Um intervalo saudosista na sala dos professores

Ivane Laurete Perotti

As pessoas precisam de três coisas: prudência no ânimo,
silêncio na língua e vergonha na cara. (Sócrates)

Após as tormentas do verbo, as barricadas da liberdade alcançam as frases. Mais uma madrugada de lamentos não ouvidos varrem os fatos para debaixo do tapete puído, da cama sem lastro e da janela sem vidro. Houve um tempo em que uma canção levava o nome da música na moldura da pauta: quadros de vozes e instrumentos a favor da esperança. Houve um tempo em que sonhar não era um evento psiquiátrico e valia dizer por onde andava a vontade de fazer da felicidade um momento real – mesmo que por míseros segundos de volátil solidez. Houve um tempo em que os heróis plantavam e colhiam a luta diária de manterem-se em pé sobre as dificuldades da própria história. Houve um tempo em que a história não era o resultado de tantos e tão portentosos jogos de manipulação: teoria da conspiração? Teoria da exterminação!

Então, o que deu errado? Não sei. Parece justo e sábio argumentar em legalizado estado de negação; mas, envergonho-me pela desconfiança em sabê-lo, posto conviver com os retorcidos acontecimentos cuja ignorância alimentada pelo desespero transforma-nos em joguetes de pouca monta. Assim foi e assim será…, disse-me a colega sentada na ponta da grande mesa na sala dos professores. Não aceito! e tem início uma controversa e saudosista conversa entre os professores de plantão. Que encontras de mais humano? Poupar a vergonha de alguém! (Friedrich Nietzsche).

Sinto vergonha alheia. Assumo sentí-la em minha pele, em meus olhos e na alma que teima habitar-me por tempo indeterminado. Sinto vergonha por desconhecer a medida interna de minha indignação e a manifestação externa de meu descompasso. Sinto vergonha acompanhada de uma dor sem nome, algo que teima lembrar-me que ser heroico não prescinde de largos movimentos, que somos todos, absolutamente todos perecíveis: esta é a palavra deslocada na frase das tormentas. Escolho-a com dedos tortos: p-e-r-e-c-í-v-e-i-s! Somos falhos, certo. Mas a epidemia não é a Dengue, o vírus Zyka, a Chicungunya, que dão graves sinais de retorno. A epidemia é a política de desvalidação da humanidade.

Afirma um colega:… somos zumbis da dignidade, homens sem vergonha na face – face? sem vergonha na cara, na alma, nos olhoscorremos para o podium da descaração, do descaso, da brutalidade gratuita, da lei do mais rápido.

Interrompe em alta voz outro colega professor sentado na cabeceira oposta da mesa: Essa é a lei da natureza: sobrevive o mais forteao fogo, os demais!.

Ao fogo do esquecimento, ao fogo do descuido, ao fogo do demérito, ao fogo da humilhação: à morte por ausência de cultura, educação, alimentos da alma gentil.

Talvez a natureza tenha leis inflexíveis por conta do universo no qual precedem a existência das coisas e a sucessão dos seres! Mas, aos animais selvagens ainda há o crédito da irracionalidade.  Ainda, posto estarem a sinalizar a evolução de sentimentos e emoções que em nós rareia e desaparece. Sinto vergonha. Morre em mim a vontade poética de salvar este texto da desgraça verbal.   Às barricadas da verdade, que não se descubram obstruídas pelos pontos e vírgulas, eternamente presentes nas histórias que têm dois lados: dois? Penso na matemática das ilusões e imagino a tal “nova” escola privatizada que parece agradar a tantos. Sem palavras. Para a escuridão de um único texto, basta começar por onde termino: morre em penúria o povo deste país de lobos esfomeados. Peço desculpas retóricas aos Canis lupus, naturalmente fora do espectro desta metáfora triste!

O que deu errado?


Imagem de destaque: @akshar_dave

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