O que faz um professor?

Laura Amato

Em março de 2020, tivemos a suspensão das aulas presenciais na rede municipal e estadual do Paraná. Nesse período, muitos decretos, nas mais diversas esferas, foram sancionados, assim como presenciamos acaloradas discussões na sociedade civil sobre o retorno ou não das aulas presenciais. Com o reconhecimento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a competência concorrente de estados, municípios e a União sobre o combate à COVID observam-se realidades diversas nas regiões e também dentro do próprio estado, isto é, pode ser que um município “A” do estado “X” não autorizou o retorno às aulas, mas o município “B”, há 20 km do município “A” tenha autorizado. Decisões essas que são circunstanciais e que tem como elementos decisórios questões políticas, comerciais, sanitárias, entre outras.

Contudo, muito do debate sobre o retorno ou não às aulas ficou centrado em uma velha discussão de redes sociais sobre o que os professores estão fazendo, se não estão dando aula?

Todos nós que já passamos pelos bancos escolares vimos os professores em um ambiente: a sala de aula. Sabemos também, enquanto alunos, que eles frequentam a sala dos professores nos intervalos. Mas o trabalho invisível, materializado naqueles minutos em frente à sala de aula, esse, quem não é docente, não conhece. 

Para a aula chegar pronta para o estudante, o professor volta a estudar. Ele precisa estudar para facilitar o acesso ao conteúdo, precisa conhecer sobre desenvolvimento cognitivo, teorias de ensino-aprendizagem, metodologias ativas, além disso, participa de capacitações e cursos constantes. Professor é um dos profissionais que, mesmo em seu tempo de lazer, está trabalhando. Qual professor nunca viu um filme ou leu um livro e pensou: “nossa, esse tema cabe direitinho no conteúdo que estou aplicando no 9ºano?”

O conteúdo programático não vem “mastigado”, ele é mediado pela preparação cuidadosa do professor. E mesmo que esse professor tenha cinco turmas de 6º ano, ele sabe que cada turma tem sua peculiaridade. Pense comigo: um vendedor está querendo vender um produto para 30 clientes ao mesmo tempo e falando a mesma coisa para todos. Será que ele terá sucesso? Será que todos os clientes vão comprar?

Agora além de estudar para preparar o conteúdo, o que o professor faz? Ele corrige e elabora atividades, dá respostas a seus alunos, participa de reuniões escolares, tanto de gestão quanto com pais. 

Essa é uma ínfima parte do trabalho invisível apresentado aqui, grosso modo. Com a pandemia o trabalho invisível não cessou, pelo contrário, há vários depoimentos sobre o aumento da carga horária de trabalho, com contatos diuturnos com pais e estudantes, em horários que ultrapassam o limite do estabelecido em sala de aula. Vimos professores respondendo turmas antes de dormir, aos sábados, domingos e feriados. Ademais, os professores tiveram que readaptar, a toque de caixa, todas as estratégias e metodologias do ensino presencial para o ensino remoto, novamente observando as características de seus alunos e o acesso que os mesmos possuem com tecnologias. 

E não sejamos ingênuos em pensar que todos os professores também têm acesso à tecnologias. Com salário base em média de R$2.557,00 para 40 horas/ semanais, muitos docentes não conseguem comprar um computador adequado, possuir uma internet rápida ou ter um lugar ergonômico para trabalhar. Então, o trabalho invisível, também chega a ser insalubre. E isso, ninguém vê.

Talvez precisamos mostrar cada vez mais que o trabalho do professor não se resume ao tempo que ele passa na frente dos alunos explicando conteúdo, mas que há um trabalho importante e de suporte que ninguém vê.


Imagem de destaque: PIXNIO

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