O que o massacre de Orlando na Florida ensina? – exclusivo

Pedro Castilho

Na madrugada do dia 12 de junho, 49 pessoas foram assassinadas na boate Pulse, na cidade de Orlando na Flórida. Aquilo que seria mais uma festa LGBTT se transformou em um massacre sanguinário que morreram pessoas que gostavam de comemorar à vida.O assassino de 29 anos que entrou na Pulse, estava armado de uma pistola 9 mm e de um fuzil semiautomático.Enquanto ele estava na boate, ligou para a polícia e, se declarou do Estado Islâmico. Por conta disto, as investigações, logo após a tragédia, apontavam para mais um ataque terrorista realizado pelo Estado Islâmico. No entanto, depois de algumas horas, o assassinato demonstrou- se mais pessoal do que uma reivindicação política terrorista. No mesmo dia da tragédia, soubemos que o assassino era homofóbico. O pai do assassino disse que seu filho falava com indignação e homofobia sobre qualquer manifestação homoerótica, depois de ter visto um casal de gay manifestar carinho alguns meses antes do assassinato na cidade de Miami. Como podemos compreender este fenômeno? Principalmente, se estiver vinculado a um conflito individual deste sujeito, que passa a ser projetado para um determinado grupo social. A psicanálise, talvez nos ofereça algum caminho para pensarmos a respeito desta questão se levarmos em consideração o conceito de Êxtimo. Êxtimo é um neologismo criado por Jacques Lacan para indicar algo do sujeito que lhe é mais íntimo, mas que está fora, no exterior. Trata-se de uma formulação paradoxal: aquilo que é interior, mais próximo, mais íntimo, está no exterior.

Lacan diz que aquilo com que ele vinha trabalhando “como sendo esse lugar central, essa exterioridade íntima, essa extimidade, que é a Coisa” (Lacan, 1959-60, p. 173). Está é a marca de um operador da estrutura, ponto de real onde o mais íntimo está lançado fora, no exterior, está é também a causa de angústia de cada sujeito. Desta maneira, com a psicanálise, podemos construir a ideia de que este sujeito não suportava aquilo que estava dentro dele e, o caminho que ele escolheu para não saber daquilo que o incomodava foi eliminar os outros que aceitavam aquilo que estavam dentro deles. A segregação vista a luz da psicanálise, nos convida a refletir sobre estas questões, não só os sujeitos que fazem escolhas homoeróticas são vítimas deste caráter êxtimo do comportamento do Outro, mas, também os negros, os índios, o louco, a criança, o menor em conflito com a lei, e outros sujeitos “estranhos”. Na contemporaneidade percebemos que as minorias acabam sendo vitima de um discurso segregacionista, tentativas de isolar e higienizar direitos adquiridos de grupos sociais mas, que são incompatíveis para um determinado grupo social suscitando sentimentos desconfortáveis para alguns sujeitos. Desta maneira, parece que a sociedade esta caminhando para dois caminhos possíveis, o caminho da intolerância e da não aceitação do Outro como diferente colocando cada um no seu quadrado ou o caminho da diversidade que cada sujeito será capaz de conviver com aquilo que é estranho nele mesmo. Bem vindo à contemporaneidade!

Pedro Castilho – Professor da Faculdade de Educação UFMG

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