CL – Nº 70 – 12/12/2014

Hannah Arendt e a Condição Humana

Isabel de Oliveira e Silva

Convidar a ler é, ao mesmo tempo, apresentar uma obra e um autor ou uma autora e revelar um pouco de quem convida. O convite tanto pode ser de leituras feitas há muito tempo ou de obras que foram lidas muitas vezes e que, por isto, fazem parte daquilo que nos afetou de alguma forma e de que temos certo domínio. Mas pode, também, ser de algo que estamos desvendando no momento e que, também pela intensidade com que tem nos afetado, nos instiga a compartilhar. É o caso do convite que agora faço.

No campo da educação, são muitos os temas, problemas e situações com os quais lidamos cotidianamente. Se não ficarmos atentos(as), perdemos de vista que, no fundo – o fundamento mesmo de nossa prática – tratamos da condição humana, em seus diversos momentos, situações, possibilidades, limites e, sobretudo, da imprevisibilidade que nossas ações carregam.

É com as perguntas sobre nosso lugar de educadores(as) que busquei a leitura de A condição humana, da filósofa Hannah Arendt. Trata-se de uma obra densa, na qual o pensamento clássico é revisitado pela autora de modo a buscar e refletir sobre as origens, sobre os fundamentos do que constitui o humano, do que nos distingue das demais formas de vida e daquilo que nos torna responsáveis por algo que transcende a nossa existência efêmera.

Para Arendt a condição humana depende do Mundo construído pelos homens (e mulheres), daquilo que é artificial, no sentido de se constituir no artifício humano que se interpõe entre as pessoas, separando-as em suas singularidades e, ao mesmo tempo, funcionando como ligação entre todos. Para ela, é na ação humana – nos feitos e palavras – que se constitui o Mundo e este resulta daquilo que juntos decidimos que deve ser preservado e, assim, revelar o espírito de cada época. Se as ações necessárias à nossa sobrevivência física de certa forma nos aprisionam por tratar-se de necessidades que devem ser satisfeitas, a construção do artifício humano é uma decisão de todos que compartilham uma linguagem comum na construção do Mundo comum.

Os homens (e mulheres), como seres singulares, têm uma vida limitada que vai do nascimento à morte. 

Nascimento que ocorre em um mundo preexistente que permanecerá após a breve existência de cada um. Assim, o amor ao mundo ou o amor mundi é, para ela, a condição de preservação da condição humana para si mesmo e para as novas gerações. Àqueles que aqui estão como adultos, compete cuidar do mundo, das coisas construídas pelos homens – as simbólicas e as materiais. Esse cuidado, expressão da responsabilidade por si próprio e pelas novas gerações, se faz na dimensão humana da ação, que não se faz no isolamento, mas no espaço público, onde decidimos o que deve ser preservado, que não deve ser consumido, mas ao contrário, retirado do uso para que revele quem somos.

A ação é, para ela, uma das dimensões da condição humana, ao lado do trabalho que é a atividade voltada para o suprimento das necessidades vitais e das obras, que são a construção do artifício humano. E é na ação, quando nos encontramos entre nossos iguais, sob a luz pública, que se opera a natalidade, categoria pela qual a autora define a condição de existência no espaço público, onde vemos e nos fazemos ser vistos e onde, necessariamente, compartilhamos algo.

A Educação é, para ela, uma ação humana que se constitui na expressão do Amor Mundi, pois é no acolhimento e no cuidado de cada novo ser humano que nasce, que afirmamos nossa responsabilidade pelo mundo. E é, também nessas ações – de cuidar-e-educar – que revelamos se verdadeiramente amamos nossas crianças.

Com esse convite à leitura, digo um pouco do que me parece fortemente presente nas formas de ação de muitos professores e professoras, mas raramente pensado no sentido público e de responsabilidade pelo mundo. O amor que move o educador, nada tem de negação da profissionalidade de sua atividade. Ao contrário, como responsável por apresentar o mundo a quem chega, criando as condições para que este possa não apenas preservar, mas ser a possibilidade no novo nesse mundo que para ele sempre será velho,  só pode fazê-lo por meio de enorme senso de responsabilidade e de amor pelo outro e pelo mundo que constitui nossa humanidade.

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