Isac Rocha da Silva¹
Robson Fonseca Simões²
[…] Escreverei “Um Paraíso Perdido”, por exemplo, ou qualquer outro em cuja amplitude eu não fosse capaz de uma definição positiva dos aspectos de uma terra que, para ser bem compreendida, requer o trato permanente de uma vida inteira – Euclides da Cunha
A epígrafe com a voz de Euclides da Cunha e a imagem, que destaca o atual campus do Instituto Federal de Rondônia, em Ariquemes, podem inspirar brasileiros a verem com outros olhos os territórios do norte brasileiro, que precisa ser anunciado, requerendo atenção das entidades, instituições e dos sujeitos.
O atual estado de Rondônia, integrante das terras do norte brasileiro, que um dia já fora conhecido por paraíso da borracha, com o passar dos anos transformou-se em celeiro do Agronegócio. Essa realidade se intensificou sobretudo a partir da década de 1970, com a implementação de políticas públicas governamentais que procuravam desenvolver a região. Dentre as ações concretas mais importantes destaca-se a criação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, responsável por conceder lotes e fiscalizar as benfeitorias dos desbravadores interessados em pedaço desse chão.
Mesmo com os obstáculos de difícil acesso, condições adversas de moradia, doenças endêmicas como a malária, falta de escola, entre outras, a Amazônia rondoniense atraiu imigrantes de diversas partes do país, compondo uma mistura no caldeirão cultural cuja força de trabalho impulsionou o progresso socioeconômico do Estado; soma-se a este movimento, a abertura da br-364 final dos anos 60, também considerada um marco para a região ao possibilitar o surgimento de povoados que se multiplicavam ao longo de suas margens.
No entanto, à medida que a região era ocupada, abrindo-se para oportunidade de crescimento, emergiam também questões a serem pensadas, desafiando gestores públicos ao planejamento e execução de ações que viesse ao encontro da realidade local. De que maneira promover o desenvolvimento sustentável? Como garantir a permanência e a independência de toda essa gente na nova terra?
A ampliação e inserção de novas culturas agrícola e pecuária, consequentemente, levaram a demandas de apoio técnico especializado ao homem do campo e setores produtivos. Nessa conjuntura, a Educação Profissional procurou preencher as lacunas, desempenhando papel de destaque ao longo do processo de transformação regional.
Em meio a chegada de indústrias do setor Agro, implementação de cooperativas e a necessidade de se fortalecer a agricultura familiar, uma das iniciativas foi fundamental para atender aos novos modelos do arranjo produtivo: a implantação da Escola Média de Agropecuária de Ariquemes, estado de Rondônia, em 1987, vinculada e administrada pela CEPLAC – Comissão Executiva do Plano Cacaueiro do Ministério da Agricultura, instituição localizada na área rural desse município, tendo ainda em comum a oferta pioneira do Curso Médio Técnico em Agropecuária.
Para se ter a dimensão da relevância do referido Curso de Educação Profissional pública para o contexto de desenvolvimento do agronegócio regional, mesmo com a transferência administrativa e patrimonial das suas Escolas Técnicas, a partir da reorganização da rede Federal de ensino pela Lei nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008, passando a constituir-se Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Rondônia – IFRO, o Curso técnico em Agropecuária passou por diversas reformulações curriculares ao longo de sua trajetória visando atender as demandas de legislação da Educação, avanços tecnológicos e socioeconômicos e até os dias atuais mantém-se firme formando dezenas de profissionais técnicos todos os anos, fomentando a empregabilidade e geração de renda.
É inegável a contribuição histórica da Educação Profissional, especialmente voltados ao Agronegócio, para o desenvolvimento da região. Nesse contexto, o Curso Técnico em Agropecuária assumiu o protagonismo nesse processo de transformação. No entanto, apesar dos avanços, ainda parece haver um longo caminho a ser percorrido por essa modalidade de Educação para abarcar os aspectos vinculados à formação humana.
A Educação Profissional rondoniense está preparada para ser uma ponte para o futuro. Os desafios são muitos: conectar-se aos novos modelos e conjunturas socioeconômicas, continuar prestando a sua parcela de contribuição ao progresso e desenvolvimento da Amazônia ocidental, promover oportunidades de emprego e renda com sustentabilidade ambiental, com responsabilidade social, o que pode abrilhantar ainda mais esta história nos territórios do estado de Rondônia.
1 – Doutorando do Programa Profissional em Educação Escolar – PPGEE da Universidade Federal de Rondônia – UNIR.
2 – Professor Doutor do Programa Profissional em Educação Escolar – PPGEE da Universidade Federal de Rondônia – UNIR.
Para saber mais
A citação inicial trata-se de um trecho de uma carta de Euclides da Cunha encaminhada a Artur Lemos ao poder narrar sobre as suas primeiras impressões sobre a região Amazônica. Um paraíso perdido: reunião de ensaios amazônicos / Euclides da Cunha; seleção e coordenação de Hildon Rocha. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2000. 393 p. (Coleção Brasil 500 anos).
Imagem de destaque: IFRO Campus Ariquemes, antiga EMARC.