Tragédias brasileiras: Não é de educação que precisamos!

As elites brasileiras, sempre que confrontadas com as nossas imensas desigualdades, são  pródigas e rápidas em apontar a causa fundamental desse estado de coisas: a falta de educação. Primeiro, até meados do século XX, o problema era que faltava educação. Hoje, é que falta educação de qualidade. Esse argumento, apesar de reconhecidamente simplório, é incorporado e divulgado pelas mídias e por muitos profissionais tendo como efeito fundamental de postergar, para um futuro incerto, a necessidade de políticas e programas efetivos de combate às desigualdades. É por isso que, não poucas pessoas, são favoráveis a uma educação de qualidade para todos, mas absolutamente contrários às políticas sociais e de transferência de renda, por exemplo.

Mas, como já se disse aqui, à falta de educação é debitada muitas de nossas mazelas: a violência, o autoritarismo, a criminalidade, a falta de saúde, de moradia. No entanto, a ideia da educação como solução para todos os nossos problemas é contraditada cotidianamente pelos comportamentos de parte de nossas elites, ou seja, da parcela mais escolarizada da população brasileira.

Nos últimos dias, tivemos a oportunidade de acompanhar as reações de nossas elites a dois acontecimentos trágicos ocorridos no Brasil: o ataque a tiros ao acampamento dos(as) apoiadores de Lula, em Curitiba, e o desabamento de um edifício em chamas, ocupado por famílias pobres, em São Paulo.  No primeiro caso, houve um silêncio ensurdecedor dos veículos de comunicação tradicionais e dos(as) apoiadores(as) do, como se este não estivesse colocando em causa, mais uma vez, os pilares da democracia e do Estado de Direito no país. A falta de condenação veemente e a leniência da apuração das responsabilidades põe o país, mais uma vez, a mercê das barbáries praticadas pelos movimentos fascistas, que a cada dia ocupam mais e mais espaço na sociedade brasileira.

Do mesmo modo, as reações dos políticos e da imprensa em relação à tragédia ocorrida em São Paulo demonstram, mais uma vez, a artimanha de culpar os pobres por sua pobreza e, logo, pelas tragédias que os atingem. De forma automática o ex-prefeito de São Paulo e pré candidato a governador, João Dória, acionou o artifício: a ocupação era irregular, a prefeitura não conseguiu fazer a desocupação, logo, não tem responsabilidade pelo ocorrido.  A imprensa que apoiou e apoia o golpe, de um modo geral, foi na mesma onda. Para esses sujeitos não há nenhuma relação entre a falta de programas robustos e eficientes de garantia do direito à moradia e a tragédia ocorrida. É como se os(as) moradores(as) do edifício que desabou tivessem preferido ou  optado por viver em condições de insegurança e precariedade.

 As reações a estes acontecimentos mostram o quanto parte significativa de nossas elites, dos que ocupam cargos políticos ou nos meios de comunicação, são insensíveis às tragédias que se abatem sobre os outros, sejam estes os seus adversários políticos ou a imensa população pobre que jamais foi incluída, de fato, na sociedade brasileira. A falta de empatia de quem deveria representar a população com o destino dos “outros” é, por si só, uma forma de violência. Ao mesmo tempo, essa falta de empatia autoriza o uso da violência, simbólica e física como forma de contenção destes mesmos “outros” que insistem em se fazer presentes no espaço social.

Diante dessas tragédias, não é de educação para um futuro promissor que precisamos. Precisamos, aqui e agora, de um Estado que funcione para a garantia de direitos, e não para a sua destruição. De instituições que garantam a igualdade formal diante da lei e que acione mecanismos para que tal igualdade ultrapasse os umbrais da formalidade. De lideranças políticas que tenham empatia pelo sofrimento alheio e combatam firmemente toda e qualquer violência praticada contra qualquer grupo social ou político. Certamente quando tivermos isso, teremos uma educação de melhor qualidade para todos e todas, como merecemos!


Imagem de destaque: Tânia Rêgo/Agência Brasil

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