Um pouco de pragmatismo

Wojciech Andrzej Kulesza

Na última década do século XX, quando começou para valer a voga da educação a distância no Brasil, um colega comentou: “Ora, isso eu já pratico há muito tempo, pois sinto que os alunos estão tão distantes quando eu falo…”. Essa anedota de um professor de didática ilustra muito bem a relatividade envolvida nessa modalidade de ensino. A percepção da distância não é absoluta, depende das circunstâncias nas quais a pessoa está imersa. O conceito isomorfo de tempo exemplifica melhor esse relativismo, como na indeterminação da duração temporal presente na canção: “o tempo passou num instante”. A maneira como percebemos a grandeza do espaço é subjetiva, fazendo com que a presença, a proximidade entre professor e aluno, seja relativa. Do mesmo modo, a defasagem entre eles durante o processo de aprendizagem diminui conforme se intensifique a intersecção de suas subjetividades. Não é a intimidade uma redução das subjetividades a um mesmo entendimento?

Na relação professor-aluno é essencial que a comunicação possa fluir sem impedimentos. A distância, embora possa dificultar, não constitui necessariamente um empecilho à comunicação. Estão aí as cartas de antigamente e o twitter de hoje encurtando distâncias e viabilizando a comunicação. McLuhan denominou este tipo de dispositivos de “extensões do homem”, como se os meios de comunicação estendessem nossas sensibilidades até os outros, não importa quão distantes estejam. Ao falar ao microfone da rádio estou falando ao ouvido de alguém que me escuta no seu radinho de pilha… O desafio de romper com a dicotomia ativo/passivo na comunicação, geralmente estabelecendo uma relação dominante/dominado, no sentido de transformar a comunicação em via de mão dupla, tem sido uma inquietação constante na educação. Entretanto, não será a distância física entre professor e aluno que impedirá que se estabeleça uma relação dialógica no ensino.

A imensa maioria de nossas comunicações é mediada pela linguagem verbal havendo hoje em dia uma utilização crescente de linguagens visuais. As linguagens de sinais são um bom exemplo do esforço em estender a linguagem verbal para públicos específicos, configurando-se até um verdadeiro idioma, como é o caso da LIBRAS. O livro didático, ilustrado ou não, digital ou impresso, constitui o meio de comunicação dominante no ensino. Como uma representação do professor, de suas lições, sua ampla utilização revela a predominância de um modelo de ensino hierárquico no qual a possibilidade de diálogo só pode ser viabilizada pela mediação do docente em sala de aula. A digitalização do livro impresso trouxe consigo o hipertexto que remete o leitor diretamente a outros escritos, imagens e vídeos. Essa transformação fez com que o livro didático se apresente hoje como um material multimídia, onde as possibilidades de diálogo são enormemente ampliadas. A proliferação de tutoriais autoinstrutivos cada vez mais complexos aponta exatamente na direção de uma participação mais ativa do leitor aprendiz.

Vemos assim que a concretização efetiva de uma educação a distância não só não impede a comunicação, mas também abre novas possibilidades para que a relação educador/educando se torne dialógica, contemplando todas as dimensões do ato educativo, da afetividade à cognição. Tudo isto é tanto mais verdadeiro quanto maior for a autonomia dos sujeitos, fazendo assim da idade cronológica uma variável fundamental para se definir o grau com que as situações de aprendizagem devam ser presenciais ou não. Pense-se, para dar um exemplo extremo, na relação que se estabelece entre pai e recém-nascido na qual, qualquer que seja a pedagogia, prevalece o caráter subordinado da relação uma vez que é o cuidado que importa. Também não podemos esquecer que a interação entre os educandos precisa ser viabilizada no ensino a distância, por constituir um fator educacional importante, como a psicologia da aprendizagem tem demonstrado.

Os desafios colocados pela atual pandemia à educação aceleraram os ensaios que vinham ocorrendo no sentido da viabilização de metodologias capazes de incrementar a interação educador/educando no ensino de massas por meio de uma eficaz educação a distância, que não deve ser confundida com seu simulacro, o chamado ensino meramente remoto. Constrangidos pelas circunstâncias, os educadores têm recorrido cada vez mais às soluções advindas das novas tecnologias para ampliar o alcance e a qualidade da comunicação. E, com certeza, muitas das soluções encontradas sobreviverão à pandemia e poderão assim, em melhores condições, ser aplicadas em nossas escolas. A resistência de professores e pais a uma volta precoce e atribulada às aulas presenciais, em nome da defesa da saúde e da vida, tem como corolário a desejável continuidade de significativas experiências emergenciais de ensino em curso em nossas escolas.


Imagem de destaque: August de Richelieu / Pexels https://zp-pdl.com/fast-and-easy-payday-loans-online.php https://zp-pdl.com/fast-and-easy-payday-loans-online.php https://zp-pdl.com/best-payday-loans.php http://www.otc-certified-store.com/erectile-dysfunction-medicine-usa.html

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *