Todo dia é Dia da (de) Educação! A urgência de políticas públicas perenes

Prof. Paulo Henrique de Souza 

Existe apenas um bem, o saber, e apenas um mal, a ignorância.

Sócrates (filósofo grego)

A educação não é feita de um evento, mas um processo contínuo. Não se resume a datas simbólicas, comemorativas ou discursos ocasionais — ela acontece todos os dias, em cada sala de aula, em cada livro aberto, em cada mente que se expande. Por isso, é essencial entender que todo dia é dia de investir, valorizar e fortalecer a educação, e isso só será possível com políticas públicas consistentes, planejadas para o longo prazo e livres de descontinuidades causadas por mudanças de governo ou interesses passageiros.

O Brasil já conhece os efeitos negativos de projetos educacionais fragmentados, que nascem e morrem a cada ciclo político. Escolas precisam de infraestrutura permanente, professores exigem valorização contínua e alunos merecem um currículo que os prepare não apenas para o presente, mas para os desafios do futuro. Educação de qualidade não é gasto, é investimento — e como todo investimento robusto, exige tempo, método e persistência.

Políticas perenes demandam consenso social e compromisso de todas as esferas do poder. É preciso:

  • Planejamento multigeracional, com metas claras e avaliações periódicas;
  • Financiamento estável, garantindo recursos mesmo em cenários econômicos adversos;
  • Valorização dos profissionais da educação, com formação continuada e carreiras atrativas;
  • Inovação curricular, alinhando conhecimentos tradicionais às demandas do século XXI.

A verdadeira transformação educacional não se faz com reformas superficiais, mas com a convicção de que a educação é alicerce inegociável de um país justo e desenvolvido. Que possamos agir hoje — e todos os dias — com a seriedade que o tema exige, pois o futuro não espera, e nenhuma nação avança sem enxergar a educação como prioridade permanente.

Porque educar é construir, todos os dias, o amanhã.

No contexto de Belo Horizonte, assim como grandes cidades, já sentiu na prática os impactos negativos da rotatividade de secretários municipais e da descontinuidade de políticas educacionais. Em poucos anos, a capital mineira viu mudanças frequentes na gestão da educação, muitas vezes acompanhadas de reinícios de projetos, prioridades sendo alteradas e investimentos perdendo eficácia. Esse cenário reforça uma lição crucial: a educação precisa de projetos municipalizados, consolidados como políticas de Estado, e não apenas como planos de governo passageiros.

Não basta ter boas intenções ou planos bem-intencionados que duram apenas um mandato. A realidade das escolas, dos professores e dos alunos exige continuidade, com ações estruturadas que transcendam trocas de gestão. Projetos municipalizados — ou seja, iniciativas pensadas a partir das necessidades locais, com participação da comunidade e compromisso de longo prazo — são fundamentais para garantir avanços reais.

Agora que temos nova secretária municipal e possivelmente novo staff (grupo ou equipe), por que Belo Horizonte precisa dessa perspectiva?

  • Evitar a descontinuidade: A cada nova gestão, projetos são abandonados ou reinventados, desperdiçando tempo e recursos.
  • Enraizar boas práticas: programas como formação docente, infraestrutura escolar e inclusão digital devem ser prioridades permanentes, não bandeiras temporárias.
  • Engajar a comunidade: quando a educação é tratada como política de Estado, e não de governo, famílias, professores e alunos se tornam parceiros ativos no processo.
  • Otimizar recursos: investimentos em educação só geram retorno com tempo e consistência; projetos interrompidos é dinheiro público mal aplicado.

Belos Horizonte tem todas as condições de ser exemplo em educação municipalizada — mas para isso, é preciso que seus gestores entendam que a sala de aula não pode esperar. A cidade merece um pacto pela educação, com metas claras, acompanhamento técnico e, acima de tudo, a garantia de que os avanços conquistados hoje não serão abandonados amanhã.

Urge pensar e agir para que a  educação seja verdadeiramente inclusiva, garantindo que nenhuma criança ou adolescente fique para trás — especialmente os estudantes atípicos (com autismo, TDAH, deficiências intelectuais, síndromes raras ou outras condições que demandam suporte especializado). No entanto, muitas famílias enfrentam uma jornada exaustiva por direitos básicos: acesso a profissionais qualificados, adaptações pedagógicas efetivas e políticas públicas que não pareçam apenas no papel.

Falta de suporte nas escolas: Muitas unidades não têm professores/profissionais  de apoio a contento , salas de recursos ou formação continuada para lidar com a diversidade.

Barreiras no diagnóstico e acompanhamento: Filas intermináveis no SUS e na rede privada deixam crianças sem terapias essenciais (fonoaudiologia, psicologia, TO, etc.).

Invisibilidade nas políticas públicas: Planos municipais e estaduais ignoram frequentemente as necessidades específicas desses alunos, tratando a inclusão como “modismo” e não como obrigação.

O que precisa mudar?

Atendimento multidisciplinar garantido: Parcerias entre saúde e educação para agilizar diagnósticos e terapias.

Formação docente obrigatória: Capacitação em neurodiversidade e práticas pedagógicas inclusivas para todos os profissionais da rede.

Participação das famílias nas decisões: Criação de comitês com pais e cuidadores para monitorar a implementação de projetos.

Verba vinculada: Recursos específicos (e fiscalizados) para adaptações físicas, tecnológicas e pedagógicas.

Cuidar dos professores e educadores de apoio: afinal, inclusão não é favor, é direito!

Enquanto famílias precisarem brigar na justiça por uma vaga ou profissional de apoio, a educação inclusiva seguirá sendo um privilégio, não uma realidade. É hora de todos na municipalidade assumirem que crianças atípicas não podem esperar: elas precisam de apoio hoje, na escola regular, com dignidade e qualidade.

Não basta matricular — é preciso incluir. E isso se faz com políticas urgentes, permanentes e feitas a muitas mãos. 

Nossa crença é que Educação se faz com planejamento, não com improviso. E, principalmente, se faz todos os dias.

Vivamos os dias da Educação! Todos!

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