Série: Golpe da coalizão PiG/PBBB no Brasil (2016) em diálogo com O 18 Brumário de Luís Bonarparte (1852) – exclusivo

Texto 2. O papel do Partido da Imprensa Golpista

Matheus da Cruz e Zica

 

Esse texto é o segundo da Série: Golpe da coalizão PiG /PBBB  no Brasil (2016), em diálogo com O 18 Brumário de Luís Bonarparte (1852), composta de 4 artigos independentes entre si, mas conectados em suas temáticas. Por PiGestamos entendendo, em conjunto com Paulo Henrique Amorim: “Partido da Imprensa Golpista, composto de O Globo, Folha, Estadão e seus subprodutos. A Abril não é propriamente do PiG, porque a “aristocracia” do PiG jamais aceitou os judeus italianos da Abril em seus salões. A Abril e a Veja se incorporavam ao PiG por interesse. E pelos mesmos interesses eram aceitos, desde que ficassem na cozinha” (Cf. O Quarto Poder: uma outra história. São Paulo: Hedra, 2015). Por PBBB estamos entendendo, em conjunto com Marilena Chauí: “Partido do Boi, da Bala e da Bíblia”. Com tal sigla a filósofa brasileira se refere à pauta conservadora que tem sido defendida em bloco por um conjunto de latifundiários do agronegócio (Boi), por setores policiais, militares e jurídicos (Bala), e, por fim, por uma boa parcela de evangélicos que elegem seus pastores para assumirem cargos públicos e políticos (Bíblia).

No primeiro artigo tentamos nos aproximar das circunstâncias que marcaram a instalação factual do golpe no Brasil em 2016, particularmente a emblemática reunião na Câmara dos Deputados do fatídico Domingo de 17/04 desse ano, ocasião em que foi votada a abertura do processo de impeachment da Presidenta democraticamente eleita, Dilma Roussef. Nesse segundo texto pretendemos trazer o foco para outro importante elemento dessa conjuntura: o papel da grande mídia brasileira nos momentos que antecederam o golpe, preparando o terreno mental dos brasileiros, para aceitarem tal procedimento forjando-o como um passo legítimo, inclusive contra toda a também tendenciosa imprensa internacional que nesse caso específico não se atreveu a apoiá-lo.

Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa. (O 18 Brumário de Luís Bonaparte, p.7)

E não se poderia ter adicionado naquela ocasião que pela terceira vez viria como hipocrisia consensual político-midiática, que foi a forma do golpe de 2016 num país ainda existente chamado Brasil. É sempre bom lembrar que um dos fatores mais importantes para a construção midiática de uma pseudo-legitimidade para um ainda possível golpe, desde a reeleição da Presidenta Dilma, em 2014, foi a velha confusão entre economia e política.

Nos idos do Século XIX, mais especificamente no início da década de 1850, um pouco antes do momento em que a França assistiu a um golpe de estado:

A burguesia francesa atribuía a paralisação do comércio a causas puramente políticas (…). Não negarei que todas essas circunstâncias exerciam um efeito deprimente em alguns ramos da indústria de Paris e dos departamentos. Essa influência das condições políticas, contudo, era apenas local e sem importância. Será necessária outra prova disso além do fato de que a melhora do comércio produziu-se em meados de outubro [1851], no momento preciso em que a situação política agravou-se, o horizonte político escureceu, e esperava-se a qualquer momento que caísse um raio do Eliseu? Quanto ao mais, o burguês francês, cuja ‘habilidade, conhecimento, intuição espiritual e recursos intelectuais’ não ia além do próprio apêndice nasal, podia ter encontrado a causa de sua miséria comercial, durante todo o período da Exposição Industrial de Londres, diretamente diante do nariz. Enquanto na França as fábricas fechavam, na Inglaterra ocorriam falências comerciais. (…) A única diferença era que na França a crise era industrial, ao passo que na Inglaterra era comercial. (…) A causa comum que, naturalmente, não deve ser procurada dentro dos limites do horizonte político francês, era evidente. (O 18 Brumário de Luís Bonaparte, p.65 – Ênfase adicionada)

Mas e quando boa parte da mídia reforça a concepção perversa de que crises econômicas são exclusivamente atreladas a motivações políticas, e mais, a motivações políticas internas, conforme fez a Globo e sua rede integrada (Folha de São Paulo, Estadão, Veja, CBN, Isto é, etc. etc.. etc… etc…..) durante o período que correu entre a reeleição de Dilma em finais de 2014 até o desencadeamento do processo de impeachment, no primeiro semestre de 2016? Fizeram um trabalho maçante de fixação da ideia de que o modelo de governo da presidenta Dilma e do PT eram os responsáveis pela crise econômica que agora assolava o Brasil. Não mencionavam o fato de que uma crise econômica mundial já pairava em países do eixo norte e sul, do eixo oriente e ocidente, e que mais cedo ou mais tarde essa bolha iria também estourar em solo brasileiro. O resultado é próximo do que vimos na França da metade do século XIX:

“Imaginai agora o burguês francês, o seu cérebro comercialmente enfermo, torturado na agonia desse pânico comercial, girando estonteado pelos boatos de golpes de Estado e de restauração do sufrágio universal, pela luta entre o Parlamento e o Poder Executivo, pela guerra da Fronda entre orleanistas e legitimistas, pelas conspirações comunistas no sul da França, pelas supostas Jacqueries nos departamentos de Nièvre e Cher, pela propaganda de diversos candidatos à presidência, pelas palavras de ordem dos jornais que lembravam os pregões de vendedores ambulantes, pelas ameaças dos republicanos de defender a Constituição e o sufrágio universal de armas na mão, pela pregação dos emigrados heróis in partibus, que anunciavam que o mundo se acabaria no segundo domingo de maio de 1852 – pensai em tudo isso e compreendeis a razão pela qual em meio a essa incrível e estrepitosa confusão de revisão, fusão, prorrogação, Constituição, conspiração, usurpação e Revolução, o burguês berra furiosamente para a sua república parlamentar: ‘Antes um fim com terror, do que um terror sem fim!’ Bonaparte compreendeu esse grito.” (O 18 Brumário de Luís Bonaparte, p.66)

No nosso caso, o criminoso do Eduardo Cunha (PMDB) foi quem compreendeu esse grito… Por essa via adentramos na crítica ao que consideramos ter sido um erro crasso do PT: perder o momento de acirrar o conflito de perspectivas, aprofundar as conquistas democráticas que apenas esboçaram e enfrentar os reais problemas do Brasil, como é o caso da Rede Globo, por exemplo. Empresa midiática Globo, entendida aqui como um real e enorme problema do Brasil. Em vez de desmascará-la no momento certo, Dilma, assim que foi eleita pela primeira vez em 2010, foi fazer uma omelete no programa de Ana Maria Braga, em 01/03/2011. Ao vivo, a bendita omelete sintomaticamente não deu certo e o fato ficou por isso mesmo.

Agora Dilma sofre a punhalada da própria madame Globo. Punhalada que poderia (e deveria) ter sido dada pela própria Presidenta em momento oportuno. Na verdade há bastante culpa de Lula nesse caso, pois durante seu governo a questão da concessão pública para o canal Globo já deveria ter sido suspensa e o próprio sistema de comunicação de massa totalmente rearranjado no Brasil. Podemos afirmar que a presidência do PT, com Lula ou com Dilma, durante 14 anos: “Não ousou enfrentar o conflito no momento em que este tem uma significação do ponto de vista de princípio (…)” (O 18 Brumário de Luís Bonaparte, p.49).

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