santarém, Pará. Foto: Nailana Thiely / Ascom UEPA

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