“Uma pessoa que sabe ler e escrever”

Dalvit Greiner

 

“Não vota no PT”, disse o atual ministro da educação. E ele tem razão. Agora ando dando razão para tudo o que a turma do Bolsonaro fala. Faço como alguns evangélicos usando a Bíblia: pego só o que interessa para construir uma mensagem de dominação. Ou seja, eles não mentem: está tudo lá na Bíblia. É tudo uma questão de cortar e colar aquilo que você quer. Então, o ministro da educação tem razão: “uma pessoa que sabe ler e escrever não vota no PT”. A pergunta que me faço é: que pessoa é esta?

Mas, o que esse ministro quis dizer com isso? Ser alfabetizado não significa ser letrado. Muitas vezes, as pessoas passam pela escola e não se letram. Alfabetizam, mas não se letram. Temos, sim vários problemas tanto no processo educativo quanto na organização e financiamento da escola que não permite aos professores e professoras atacarem o problema na sua raiz, na sua radicalidade. Programas que poderiam enfrentar o problema da leitura – e consequentemente da escrita – nunca são gestados e colocados em prática. Os governos, em geral, impedem que uma pessoa saiba ler e escrever na sua integralidade. Que tenha uma visão de mundo ampla, geral, irrestrita e crítica.

A ideia de transformar o livro num item da cesta básica para que o trabalhador e sua família possam formar uma pequena biblioteca em casa não vingou. A pouco, quando a barriga já estava cheia por causa do PT, a Ação da Cidadania promovia campanha para arrecadar brinquedos e livros. Hoje, voltou-se, novamente, para a comida. Não dá para priorizar o livro quando a barriga está doendo de fome.

Em Belo Horizonte existe um programa de Biblioteca Escolar que o governo Kalil insiste em desmantelar. As crianças e adolescentes já não vem recebendo livros na quantidade ideal. Não me lembro de algo similar enquanto política pública educacional no Estado de Minas Gerais ou dos atuais governos federais.

Se não é pela via escolar, enquanto há algum vínculo do cidadão com a escola, não se faz nada que o incentive à leitura. Feiras de livros não levam trabalhadores à leitura. Livros físicos não são disponibilizados para as pessoas que querem ler. Nossas bibliotecas ficam distantes dos locais de trabalho. O acesso à internet e tablets não formam leitores. Afirmo tudo isso após conversar com meus estudantes da Educação de Jovens e Adultos. Em suma: nosso nível de escrita e leitura poderia ser muito melhor caso nossos governantes insistissem nisso de forma concreta.

Mas, nada disso impede que as pessoas saibam ler o mundo. Claro que tenho consciência que um leitor de letras tem um mundo mais amplo. Não nego e desejo isso a todos.

Porém, o nosso (e)leitor do PT, que o ministro afirma pode não ser um leitor escolarizado, sente na pele a política econômica de qualquer governo; sente na pele a política de segurança de qualquer governo; sente no corpo a política de saúde de qualquer governo. Sente no seu entendimento a política de educação a qual teria direito e não teve. Essa leitura de mundo que precede a leitura da escrita de qualquer operário, sem-terra, sem-teto, dona-de-casa, trabalhador da construção civil, motorista de ônibus ou caminhão, todo e qualquer trabalhador tem porque sente na pele. Não é estatística.

Na outra ponta, escolarizados sem educação, com uma leitura de mundo de um ponto de vista chauvinista (isso é tão anos 1970) e obtuso, de fato, creio, não votam no PT. Tal pessoa domina o alfabeto – sabe ler e escrever -, mas, não domina o mundo. Não é letrado, pois com um mínimo de letramento é impossível não perceber que tal ministro não entende de educação.


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