A defesa dos estudantes e o ataque da polícia: o que se joga nesse jogo?

A defesa dos estudantes e o ataque da polícia: o que se joga nesse jogo?

Como muito já se disse aqui, a educação é uma das dimensões mais polissêmicas do mundo social e a escola, uma das suas formas mais visíveis e institucionalizadas, um dos objetos mais disputados pelos diferentes sujeitos que lutam pelos destinos do mundo. Educar as novas gerações na escola é, desde há muito tempo, considerada uma das formas mais seguras de determinar o futuro. Será?

O que está ocorrendo no Brasil, e em várias partes do mundo nos últimos anos, parece reacender velhas polêmicas sobre a capacidade e a legitimidade das gerações mais velhas introduzirem as mais novas no mundo da cultura e da política por meio da educação. Diante da nossa incapacidade de bem acolher as crianças e os jovens que chegam ao mundo, teimamos em culpabilizá-los pelos seus próprios e, às vezes, trágicos destinos. As insistentes defesas da diminuição da maioridade penal são, disso, exemplo cabal.

Diante da incapacidade do Estado de fazer funcionar a mais elementar e universal das instituições públicas de acolhida das novas gerações, a escola, queremos, agora, entregar a sua gestão às forças de repressão, como se nossas escolas devessem mais se assemelhar a cadeias e prisões do que a centros de aprendizado da cidadania, da democracia e da liberdade. A transferência de escolas para a gestão da Polícia Militar é mais um capítulo da renúncia do Estado à função de estabelecer políticas e ações que atendam e garantam os direitos mais elementares de nossa juventude.

Diante dos descalabros mais diversos praticados pelos nossos governantes e da clara adesão de muitos dos governados às mais diversas práticas de apropriação privada dos bens públicos, os alunos, as novas gerações, reagem, estabelecendo uma clara inversão de papeis e de valores: são os mais jovens que teimam em defender o mundo, inclusive os espaços públicos, da sanha predatória dos adultos.

No afã de defender a escola e a ampliação de suas possibilidades e projeto de futuro, os adolescentes e jovens ocupam as escolas. Ao fazerem isso, defendem também o espaço público e os valores republicanos. Qual é a resposta do poder público, com a clara adesão de amplos setores que sempre se apropriaram privativamente dos bens públicos, quando os alunos defendem a escola? Envia-lhes uma incontestável saudação autoritária e violenta na forma de cassetetes, bombas e balas! E tais saudações são levadas, de norte a sul do país, pelas mesmas instituições para as quais querem transferir a gestão da escola pública frequentada por aqueles mesmos jovens e adolescentes aos quais, sem pejo, querem agredir e prender.

É sempre possível acreditar que por caminhos tortuosos chegaremos a um futuro de paz, bonança e alegria! Mas o mais provável é que, com as opções e decisões tomadas hoje, um futuro bastante sombrio se aproxima, e o faz rapidamente, atendendo aos apelos que continuamente lhe são feitos, por governantes e governados, por mais desigualdade, menos democracia, menos política e mais polícia nas ruas e nas escolas. Escovar essa história a contrapelo, antes mesmo que se torne ainda mais cruel a nossa realidade, é um apelo que até os mortos fazem aos vivos de bom caráter e disponíveis para a ação política.

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