Racista? Eu?
Jacqueline Caixeta
Ah, como me irrita pessoas que vivem tendo atitudes racistas e não se identificam como racistas! É cruel fingir que não é racista, tanto quanto ser. Absurdos diários são vivências que tentam esconder o racismo mascarados em brincadeiras sem maldades.
Ora bolas, se na época de seus avós eram permitidas “brincadeiras” com as pessoas diminuindo-as pela cor de sua pele, hoje isso tem nome: Racismos; e é crime! Não dá mais para fingir que estava brincando, zoando, e continuar a cometer um crime contra pessoas.
É triste presenciar crianças pequenas que trazem de suas casas comportamentos racistas, que não querem se misturar com aquele coleguinha que é preto. Isso é crueldade, sabiam? Se uma criança se nega a brincar com outra porque a cor da sua pele não é igual a dela, com certeza absoluta esta criança está apenas refletindo na escola um preconceito escancarado que vive em casa. As crianças aprendem apenas observando, não adianta o pai ou a mãe dizer que não são racistas e, perante pessoas negras, terem comportamentos que indicam a exclusão. Quando chamamos para conversar, logo dizem: Nossa, como assim? Falo tanto para o meu filho que não podemos cometer preconceitos. Pois é, falam, mas esquecem de viver a fala em suas ações em que são observados pelos filhos. É muita hipocrisia!
Quando na adolescência encontramos alguém com posturas racistas, o papo é bem reto! Não podemos deixar que tenham ações criminosas. Uma vez um pai disse que não podemos ser tão duros assim, falar de crime, uma palavra tão pesada, para adolescentes tão novos. O adolescente em questão tinha 17 anos de idade e cometeu um ato racista com o colega. Perguntei para o pai quando é que ele falou sobre tais questões para o filho, quando é que conversou claramente sobre não só racismos, mas também respeito. Ele me disse que sempre. Então, o problema ficou maior meus caros leitores e tive que dizer ao pai que, se de fato tinha sido “bem educado” por sua família e ainda estava tendo um comportamento daquele, a questão era mais grave, se tratava sim, de desvio de caráter e, a maioridade já estava batendo à porta dele e a palavra “pesada”, em breve seria, infelizmente, algo que ele teria que resolver com a justiça. Lógico que o pai preferiu voltar atrás e dizer que o filho estava apenas “brincando” com o colega.
E é assim, foi assim, e, se não gritarmos bem alto, continuará sendo assim: apenas uma brincadeira.
Brincadeira coisa nenhuma! É desumano diminuir o outro por causa da cor de sua pele. É cruel, ilegal e imoral, agir desta maneira. Precisamos enquanto escola, fazer a nossa parte em todos os sentidos, educando, esclarecendo e punindo, dentro de nossos regimentos escolares, mas punindo sim, porque a escola é apenas uma mostra do que acontece nessa sociedade e se não partir de nós, de nossas salas de aula, questões de educação contra qualquer tipo de violência, de crime, de exclusão, de preconceitos, pouco estaremos fazendo para a construção de um mundo melhor.
Não dá pra ficar apenas no discurso e na hipocrisia que desfila nosso agir, esbarrando sempre na formação que vem de casa, se não formos nós, escola, a quebrar as algemas da eterna escravidão das pessoas pretas, quem o fará? Se não formos nós, escola, a virar a mesa e não permitir que atos racistas desfilem mascarados de brincadeirinhas, quem o fará?
Se não formos nós, escola, a chamar na responsabilidade pais racistas e alertá-los que o que estão ensinando aos filhos de maneira camuflada, mas ensinando sim, é um crime, quem o fará?
Ah, quanta responsabilidade trazemos dentro de nossos currículos, quantas lutas ainda travamos contra um mundo de preconceitos e discriminações. A cada ato de racismo que presencio, é uma batalha que perco enquanto educadora. Dói, é como cutucar uma ferida aberta, saber que ainda existem tantos racistas em nossa sociedade. É vergonhoso lidar com situações de racismo em um espaço tão bonito e cheio de diversidade como é a escola e pior, quando descobrimos que ainda somos pequenos demais, porque ainda tem muita gente idiota no mundo.
Mas não podemos desistir, nunca. A escola tem seu papel social e político e a obrigação de trazer questões tão sérias e urgentes para suas pautas diárias. Somos educadores inquietos, que nos incomodamos com as injustiças e lutamos bravamente para que desapareçam, para que não usem os canteiros de uma escola para se reproduzirem. Por isso, toda vez que eu for discutir um ato racista com uma família, seja ela de criança ou adolescente, não vou evitar a palavra crime, não vou ser hipócrita e fingir que tá tudo bem, que foi só uma brincadeira. Racista tem que ser punido, se está na escola, dentro das regras da escola, se está fora dela, com cadeia!
Com afeto,
Jacqueline Caixeta