Viagem à Idade Média em 2019: o avanço do obscurantismo e a importância da diversidade de pensamento

Tiago Tristão Artero

Ao contrário do que Tábata falou, de que a polarização ideológica coloca em risco nossa democracia, afirmo que a diversidade de pensamento é fundamental. Se considerarmos o termo ideologia como uma linha de pensamento desprovida de razão e análise crítica, em qualquer situação, ela é nefasta. No entanto, grosso modo, se entendermos que ideologia refere-se a um conjunto de saberes, perceberemos que a diversidade de pensamento é imprescindível para o fortalecimento da democracia.

Quando Damares comentou que a igreja evangélica deixou a teoria da evolução entrar nas escolas e que os cientistas acabaram tomando conta da ciência, muitos fizeram do fato uma chacota. Mais do que achar graça, a situação é muito mais grave, o ambiente que se mostra é de intimidação e ataque obscurantista.

É preciso parar de achar engraçado declarações desprovidas de embasamento científico. Neste caso, sim, ideologia encaixa-se na crença cega em determinada ideia ou visão de mundo. A ideologia baseada em conhecimento falso (ou fakenews), na negação da ciência e no ataque aos promotores da ciência (professores, pesquisadores e cientistas) vai contra o rigor do ensino escolar no processo de ensino-aprendizagem. As políticas e declarações atuais por parte dos que estão na situação convergem neste sentido, a notar os cortes e prejuízos no financiamento das pesquisas.

Nomear integrantes no serviço público tendo por base preceitos estritamente ideológicos reflete a negação do conhecimento relativo à área na qual atuarão. A educação, se considerada em um palco de disputas por projetos de sociedade, está sujeita a influências das mais diversas, no entanto, não pode-se negar seu compromisso com a ciência, com o conhecimento e desenvolvimento social. Dizer que a igreja perdeu espaço para a ciência e que a oportunidade da igreja dominar a ciência foi perdida (e, nesse sentido, precisa ser recuperada, segundo Damares) aponta um retrocesso gigantesco. Parece que estamos na Idade Média.

Aos interessados no domínio obscurantista em relação aos setores da sociedade, o esforço em retornar ao método de padronizar o pensamento popular, disciplinando-o, parece estar cada vez mais vivaz nos tempos atuais. Líderes políticos negam o aquecimento global a fim de explorar inescrupulosamente a natureza, de maneira insustentável; líderes religiosos transformam teatros e cinemas em igrejas; indivíduos com grande poder econômico engajam-se em ações que facilitam a obtenção de lucro, independente das consequências à vida humana e à natureza.

Hoje, não raro, notamos filmes com títulos religiosos em grande quantidade nos cinemas, representantes ditos cristãos que aproximam-se de grupos vulneráveis (e, até mesmo, de aldeias indígenas) a fim de “salvá-los”, escolas sentindo-se autorizadas a inserirem atividades religiosas em suas práticas (mesmo o ensino sendo laico) e docentes se autocensurando ou sendo censurados pelo restante da comunidade escolar.

Os sinais de que o obscurantismo avança e deve ser objeto de estudo estão expostos. Quando os produtores da arte e do conhecimento sentem-se desautorizados a realizarem suas práticas, notamos raciocínios como os da ministra em voga. Tudo que incomoda o projeto de poder e de sociedade da extrema direita deve ser modificado, destruído ou extirpado, conforme próprias palavras de seus representantes. Aos poucos, vemos o teatro, o cinema, a pintura, os debates sobre políticas públicas e, pasmem, até mesmo práticas como a capoeira rechearem-se de moralismo e de assassinato cultural. A capoeira, a título de exemplo, com o passar do tempo, perde seu marco temporal, seu lastro histórico e, em alguns anos, poucos vão lembrar de suas origens e do movimento contra hegemônico que ela representa(va)… conhecerão somente a “capoeira gospel”.

Desta forma, a título de síntese, dizemos que os interessados pelo obscurantismo são muitos, dentre eles os que querem a exploração da Amazônia e do Pantanal, os que ignoram a sustentabilidade ambiental, os moralistas e alguns grupos de militares e religiosos revisionistas (sedentos por mudanças nos livros didáticos). De maneira geral, são contra a ciência, pois esta indica caminhos diversos do que a cega ideologia aponta, são contra o desenvolvimento da cultura e a humanização das relações humanas (distinta do modelo apontado de forma idealizada pelas igrejas).

Lutemos por iluminar o pensamento humano.


Imagem de destaque:  Quinten de Graaf /Unsplash

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