Prática docente interdisciplinar: articulando diferentes teorias, saberes e fazeres

Vagner Luciano de Andrade

 

Você já imaginou uma nova ordem socioambiental verdadeiramente empreendedora, inclusiva, interdisciplinar e sustentável? Pois é, os diversos desafios impostos pela contemporaneidade exigem cada vez mais dos indivíduos uma formação plena, integradora e sistêmica, que contemple não somente os aspectos educacional e profissional, mas também elementos primordiais no que se refere à essência humana. Neste sentido, uma formação educacional plena deve perpassar por uma integração sistemática entre os aspectos ambiental, cultural e social que caracterizam a realidade vivenciada, independente de idade, credo, raça, condição física e/ou status socioeconômico, contribuindo assim efetivamente para a qualidade de vida e exercício da cidadania.

O mundo contemporâneo demanda muitas respostas, devido à ampliação de relações entre as áreas socioambiental, sociocultural e socioeducacional numa perspectiva de interligação e conexão. Objetivando contribuir para repensar e reformular a relação entre homem, cultura, sociedade e natureza, instituições do 1º setor (Setor público), 2º setor (Setor privado) e 3º setor (Sociedade Civil), tanto em áreas urbanas quanto rurais dos 27 Estados brasileiros, têm mudando suas perspectivas de atuação em busca de uma nova ordem social mais interdisciplinar, multidisciplinar e transdisciplinar. Assim, as eventuais temáticas que abordem inclusão, sustentabilidade, empreendedorismo e interdisciplinaridade são cada vez mais viabilizadas e operacionalizadas.

Imagem de Charles de Oliveira Fonseca (2010)

Destaca-se aqui a proposta de repensar o ensino. Não a partir de disciplinas, mas, sobretudo, na múltipla conexão continua entre elas, efetivando a interdisciplinaridade, a transdisciplinaridade e a multidisciplinaridade. Evidencia-se aqui um posicionamento contrário à compartimentação do conhecimento em esferas vazias e disciplinas sem conexão com a realidade, isto é, em sala de aula, formatado em horários de diferentes disciplinas, desarticuladas e desconexas. A sala de aula enquanto materialização do saber imaterializado somente abre exceção para o intervalo, que por sua vez aproxima alunos pela interação e intercâmbio. Neste contexto, se destacam as oito inteligências múltiplas, uma nova abordagem didático-pedagógica, proposta por Howard Gardner (1998) e citada por Linda Campbell (2000), que contribui para promover mudanças significativas no processo de aprendizagem dos alunos, desde o nível individual até o coletivo. São Inteligências múltiplas: a linguística, a lógico-matemática, a espacial, a corporal-cinestésica, a musical, a intrapessoal, a interpessoal e a naturalista.

Fonte: CEI – centro de Educação Integral

Numa concepção de multiplicidade, cita-se Wagner Rodrigues Valente (2003), para quem o trabalho de Chevallard é principal a referência para se discutir relações estabelecidas entre os saberes científicos e escolares. Yves Chevallard caracteriza os sistemas de saberes a serem ensinados como saberes científicos, saberes curriculares, saberes escolares e saberes cotidianos. Luz (2012) cita ainda Levon Boligian e Rosangela Dorin de Almeida (2003), que analisando a proposta de Chevallard entendem a transposição didática, como a articulação entre o saber científico (conhecimentos elaborados e aperfeiçoados na esfera da comunidade acadêmica ou científica, por meio de pesquisas e/ou reflexões teóricas, aferidos e comprovados como lógicos e verdadeiros por meio de métodos de investigação científicos e considerados como válidos e legítimos pela sociedade), o saber curricular (conhecimentos produzidos pelas pessoas do sistema de ensino e que, decidem “o que” e “como” estes devem ser adaptados e transpostos para a sala de aula) e o saber escolar (conhecimento que professores e alunos constroem no contrato didático, a relação saber/professor/aluno, assim como a inserção do saber ensinado, trazido pelos currículos e pelos livros didáticos, e do saber cotidiano). Para o autor, o conceito de transposição didática, designa a passagem do ser/estar no mundo, a partir do saber científico para o saber ensinado.

Compreende-se a partir de Mary Neiva Surdi da Luz em seu artigo intitulado “A didatização/pedagogização de saberes na formação inicial de professores de língua portuguesa”, publicado no ano de 2012, que “didatizar” é estabelecer uma relação constitutiva direta e indireta entre teoria e prática. A autora também trabalha a noção de transposição didática elaborada pelo matemático francês, Yves Chevallard do Institut Universitaire de Formation des Maîtres da l’Académie d’Aix-Marseille. Esse conceito, por sua vez define estratégias de recontextualização discursiva dos processos pedagógicos. De certa forma, sendo uma categoria cada vez mais trabalhada, a visita pedagógica é principalmente uma modalidade cada vez mais em ascensão na prática educativa contemporânea, didatizando o conhecimento de mundo e permitindo conexões entre a ciência e a realidade. Daquele passado pedagógico não restarão nem sombras, visto que educar é agregar e integrar atitudes, conceitos e procedimentos nas áreas de Artes, Cultura, Cidadania, Ecologia, Esportes, Ética, Geografia, História, Lazer, Literatura, Linguagem, Lógica, Religiosidade e Saúde. Na educação da atualidade, pautada numa perspectiva que integra Interdisciplinaridade, Transdisciplinaridade e Transversalidade, é preciso também ampliar e integrar.

Fotografia de Vagner Luciano de Andrade (2004)

PARA SABER MAIS

BOLIGIAN, L.; ALMEIDA, R. D. de. Transposição didática do conceito de território no ensino de geografia. In: GERARDI, L. H. de O. Ambientes: estudos de geografia. Rio Claro, SP: Programa de Pós-Graduação em Geografia – Unesp; Associação de Geografia Teorética – Ageteo, 2003. Disponível em: http://rc.unesp.br/igce/geografia/pos/downloads/2003/a_transposicao.pdf . Acesso em: 30 ago. 2010.

CAMPBELL, L.. Ensino e aprendizagem por meio das Inteligências Múltiplas. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000

LUZ, M.N. S. da. A didatização/pedagogização de saberes na formação inicial de professores de língua portuguesa. In: Letras, Santa Maria, v. 22, n. 44, p. 177-195, jan./jun. 2012. Disponível em https://periodicos.ufsm.br/letras/article/viewfile/12196/7590

VALENTE, W. R. Saber científico, saber escolar e suas relações: elementos para reflexão sobre a didática. Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v. 4, n. 10, p. 57-67, set./dez. 2003.

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