Quando conheci Marielle Franco…

Otavio Henrique Ferreira da Silva*

No ano passado estava lecionando as disciplinas de Matemática e Diversidade, Inclusão e Mercado de Trabalho, na Rede Estadual de Educação de MG. Para essa segunda disciplina, tínhamos que realizar aulas diferenciadas abordando temas transversais. Logo, um dos temas centrais que costumo trabalhar são as relações raciais no mundo contemporâneo. Em um primeiro momento, os estudantes da EJA realizaram análise de dados do Censo IBGE (2010) com enfoque para as questões de cor/raça, como mercado de trabalho, escolaridade, população e outros. Num segundo momento as discussões giraram entorno de três textos base sobre diferentes situações e experiências de racismo no Brasil.

Um dos textos escolhidos falava sobre o caso de uma vereadora que sofreu racismo no aeroporto de Brasília. Pois é, era ela. Aquele foi nosso primeiro encontro com Marielle. O texto escrito pela jornalista Marina Navarro Lins, do jornal Extra, fazia uma breve análise da denuncia feita nas redes sociais pela vereadora. Para muitos daqueles estudantes da EJA, discutir racismo era algo novo, mas participaram muito bem das discussões. Ao ouvirem a experiência de Marielle, lembro que muitos se identificavam com as palavras dela e com sua representação social. Talvez algumas pessoas desinformadas ou mal esclarecidas podem pensar e/ou perguntar: “O quê que uma vereadora do Rio de Janeiro tem haver com a gente? E o que tem haver comigo?”

Pois é, tem muito haver! Em um país com mais da metade da população negra, Marielle é uma heroína e, mais do que nunca, mártir da resistência para esse povo, pois mulheres e negros ocupam menos de 10% (cada representação) dos cargos políticos nas casas legislativas brasileiras, seja nos municípios, estados ou na Câmara dos Deputados. Marielle, assim como grande parte das mulheres brasileiras, é mulher negra, mãe, é da favela, chefe de família, precisou trabalhar duro para conquistar o seu espaço na sociedade. Marielle, usava as redes sociais para educar o seu povo, para denunciar aquilo que muitas pessoas sofrem caladamente, sem coragem de reagir, com medo das consequências.

Marielle mais do que nunca precisa ser conhecida por todos, pelas crianças, pelos jovens, pelas mulheres, pelos negros, e por aqueles que pouco se importam com quem somos, de onde viemos e quem Marielle representa. Marielle, Marielles, Marias, Dandara, merecem respeito. Nenhuma a menos! Daquilo que conheci de Marielle, deixarei aqui, o verso de suas palavras, que pedagogicamente deixaram aquela aula sobre racismo com a galera da EJA mais intensa e significativa: “Mas o fechamento estava por vir: até meu cabelo foi vasculhado […]! Tocaram na minha coroa. […] Sim, meu black incomoda. Minha negritude incomoda. Racismo: não passará!”.

Tocaram na sua coroa Marielle, mas você é nossa rainha. Resistiremos!

Obrigado, obrigado, obrigado!


*Doutorando em Educação (UFMG); Professor-tutor do Curso de Especialização em Educação Empreendedora (UFSJ); Professor Orientador de TCC (FUMEC); Professor Rede Municipal de Educação de Ibirité- Projeto Escola Cidadã

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