As ciências que nos tornam humanos!

Foi lançado recentemente, pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), órgão ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações, um extenso relatório sobre a situação das Ciências Humanas, Sociais, Sociais Aplicadas, Letras, Linguística e Artes (CHSSALLA) no Brasil. O trabalho resulta de um acordo estabelecido entre o Fórum de CHSSALLA e o MCTIC em 2017, que o encomendou ao CGEE.

O estudo, coordenado pela economista Mayra Juruá Gomes de Oliveira, produz uma cartografia da posição das CHSSALLA dentro do Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia, bem como dos temas das investigações realizadas pelos sociólogos, historiadores, filósofos, linguistas, educadores, artistas e demais pesquisadores que atuam nas universidades e programas de pós-graduação em todo o Brasil.

Os números são eloquentes: a pesquisa demonstra que os 28 mil pesquisadores identificados na pesquisa representam mais de 30% dos doutores que atuam na pós-graduação brasileira e registraram, no período de 10 anos, mais de 10 milhões de produções em seus currículos! A profusão da produção se articula, também, com a capilaridade da presença destes pesquisadores em todo o território brasileiro, bem como com a atenção dada por eles aos temas que mais afligem a vida da população: educação, saúde, violência, segurança, alimentação, água, abastecimento, democracia, autoritarismo, agricultura, terra, racismo, sexismos, LGBTQIfobias, etc etc etc.

O relatório também explicita com muita clareza a intersecção das pesquisas das CHSSALLA com as políticas públicas estabelecidas pelos governos federal, estaduais e municipais para o atendimento aos direitos e às demandas da população. Do mesmo modo, os pesquisadores destas áreas não são indiferentes à elaboração de projetos e ações que visam o desenvolvimento econômico, social, científico e tecnológico brasileiro, atuando de maneira incisiva no combate às desigualdades que, de norte a sul, marcam o país.

Nos espaços do Pensar a Educação já salientamos a importância das CHSSALLA para que tenhamos um país mais igualitário, mais democrático e mais desenvolvido. Noutra ocasião, chamamos a atenção para o fato de que, num momento  de crescente violência e de pregação obscurantista pelos agentes do Estado, a começar pelo próprio Presidente da República, as tradições das CHSSALLA são de fundamental importância justamente porque, frente à VIOLÊNCIA, oferecem a PALAVRA, o DIÁLOGO e a possibilidade do ENTENDIMENTO.

Toda essa importância não se coaduna, portanto, com as decisões recentes do MTCTIC e do CNPq de subalternizar as CHSSALLA em relação ás demais áreas do conhecimento. Aqueles que se ocupam da gestão das agências de apoio e de fomento à pesquisa no Brasil deveriam ser os primeiros a valorizarem tais áreas, inclusive porque os pesquisadores das demais áreas jamais chegariam onde chegaram sem  a contribuição, daquelas. Nesse sentido, nunca é demais lembrar: todas as ciências são humanas e sem as CHSSALLA, seus os conhecimentos e as tradições que cultivam, jamais chegaríamos a sermos humanos como nós nos compreendemos hoje!


Imagem de destaque: Vanessa Macêdo

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As ciências que nos tornam humanos!

Editorial do Jornal Pensar a Edução em Pauta 276

Foi lançado recentemente, pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), órgão ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações, um extenso relatório sobre a situação das Ciências Humanas, Sociais, Sociais Aplicadas, Letras, Linguística e Artes (CHSSALLA) no Brasil. O trabalho resulta de um acordo estabelecido entre o Fórum de CHSSALLA e o MCTIC em 2017, que o encomendou ao CGEE.

O estudo, coordenado pela economista Mayra Juruá Gomes de Oliveira, produz uma cartografia da posição das CHSSALLA dentro do Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia, bem como dos temas das investigações realizadas pelos sociólogos, historiadores, filósofos, linguistas, educadores, artistas e demais pesquisadores que atuam nas universidades e programas de pós-graduação em todo o Brasil.

Os números são eloquentes: a pesquisa demonstra que os 28 mil pesquisadores identificados na pesquisa representam mais de 30% dos doutores que atuam na pós-graduação brasileira e registraram, no período de 10 anos, mais de 10 milhões de produções em seus currículos! A profusão da produção se articula, também, com a capilaridade da presença destes pesquisadores em todo o território brasileiro, bem como com a atenção dada por eles aos temas que mais afligem a vida da população: educação, saúde, violência, segurança, alimentação, água, abastecimento, democracia, autoritarismo, agricultura, terra, racismo, sexismos, LGBTQIfobias, etc etc etc.

O relatório também explicita com muita clareza a intersecção das pesquisas das CHSSALLA com as políticas públicas estabelecidas pelos governos federal, estaduais e municipais para o atendimento aos direitos e às demandas da população. Do mesmo modo, os pesquisadores destas áreas não são indiferentes à elaboração de projetos e ações que visam o desenvolvimento econômico, social, científico e tecnológico brasileiro, atuando de maneira incisiva no combate às desigualdades que, de norte a sul, marcam o país.

Nos espaços do Pensar a Educação já salientamos a importância das CHSSALLA para que tenhamos um país mais igualitário, mais democrático e mais desenvolvido. Noutra ocasião, chamamos a atenção para o fato de que, num momento  de crescente violência e de pregação obscurantista pelos agentes do Estado, a começar pelo próprio Presidente da República, as tradições das CHSSALLA são de fundamental importância justamente porque, frente à VIOLÊNCIA, oferecem a PALAVRA, o DIÁLOGO e a possibilidade do ENTENDIMENTO.

Toda essa importância não se coaduna, portanto, com as decisões recentes do MTCTIC e do CNPq de subalternizar as CHSSALLA em relação ás demais áreas do conhecimento. Aqueles que se ocupam da gestão das agências de apoio e de fomento à pesquisa no Brasil deveriam ser os primeiros a valorizarem tais áreas, inclusive porque os pesquisadores das demais áreas jamais chegariam onde chegaram sem  a contribuição, daquelas. Nesse sentido, nunca é demais lembrar: todas as ciências são humanas e sem as CHSSALLA, seus os conhecimentos e as tradições que cultivam, jamais chegaríamos a sermos humanos como nós nos compreendemos hoje!

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