Uma luta necessária pela dignidade

Sind-REDE/BH
Melissa Oliveira 

A redução da jornada de trabalho é uma pauta que já atravessa várias gerações, sendo um clamor histórico da classe trabalhadora. Hoje, o debate retorna com força, impulsionado por novos movimentos sociais e pelo apoio de parlamentares, reacendendo a discussão sobre a necessidade de repensar a escala exaustiva de 6×1 e as 44 horas semanais.

O movimento Vida Além do Trabalho (VAT), surgido espontaneamente nas redes sociais, exemplifica como demandas antigas podem ganhar novo vigor ao dialogar com as aspirações de uma juventude conectada e preocupada com qualidade de vida. Mais que um grito por mudanças estruturais, o VAT denuncia as condições desumanas impostas pelo atual modelo de trabalho, que limita o tempo para lazer, estudo, autocuidado e convivência familiar.

Com apoio de milhões, a mobilização ultrapassou o ambiente virtual e chegou ao Congresso Nacional, culminando na apresentação de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) pela deputada Erika Hilton (PSOL/SP). A conquista das 171 assinaturas necessárias para oficializar a PEC demonstra que a pauta não é apenas urgente, mas também capaz de mobilizar diferentes setores da sociedade.

Contudo, a discussão não está isenta de polarizações. Enquanto movimentos progressistas defendem a necessidade de priorizar a qualidade de vida, críticos, como parlamentares do PL, mantêm discursos que perpetuam a lógica do trabalho até a exaustão. Nesse embate, memes e vídeos viralizam, levando a pauta a ultrapassar as “bolhas” ideológicas e fomentando um debate público robusto.

A resistência por parte de algumas autoridades, como o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, reflete a dificuldade de incorporar mudanças estruturais no mercado de trabalho. Ao sugerir que a redução da jornada seja resolvida por acordos coletivos, o governo federal parece subestimar o caráter sistêmico do problema, ignorando que milhões de trabalhadores não têm força sindical ou poder de barganha para negociar condições dignas.

A luta pela redução da carga horária não é apenas um pleito econômico; é uma reivindicação pela dignidade humana. Em um mundo cada vez mais competitivo e automatizado, não é razoável que o trabalho continue centralizando a vida, em detrimento da saúde física, mental e emocional.

O movimento VAT e as discussões que ele desperta nos convidam a refletir: que tipo de sociedade queremos construir? Uma que perpetua a lógica da produtividade a qualquer custo ou uma que reconhece o direito ao descanso, ao aprendizado e à vida em sua plenitude? É hora de ouvir o clamor das ruas e das redes, pois vida além do trabalho não é luxo – é necessidade.

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