Temos muito que aprender com os jovens – Natalia Gil

Temos muito que aprender com os jovens

Natalia Gil

As movimentações de jovens estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul nas últimas semanas têm me feito pensar e rever várias impressões sobre a universidade, sobre política, sobre militância. São 14 os prédios ocupados por estudantes mobilizados contra a PEC 55 e a MP 746. As ocupações atingem mais de 30 cursos e alteraram radicalmente o funcionamento de algumas unidades da Universidade. A primeira ocupação foi realizada no curso de Letras no dia 26/10, seguida da ocupação do prédio da Faculdade de Educação, no 31/10, e, de lá para cá, vários outros. Alguns, como o Direito, por exemplo, sem nenhum histórico de mobilização, de participação em greves, etc.

As ocupações impedem o acesso às salas de aula. A situação é inusitada, na medida em que difere muito dos processos que estamos habituados a ver nas greves de docentes e de servidores técnico-administrativos – quando apenas algumas aulas param, quando somente alguns setores fecham as portas. A ampla e efetiva restrição do acesso aos espaços tem o poder de paralisar atividades que nas greves não costumam parar, como as aulas da pós-graduação, a realização dos eventos já marcados e as aulas de professores contrários ao movimento. Curioso observar a efetividade de uma iniciativa como essa, aparentemente simples, mas muito inovadora e, pelas duas razões conjugadas, muito interessante.

Penso que há pelo menos três fortes razões que fazem deste um movimento com tanta efetividade. Primeiro, certamente, o próprio motivo da mobilização (nada como um grande inimigo comum para unir inimigos locais!). A percepção de que a aprovação da PEC 55 coloca em risco iminente o funcionamento das universidades federais instiga ao combate os diferentes setores: discentes, docentes e servidores técnico-administrativos (mas a ação conjunta ainda é um desafio!). A segunda razão talvez seja, exatamente, o inusitado da situação. Gestores e professores da Universidade – e não importa se são aqueles contra ou aqueles a favor das ocupações – não sabem bem como proceder nesse caso. As reações têm sido estranhas, ambíguas, atrasadas… A terceira razão parece ser o protagonismo dos estudantes, que conduzem uma ação contra a qual não há regulamentação disciplinar estabelecida pela instituição. Por outro lado, uma desocupação violenta de jovens universitários, muitos dos quais oriundos das classes médias, poderia ter repercussão negativa para o governo.

As reações dos docentes frente à situação são as mais variadas, obviamente. Há quem busque salas em outros prédios para dar suas aulas, há quem atenda alunos no bar da faculdade, há quem recorra aos recursos da educação à distância. Mas há muitos que apoiam as ocupações, que se veem encabulados diante do desconcertante protagonismo e da veemência dos estudantes, mostram-se verdadeiramente preocupados com os riscos à segurança dos jovens seja por uma eventual ação violenta de desocupação oficial dos prédios, seja pelos confrontos possíveis entre estudantes das ocupações e outros estudantes contrários à elas.

Uma vez que a restrição do acesso inviabiliza a utilização das salas, e que se considerou justa a razão da mobilização em cinco das unidades ocupadas, os docentes deliberaram pela suspensão das aulas. Vários departamentos fizeram moções de apoio às ocupações. O Conselho Universitário aprovou moção onde se lê que são legítimas as manifestações do movimento estudantil e solidariza-se com a luta em defesa da educação pública. O Reitor publicou Ofício em 03/11 em que afirma que “temos um compromisso, nós todos, para com a preservação do caráter público das Universidades Federais, com a gratuidade do ensino, com a garantia de recursos financeiros e de pessoal para IFES, temos um compromisso com a autonomia e com uma política séria de investimentos públicos em educação, pesquisa e extensão”. Por essa razão, apresenta estudo em que propõe uma simulação retroativa de aplicação da PEC onde se conclui que o orçamento da UFRGS em 2015 seria menos que a metade se a PEC estivesse em vigor desde 2006.

Sem deixar de reconhecer que as moções de apoio às ocupações e as afirmações acerca da gravidade da aprovação da PEC para o futuro da educação pública são também importantes, é preciso dizer que isso é pouco. Tenho a impressão, sinceramente, que os professores têm muito que aprender com a juventude. É desconfortável notar que muitos de nós expressam verbalmente, ou por escrito (no Facebook, por exemplo), orgulho dos nossos estudantes e apoio às suas ações combativas, mas não somos capazes de agir. E quando pensamos em ações, só nos vêm na cabeça velhas formas. Ainda assim, fiquei feliz quando hoje em Assembleia de Docentes da UFRGS votamos pela deflagração de greve. Estava insustentável e esquizofrênico nos mantermos a reboque das ocupações, sem fazermos algo que efetivamente representasse apoio (para além de levar umas maçãs para os que estão nas ocupações e dar uns tapinhas nas costas de nossos valorosos estudantes!). Tudo bem, é uma fórmula antiga… mas tenhamos calma, nós professores estamos ainda nas primeiras lições de protagonismo e mobilização com efetividade. Nossos estudantes ainda têm muito a nos ensinar… a propósito, Paulo Freire sempre soube!

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