Reforma da Previdência: “modernidade” com ares de eugenia

Tiago Tristão Artero

Não teve jeito! Convenientemente, a ocupação das terras brasileiras necessitava de escravos e da Reforma Agrária para os colonizadores. Bastava acabar com a cultura dos índios (aculturação), desocupar suas terras, matá-los e escravizá-los. Para engrossar o “exército” de escravos, tentaram colocar a imensidão da África em terras brasileiras, numa matança imperdoável, desumana.

Tudo isso foi possível a partir da ideia de que há raças e povos superiores e outros inferiores. Isso era tratado nos decretos e nos livros. Sim, a eugenia era científica e arraigada às políticas públicas.

É impressionante como a eugenia ainda se manifesta, com supostos elementos “científicos”. Por meio da ciência política, da ciência econômica, pelo desprezo em relação à classe trabalhadora e pelo desdém da pouca representatividade dos índios e negros nos cargos que envolvem maior influência no meio social. Essa dívida é histórica.

Basta observar como o movimento eugênico brasileiro, já no século XX, garantia à elite a sensação de estar melhorando o Brasil. Por isso, novamente, a Reforma Agrária aconteceu, desta vez para os brancos europeus que para cá vieram. Afinal de contas, o que fazer com tantas negras e negros “libertos”, senão miscigená-los com brancos, para purificar a raça, como mostra a obra A Redenção de Cam? A eugenia travestia-se de sanitarismo e de regeneração racial.

Estes fatos não são desconhecidos, mas é preciso entender o que isso tem a ver com bater continência para a bandeira americana e aprovar a reforma da previdência.

Ora, o desprezo pela classe trabalhadora está cada vez mais forte. Os próprios cidadãos, empobrecidos diante do capital improdutivo que avoluma-se mundo afora, compraram o discurso de que não precisam do Estado. Felizes estão por terem um pai que cuidará deles, o Mercado Financeiro. Pai inescrupuloso, que por interesse próprio dirá ao filho que somente dele depende seu mérito e que falta de saúde e educação é algo que só os preguiçosos colhem. Este pai é aliado do Estado, mas trabalha em interesse próprio, mediado pelos títulos da dívida pública.

Perder a referência de nação (vangloriando outras culturas) e negar a nossa história (violenta e inescrupulosa) permite à “nossa” classe política (masculina e branca) favorecer a recolonização do Brasil, sob as vestes de modernizarmos as práticas e contribuirmos para o crescimento do bolo que, futuramente, será dividido (não sabemos ainda que tipo de bolo é esse).

Temos bagagem histórica e cultural para refletir as causas da esposa do “Didi” incomodar-se tanto pelo fato do aeroporto estar cheio de pessoas “mal vestidas”, parecendo uma rodoviária?

Com esta reforma, os problemas dela estarão resolvidos, os pobres deixarão de frequentar locais onde a classe média alta e outras classes daí pra cima, frequentam. Nos estacionamentos não haverá mais carros de pobre e carros de rico, apenas carros dos que têm condições de mantê-los, numa depreciação da necessidade de transporte público para todos… afinal de contas, misturar as classes e raças num transporte público deve ser incômodo para os que mereceram nascer numa família sem dificuldades financeiras, ou que “venceram” na vida.

O empobrecimento da população irá aumentar a distância entre as classes sociais e esta Reforma da Previdência contribui para isso. Fará o “serviço sujo” que os eugenistas gostariam, deixando a “Deus dará” deficientes, acidentados e indivíduos com distúrbios incapacitantes; prejudicará a saúde das trabalhadoras e trabalhadores mais pobres que irão expor seus corpos a trabalhos extenuantes e mortes ainda mais precoces do que aquelas causadas pela falta de acesso a serviços em saúde de qualidade; fará dos idosos desempregados em busca de migalhas para compor a parca aposentadoria.

Somente o esclarecimento e a organização em torno dos direitos sociais poderá prevenir que uma população fragilizada pelas políticas públicas, ora em implantação, à beira do caos, seja presa fácil e esteja condenada a viver em um país que poderá se consolidar como quintal (hortinha) dos países mais ricos e a eugenia acompanha esse “combo”, dando à classe rica e branca a sensação de estar vivendo em uma Dubai, com todo glamour que as ilhas de consumo proporcionam. Se nada for feito, enfim, Cam será redimido.


Imagem de destaque: Lula Marques

http://www.otc-certified-store.com/women-s-health-medicine-usa.html https://www.zp-pdl.com https://zp-pdl.com/get-a-next-business-day-payday-loan.php

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *